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Cultura Pop no Brasil | "Este foi o longa mais difícil que já filmei", diz Andrucha Waddington sobre Sob Pressão

Diretor se inspirou em The Knick e outras séries médicas para mostrar realidade brasileira

04.02.2016, às 09H54.

Sob a sirene do perigo

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Filão quente na teledramaturgia internacional, celebrizado por séries como E.R.Grey’s Anatomy House, a ficção médica, voltada para a pauleira do dia a dia nos hospitais, vai ganhar espaço nobre nas telas do cinema nacional, pelas mãos de um dos diretores com o maior requinte visual do país, o carioca Andrucha Waddington: é ele quem assina o thriller clínico Sob Pressão. Já em finalização, para estrear a partir do segundo semestre, a produção acompanha os dilemas do Dr. Evandro (Júlio Andrade), cirurgião em um hospital público sucateado do subúrbio do Rio de Janeiro. Em meio à chegada de uma nova administradora (Andrea Beltrão) disposta a fechar o centro cirúrgico, ele se vê diante da missão de salvar a vida de um traficante e de um policial, ambos às portas da morte, sem deixar que suas impressões sobre a violência deturpem o código de ética pelo qual trabalha. Premiado em Cannes há 16 anos por Eu, Tu, Eles (2000), campeão de bilheteria com Os Penetras (cuja continuação ele filma agora, leia mais a seguir), Andrucha filmou em três semanas em um hospital em Cascadura, no Rio, construindo uma espécie de “western de estetoscópio”, com ação e emoção.

“A gente conseguiu desbravar uma zona à qual não se tem acesso: um centro cirúrgico, no qual existe uma série de práticas para que um médico se mantenha relaxado, calmo durante uma operação. Por isso, este foi o longa mais difícil que eu já filmei. Entrei nele tentando entender como é o processual dos médicos”, diz o cineasta, que fez pesquisas em hospitais e contou com inspiração o livro Sob Pressão – A Rotina de Guerra de um Médico Brasileiro,do Dr. Márcio Maranhão. “Ele esteve no set com a gente, para dar um atestado de verossimilhança, ao que a gente filmava. Chegamos a visitar vários plantões para entender a realidade dos médicos e para apresentar o Dr. Evandro, nosso protagonista, como um herói contemporâneo. Um herói torto, fiel àquilo que acredita, dividido muitas vezes entre ir dormir ou salvar mais uma vida”.

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Ao lado de Júlio Andrade, entram em cena Marjorie Estiano, no papel de uma jovem egressa do grupo Médicos Sem Fronteiras, Thelmo Fernandes no papel de um PM com sede de Justiça (ou quase isso) e Stepan Nercessian, o ator-fetiche de Andrucha, como Samuel, o diretor do hospital. “Como Stepan traz paz e solidez aos sets, ele é quase um amuleto para mim e já planejo filmar a história do Chacrinha com ele, com base na peça que fizemos sobre o apresentador”, diz o cineasta, que mergulhou no projeto de Sob Pressão a partir de uma experiência pessoal. “Um dos meus filhos passou por um transplante de medula e, por isso, acompanhei bem de perto como é essa realidade de espera em hospitais. Há uns sete anos, a Míni Kerti (diretora do premiado Muitos Homens Num Só) levou pra gente a ideia de fazer no Brasil algo tipo um E. R.. Na Conspiração (produtora do longa, da qual Waddington é um dos criativos), o Cláudio Torres (diretor do cult O Redentor) chegou a esboçar uma série sobre o projeto, mas acabou rendendo um longa-metragem. Um longa sobre como se deve tomar decisões sob forte cobrança”.

Na concepção estética do projeto Sob Pressão, a principal inspiração de Andrucha foi The Knick, série desenvolvida pelo diretor Steven Soderbergh para a HBO, com Clive Owen no papel de um médico nos EUA do início do século XX. “De todos os seriados médicos, esse foi o que mais me bateu, por trabalhar nas raias do anti-heroísmo”, diz Andrucha. “A figura do Dr. Evandro é a de um herói cuja vida pessoal acabou em nome do dever, da Medicina”.

E por falar de Andrucha... o novo “Penetras” vem aí

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Em paralelo às preparações para a carreira comercial de Sob Pressão para agosto em diante, Andrucha trabalha a todo vapor nas filmagens de Os Penetras 2sequência para o blockbuster visto por 2,5 milhões de pagantes em 2012, de novo centrados nas peripécias do malandro Marco (Marcelo Adnet) e seu parceiro, outrora ingênuo, Beto (Eduardo Sterblicht). Ajudados pela velha raposa Nelson (Nercessian) e novamente às voltas com o charme louro dafemme fatale Laura (Mariana Ximenes), a dupla acerta contas pessoais enquanto encaram as manhas de um milionário sedutor (Danton Mello) e de um mafioso russo (Mikhail Bronnikov).

