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Viva Zapatero!

Documentário italiano anti-Berlusconi interessa mais pela forma do que pelo conteúdo

17.04.2008, às 18H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 03H05

A distribuidora Imovision ficou cozinhando o lançamento de Viva Zapatero! por semanas. Por sorte ou propositalmente, bota nos cinemas o documentário italiano dirigido por Sabina Guzzanti ao mesmo tempo em que Silvio Berlusconi é reeleito primeiro-ministro da Itália. E sempre é tempo de desmascarar Berlusconi.

O título faz referência ao primeiro-ministro espanhol José Luis Zapatero, que sancionou uma lei proibindo políticos de escolher os executivos que mandam na TV pública do país. Na Itália, Berlusconi, magnata das telecomunicações, fez o contrário: transformou a emissora estatal em sua trincheira, e a diretora do filme foi uma das pessoas alvejadas nessa guerra.

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Guzzanti era humorista política que, como muitos intelectuais e artistas de esqueda, se opunha ao regime de direita do premiê. A paródia era sua ferramenta, e no palco e na televisão Sabina Guzzanti ficou famosa por vestir a peruca de careca na sua imitação de Berlusconi. Em 2003, no dia em que o programa de TV dela na estatal, RAIot (trocadilho com o inglês "riot", revolta), foi tirado do ar sem explicação, apesar da alta audiência, Guzzanti substituiu as piadas pela marcha contra a censura.

Viva Zapatero! é assim, portanto, o típico documentário-denúncia que assume o ponto de vista dos injustiçados. Como diretora e protagonista, Guzzanti compila documentos, depoimentos e imagens de arquivo que não apenas comprovam que houve censura de fato como, evidentemente, fazem aquela auto-promoção básica. Você já conhece a fórmula: as salas vão lotar de gente que já odeia Berlusconi para ouvir essa pregação anti-Berlusconi. Como com os Michael Moores da vida, é pregar para convertidos.

O que o documentário tem de mais interessante não é o seu conteúdo engajado, mas a sua forma. Ao contrário dos filmes do gênero a que estamos acostumados, que adotam uma postura de palanque e martelam um discurso de via única (discurso esse frenquentemente justo e necessário, não entendam mal), Guzzanti faz, digamos, um debate à italiana. Ela sai à rua com a câmera na mão atrás dos legisladores e executivos subordinados a Berlusconi e os confronta o tempo inteiro.

Parece que estamos assistindo àqueles almoços de domingo de um clássico do Neo-Realismo: cada um fala de um lado - a mamma, o vovô gagá, o filho, a filha, a tia - e o espectador não consegue separar as vozes dentro dessa massa sonora. Guzzanti caça seus censores na rua e trava discussões que, durante a sessão, são uma coisa surreal, uma troca de argumentos que frenquentemente termina com alguma ofensa. Fosse um homem o documentarista poderiam muito bem acabar em soco.

Para quem já cansou de cinema de denuncismo, essa crença italiana numa espécie de dialética-spaghetti é o que Viva Zapatero! tem de melhor a oferecer em termos de novidade.

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