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Crítica

A Sorte em Suas Mãos | Crítica

Daniel Burman faz seu filme mais fácil, num momento difícil

22.08.2013, às 18H17.
Atualizada em 18.11.2016, ÀS 18H02

Cineasta argentino da atual geração que mais tem filmes lançados no Brasil, de Esperando o Messias (2000) e O Abraço Partido (2004) a Ninho Vazio (2008) e Dois Irmãos (2010), Daniel Burman realizou seu longa mais recente, A Sorte em Suas Mãos (2012), com coprodução brasileira e apoio da Ancine. Seu cinema continua, porém, profundamente portenho.

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Se há uma mudança, é primeiro no tom, que não deixa a melancolia de lado mas se aproxima um pouco da comédia romântica. Em sua estreia como ator, o músico uruguaio Jorge Drexler interpreta Uriel, divorciado e pai de dois filhos, que viaja a Rosario para um torneio de pôquer, seu hobby, e para fazer uma operação de vasectomia. Lá ele reencontra Gloria (Valeria Bertuccelli, de Um Namorado para Minha Esposa), ex-namorada que desperta os instintos monogâmicos que o galinha Uriel imaginava ter superado.

O que há de mais portenho no cinema de Burman, o sentido de coletividade, a partir da comunidade judaica da capital, que pode ser ao mesmo tempo claustrofóbico e acolhedor, continua igual. Assim como em As Leis de Família e os demais longas do diretor, temos filhos que lutam com o peso da herança e da cobrança comunitária: Uriel trabalha na financeira que era de seu pai, "um homem de muitos amigos", e Gloria, que mal se comunica com a mãe (que ironicamente é radialista), reavalia sua vida a partir do momento em que fica órfã do pai.

O peso da História, que para Burman se confunde com o peso da herança, hoje em dia soa maior. O momento econômico pelo qual a Argentina passa, com a pressão cambial, a volta dos doleiros e o clima de cada-um-por-si, dá mais gravidade a A Sorte em Suas Mãos, um filme em que o dinheiro - a própria imagem do dinheiro, na financeira, no contador de notas/cartas, no cassino - tem papel central. "O dinheiro corrompe?", é a questão que Burman se faz, enquanto filma Uriel despersonalizado no pôquer, disfarçado com óculos escuro e boné, um homem sem identidade (metáfora que o médico do protagonista depois didatiza textualmente).

Essa opção por facilitar as simbologias (numa cena os personagens literalmente se fecham em bolhas) trivializa um pouco as coisas, mas se o gás do filme é um tanto limitado, talvez seja principalmente porque, pelo próprio histórico do diretor, nós já saibamos a resposta daquela questão: o dinheiro pode até corromper, mas o bem coletivo prevalece.

Numa sociedade do sucesso como a brasileira, em que os filmes mais populares, com suas mulheres empresárias e seus milionários trapalhões, invariavelmente associam dinheiro com felicidade (acho que podemos adotar o termo "tecnochanchada" a essa altura do campeonato), A Sorte em Suas Mãos é um alienígena. Suas cenas de cantoria memorialista, suas três gerações de portenhos unidos no sing-along, podem parecer cafonas apenas, mas elas carregam uma visão do mundo que tem muito a acrescentar à nossa.

Facilidades do cinema de gênero à parte, então, que venham entre Brasil e Argentina mais coproduções como esta.

A Sorte em Suas Mãos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom
A Sorte em suas Mãos
La Suerte en tus Manos
A Sorte em suas Mãos
La Suerte en tus Manos

Ano: 2012

País: Argentina, Espanha

Classificação: 12 anos

Duração: 110 min

Onde assistir:
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