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Vem Dançar | Crítica

Vem dançar

15.06.2006, às 00H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 11H06

Vem dançar
Take the Lead
EUA, 2006
Drama - 108 min

Direção: Liz Friedlander
Roteiro: Dianne Houston

Elenco: Antonio Banderas, Rob Brown, Dante Basco, Lyriq Bent, Brandon Andrews, Laura Benanti, Jo Chim, Lauren Collins, Yaya DaCosta, Elijah Kelley, Jonathan Malen, Marcus T. Paulk, Alfre Woodard

Professor abnegado, com problemas pessoais que tenta esquecer, resolve ajudar um grupo desacreditado de alunos a vencer por meios nada tradicionais. A premissa batida já rendeu trocentos filmes edificantes em Hollywood. Às vezes funciona, apareceu um Escola do Rock aqui e ali, mas às vezes redunda em um Vem dançar da vida.

Antonio Banderas vive Pierre Dulaine, professor de uma escola de dança para ricos que tem em seu corpo de alunos alguns dançarinos brilhantes, ainda que perfeitos demais. Do outro lado, Rob Brown (Encontrando Forrester) interpreta Rock, garoto cercado de más influências e tragédias familiares que divide com seus iguais, numa escola pública de Nova York, a total falta de perspectiva.

Em duas frases já dá para antecipar a história inteira, não dá? Se o fio principal é óbvio demais, a roteirista Dianne Houston inclui outros, para disfarçar. Vem dançar talvez seja o filme que mais resolve dilemas pessoais por minuto corrido da safra recente. Em pouco mais de uma hora e quarenta todo mundo terá sua chance de redenção - o gordo, o apaixonado, a menina deslocada, o viúvo, a outra que cuida da família sozinha, o garoto que vinga o irmão... Dança é um negócio fantástico mesmo. Bastam alguns passos para que todos se apaixonem como coelhos.

A diretora Liz Friedlander não tenta disfarçar o fato do seu filme ser um retalho de chavões. Pelo contrário, ela arremata cada um deles com o que há de mais oportuno em matéria de linguagem visual. Se a cena ocorre na escola de dança de Dulaine, a câmera passeia em steady como se flutuasse, à distância. Se passa para a escola pública, a fotografia fica granulada, crua, trêmida, para dar agilidade. Se a dança acompanhada é um tango, os closes são constantes. Se a dança é um rap, os cortes videoclípticos são vertiginosos. As escolhas estéticas passariam por personalidade se não fossem o á-bê-cê mais básico do padrão Hollywood.

Em casos assim não custa ser xiita. O diretor de fotografia de O poderoso chefão, Gordon Willis, só deu dor de cabeça para Francis Ford Coppola. A cada tomada que Coppola sugeria uma posição pouco ortodoxa para a câmera, Willis perguntava de quem é essa perspectiva?. Para ele, ângulos subjetivos (a câmera como olhos de um personagem) sempre deveriam ter uma justificativa. O cineasta não podia ter um minuto de liberdade - o enquadramento aéreo, de cima para baixo, das laranjas rolando na rua passaram na marra. Coppola justificou dizendo que era a perspectiva de Deus.

É de se perguntar: qual a justificativa narrativa ou conceitual para muitos dos floreios de câmera e edição de Vem dançar? Se Willis visse o corte de Friedlander em que Rock tira as caixas do furgão e a cena é repetida de novo, como um soluço, ele logicamente pensaria que o montador dormiu na sala de edição.

São coisas da modernidade, alguém pode dizer. E não há nada mais hypado do que a mescla de sons, outra regra atualmente em vigência que não daria para contornar. Um filme que pretende chegar ao público adolescente não pode tocar só valsas e rumbas. Precisa ter remixes. A tecnologia, os samplers de tango com hip hop, entram muito bem na história como aditivo dramático, mas não se engane: eles servem para atrair público e vender trilhas sonoras. Para completar o clichê, só faltou tocar Gotan Project.

Vem dançar não é uma vergonha do início ao fim. Há cenas de autenticidade, como quando Dulaine explica aos pais dos alunos por que ele acha que dança não é só um passatempo. A passagem é iluminada - uma das poucas em que o filme apresenta idéias de verdade - mas Banderas fica a ponto de estragar o momento. Ele faz aquele tipo latino para cativar os ouvintes como se estivesse batendo às suas portas para oferecer enciclopédia. O que o difere do vendedor de Barsa é a calça saint-tropeito.

O amante latino é a cereja do bolo da clicheria. Os créditos iniciais do filme dizem que a história de Pierre Dulaine é real. Pode até ser, mas Hollywood a formata de maneira que fique igual a todas as outras.

Nota do Crítico
Regular
Vem Dançar
Take the Lead
Vem Dançar
Take the Lead

Ano: 2006

País: EUA

Classificação: 10 anos

Duração: 108 min

Direção: Liz Friedlander

Elenco: Antonio Banderas, Rob Brown, Yaya DaCosta, Alfre Woodard, John Ortiz, Laura Benanti, Katya Virshilas, Jenna Dewan

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