Em 1984, um barco de pesca naufragou no Atlântico Norte, próximo a Islândia. Em águas congelantes, os tripulantes tentaram, durante alguns poucos minutos, sobreviver à tragédia. Dos seis a bordo, apenas um conseguiu sair vivo. Baseado nesses fatos, Sobrevivente, longa pré-indicado na categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2013, retrata a vida de Gulli, o único marinheiro a escapar da morte nesta tragédia.
sobrevivente
O acidente em si não é o ponto de partida, nem o clímax para o filme do islandês Baltasar Kormákur (Contrabando). O cineasta retrata o acontecimento sem alarmismo ou espanto. É um acontecimento comum na vida dos pescadores. Se comparado a filmes como Mar em Fúria, Mar Aberto e outros semelhantes, Sobrevivente pode parecer simplório e lento. A força do longa está nos momentos de contemplação de seus personagens fora da tragédia.
De início, ele retrata o companherismo quase obrigatório entre os marinheiros - a dureza na vida deles e como amizade e trabalho se misturam em um ambiente hostil, pouco receptivo à interação. Nessa primeira meia hora, porém, com poucas falas, Kormákur consegue transmitir a personalidade de cada um dos tripulantes, sem estereotipa-los. Na morte de cada um não há drama exagerado. O ritmo segue o passo frio e calculista imposta pelo roteiro.
O contra ponto dessa toada é Gulli. Interpretado por Ólafur Darri Ólafsson como uma figura perseverante e sem carisma, o personagem carrega a frieza do ambiente onde está inserido, mas transmite sinceridade no desajuste social; seja com os amigos de barco ou com os de terra. A tragédia muda sua perspectiva de alguns pontos da vida, mas não o transforma em uma nova pessoa. Ao menos não no exterior. "Para mim é o suficiente", diz Gulli em certo momento.
Esse egoísmo peculiar do marinheiro dá o tom de toda a narrativa escolhida por Kormákur. Não há compaixão com o espectador e em nenhum momento o filme força a pieguice ou a emoção. Essa economia torna Sobrevivente um relato sincero e focado nas mudanças individuais causadas por uma situação até hoje tratada como irreal.
Ano: 2012
País: Islândia
Classificação: 14 anos
Duração: 95 min
Direção: Baltasar Kormákur
Elenco: Ólafur Darri Ólafsson, Jóhann G. Jóhannsson, Þorbjörg Helga Þorgilsdóttir, Theodór Júlíusson, María Sigurðardóttir, Björn Thors