“É maravilhoso poder voltar ao universo que você já conhece, dando continuidade aos personagens. O Stepan mesmo brinca que, aqui entre nós, não há mau olhado que entre”, diz o cineasta, que roda o longa sob o selo da Conspiração Filmes, mesma de sucessos como 2 Filhos de Francisco (2005) e A Mulher Invisível (2009). “Tinha muito preconceito contra comédia antes de filmar o primeiro. Mas partindo de boas referências como Um Convidado Bem Trapalhão e Os Safados, encontrei uma intimidade com o gênero e já filmo o 2 pensando no 3”.

Anima Mundi de data nova

Por conta das Olimpíadas, o maior festival de animação da América Latina, tradicional atração das férias de julho, pula este ano para o período de 24 a 30 de outubro no Rio de Janeiro, onde será realizado na Cidade das Artes, e de 2 a 6 de novembro, em São Paulo, na Cinemateca Brasileira. Uma das metas dos organizadores é trazer para o país um dos desenhos animados mais esperados do ano: o longa-metragem The Red Turtle, do holandês Michael Dudok de Wit.   

Tim Roth volta ao Brasil

Depois da boa acolhida desfrutada em sua estadia paulistana durante a coletiva de lançamento de Os 8 Odiados, em novembro do ano passado, o ator inglês Tim Roth deve regressar ao Brasil em abril, para o lançamento do thriller 600 Milhas, do mexicano Gabriel Ripstein. O filme, sobre um agente dos EUA capturado por um jovem ligado ao tráfico no México, rendeu a seu cineasta o prêmio de melhor filme de estreante no Festival de Berlim de 2015. A vinda do astro de Lie To Me está sendo estudada pela distribuidora Tucumán.

Bispo nas telas

Reflexão sobre o inconsciente, atenta aos preconceitos contra pacientes de clínicas manicomiais, o filme Eu Preciso Destas Palavras Escritasdas cineastas Milena Manfredini e Raquel Fernandes, explora a vida do artista plástico Arthur Bispo do Rosário a partir de sua peregrinação estética em busca do Divino. O ator Luciano Quirino assume o papel principal da narrativa, que começa a buscar espaço no circuito de festivais brasileiros.

Para Francisco e para todos nós

Fruto do blog confessional (e obrigatório) da publicitária Christiana Guerra, com base na experiência da morte de seu marido enquanto ela estava grávida, o livro Para Francisco será filmado este ano por Dainara Toffoli, com Débora Falabella no papel central.

Sob as bênçãos do Diabo

Neste momento em que o cinema brasileiro busca uma expansão pelo cinema de gênero, com mais e melhores investimentos no terror, a rede Joia, no Rio de Janeiro, promove uma ação para popularizar ainda mais o filão no país, com a criação, no dia 16 de fevereiro, às 20h, da Sessão do Cramulhão. Sob a curadoria do crítico Mario Abbade, o evento, mensal, acontecerá sempre na segunda semana de cada mês, no Cine Joia Copacabana, com preços populares (R$ 4), voltado para um cult, um clássico ou um inédito da seara horrífica. Haverá ainda uma extensão no Cine Joia Fregesia. Na estreia, será projetado o thriller hispano-argentino Não Morrerei Sozinha (2008), do cineasta Adrián García Bogliano. Na linha do cinema de exploitation rape/revenge, a produção foi elogiada mundialmente ao narrar a cruzada de vingança de um grupo de mulheres contra os homens que as molestaram na região de La Plata.

Nos Ringues

Um achado narrativo perfumado a testosterona agita os palcos do Rio de Janeiro com uma aula de dramaturgia (e de artes marciais): a peça O Último Lutador, estrelada por Stênio Garcia em comemoração aos 60 anos de carreira do ator. Em cartaz até 14 de março no Teatro dos Quatro, do Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, o espetáculo escrito por de Marcos Nauer e Teresa Frota, com direção de Sergio Módena, flagra os conflitos de uma família ligada ao MMA depois que o patriarca, Caleb (Stênio, numa atuação memorável) fomenta uma briga entre seus netos, que não se viam desde crianças. O texto é um filme prontinho. Basta filmar. 

CURTA ESSA

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Das Águas Que Passam, de Diego Zon: Entre todos os filmes nacionais selecionados para o 66º Festival de Berlim, que começa dia 11 na capital alemã, o único com chance de render um Urso de Ouro para o Brasil é este curta capixaba de R$ 50 mil financiado por edital. Aos 29 anos, o cineasta de Cachoeiro do Itapemirim concorre com 24 produções de 20 países com um documentário rodado na vila Regência, na cidade de Linhares (ES), sobre o cotidiano de um pescador, Zé de Sabino, e seu apreço pelo litoral de onde tira seu sustento e onde constrói sua identidade. “Tento fazer cinema que fale de invisibilidade, sobre pessoas que não são notadas”, diz o cineasta, que estudou Publicidade e dirigiu antes três curtas: Maestro em Si (2010), A Nona Vítima (2011) e Os Lados da Rua (2012). Além de Das Águas Que Passam, a América Latina emplacou mais dois curtas na Berlinale, ambos do México: El Buzo e Los Murmullos.

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