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Sonata de Tóquio - Mostra SP 2008

Conhecido pelos filmes fantásticos, Kiyoshi Kurosawa se destaca com um drama

10.10.2008, às 12H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H41

A recessão está aí, alguns ganham, outros perdem. A China tende a ganhar. Quando escuta de seu chefe que a companhia japonesa em que trabalha vai se fundir com uma chinesa, o Sr. Sasaki (Yû Koyanagi), protagonista de Tokyo Sonata (2008), prefere pedir demissão a se rebaixar. É um homem orgulhoso, afinal - mas não o bastante para contar à sua família que perdeu o emprego.

Assim como em A Agenda (2001) e O Adversário (2002), estamos falando de um personagem que é o avesso de Bartleby, o escrivão do escritor Herman Melville: Bartleby se recusava a trabalhar mas seu chefe não conseguia demiti-lo, enquanto Sasaki, muito competente na função mecânica que executava, já não tem utilidade para ninguém. O vazio existencial os une. A particularidade de Tokyo Sonata é que na cultura japonesa esses "vazios existenciais" são menos tolerados.

O Sr. Sasaki está longe de cometer um seppuku, o honroso suicídio do Japão milenar. Pelo contrário, a falta de coragem para contar a verdade à esposa e aos filhos - ao mesmo tempo em que Sasaki tenta manter no grito alguma autoridade em casa - aos poucos vai destruindo a sua família. E nessa hora o diretor Kiyoshi Kurosawa (nenhum parentesco com aquele outro Kurosawa), nome cultuado do cinema fantástico e de horror, não economiza nas tintas.

As cores, no caso, são as do melodrama. O plano-sequência lateral que acompanha Sasaki tropeçando em montes de lixo, um depois do outro, é emblemático: não basta um tropeço, tem que ter vários. Como Tokyo Sonata levou o prêmio do júri da mostra Um Certain Regard do último Festival de Cannes, evidentemente há muita gente que se emociona com os exageros de Kurosawa.

Os exageros são uma escolha legítima. O que incomoda é a mudança de registro. Porque Tokyo Sonata vinha numa toada cronista e no clímax envereda pelo arbitrário.

No começo, Kurosawa mostra o anacronismo da tradição com inserções sutis: a mãe deixa a chuva entrar pela porta (é uma mulher disposta ao novo, enfim), mas há o respeito do jantar em que todos aguardam o pai terminar de tomar sua cerveja para só então se servirem. Para pontuar esse senso de mudança, as luzes do metrô refletem na sala de estar dos Sasaki.

Depois do terceiro ato de filme, porém, a sutileza fica para trás. Surge um dilema moral de telenovela (o pacote de dinheiro) e o episódio do ladrão e da perseguição ao amigo do filho são muito mal resolvidos. Claro que há em Tokyo Sonata muitos momentos de beleza (a luz que incide sobre os personagens, como nas fotos ao lado e também na cena da praia e no belo plano final do filme, é sublime), mas, infelizmente, num produto de um cineasta evidentemente perfeccionista como Kurosawa, os defeitos chamam mais atenção do que o normal.

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