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Crítica

A.I. - Inteligência Artificial | Crítica

Três robôs, Dois gênios e Um filme obrigatório

07.09.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Spielberg dirigindo Jude Law e Haley Joel Osment em A.I.

Há muito tempo, em 1979, um promissor cineasta chamado Steven Spielberg estava na Inglaterra dirigindo seu quinto longa-metragem para o cinema - "Os Caçadores da Arca Perdida". Lá, ele conheceu um já aclamado colega de profissão chamado Stanley Kubrick. Surgiu ali uma amizade que durou 20 anos. Nestas duas décadas, o assunto mais discutido foi um projeto baseado no livro "Superbrinquedos duram o verão todo", de Brian Aldiss. O resultado de longas conversas e troca de idéias virou filme e pode ser visto a partir de agora no cinema.

"A.I. - Inteligência Artificial" se passa em 2141. A Terra vive um estado pós-apocalíptico em que as calotas glaciais se derreteram e inundaram boa parte da área seca. A natureza sofreu muito com isso e a tecnologia teve que evoluir para que seres humanos continuassem existindo. David (Haley Joel Osment) é fruto deste processo. Ele é um robô criado para suprir a única função que antes cabia apenas aos Homo sapiens: amar.

Haley Joel Osment mostra que sua indicação ao Oscar no papel do moleque que via pessoas mortas em "O Sexto Sentido" foi justa. Nas suas primeiras cenas, ele está duro e seco. Com o passar do tempo, vai ganhando mobilidade, aprendendo a conviver com os seus "pais" adotivos e ganhando trejeitos humanizados. Único do gênero, David foi usado como teste por uma família desgastada com a doença de seu filho natural, que está congelado enquanto os médicos buscam a cura para seu problema. Com a milagrosa (e muito previsível) volta do fedelho de carne e osso ao lar, a disputa entre "irmãos" começa e a casa logo se torna pequena demais para os dois.

No segundo de quatro atos do filme, David é abandonado em uma floresta e começa a busca da sua humanidade. Assim como o garoto de pau Pinóquio, David conta com o seu Grilo Falante. É Teddy, um urso de pelúcia de última geração que anda, fala e pensa. Surgem então os caçadores de andróides e no meio da perseguição, David conhece Gigolo Joe, um robô amante cheio de ginga, interpretado com maestria por Jude Law. Juntos, eles lutam pela sobrevivência num meio hostil aos Meca (abreviação de Mecânico e oposto a Orga - os homens). Como diz Joe "Eles (humanos) nos fizeram muito espertos, muito rápidos e em uma quantidade muito grande", justificando a raiva/medo que os homens têm pelas máquinas.

Uma homenagem

Este espírito destrutivo é claramente kubrickiano. A corrida atrás da fada azul que transformará David num menino de verdade é mais um conto de fadas de Spielberg. Essa estranha combinação (quase que antagônica) funciona melhor do que se podia imaginar. Como o filme foi escrito, dirigido e produzido por Spielberg, fica muito fácil enxergar a sua mão no trabalho. Mas é também muito visível a influência da mente que filmou "A Laranja Mecânica" sobre o projeto. O diretor de "E.T." disse que se sentiu guiado pelo fantasma de Kubrick durante as filmagens. E segundo os produtores e atores, era comum ouvir Spielberg dizer "Stanley gostaria disso".

Se guiando pelas anotações, desenhos de produção e faxes trocados com Kubrick, Spielberg faz de A.I. uma bela homenagem ao seu amigo, mas deixa claro que a palavra final é sua. A parte em que isso se torna mais visível é o final. Ou deveríamos dizer finais&qt& Sim, porque há dois desfechos para a trama. Uma abrupta, que tem a cara e o jeito do idealizador do projeto, e a outra emotiva, totalmente spilbergiana.

A alma do negócio

Para promover o projeto da vida do criador de "2001 - Uma odisséia no Espaço", Spielberg usou o que sabe fazer melhor (e o que Kubrick mais abominava): propaganda. Ele se aproveitou da tecnologia e do falso sigilo absoluto para criar muita expectativa em cima do filme. Todos os jornais, revistas e sites que tratam de cinema, seja ele comercial (Spielberg) ou não (Kubrick), dedicaram espaço para falar da complexa campanha desenvolvida para a Internet, por exemplo. O tino comercial, a visão e a sensibilidade de Spielberg foram alguns dos motivos que fizeram Kubrick abrir mão da direção de A.I., assinando apenas a produção.

Infelizmente, o cineasta inglês não conseguiu sobreviver para ver como três robôs criados por dois gênios fazem um filme obrigatório para quem gosta de cinema. Talvez nem tanto pela história contada, mas principalmente pelo histórico de quem a contou, A.I. será assunto recorrente nas rodinhas de cinemaníacos.

A.I. - Inteligência Artificial
A.I. EUA, 2001. Dir. Steven Spielber. Com Haley Joel Osment, Jode Law, Frances OConnor, Sam Robards, Jake Thomas, Brendan Gleeson, William Hurt, Jack Angel. Duração: 2h25

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