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Cultura Pop no Brasil | Glória Pires em Star Trek e Angeli nas telonas

Filme sobre Bob Cuspe agita o mercado de animação no cinema brasileiro que abre espaço para anões, duplos e curtas sobre circo

28.04.2016, às 18H26.

Glória nas estrelas

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Rola pelos bastidores do cinema brasileiro um boato de que a atriz Glória Pires, atualmente em cartaz em Nise – O Coração da Loucura, fez uma participação em Star Trek: Sem Fronteiras, de Justin Lin, num papel de estadista de um dos mundos da Frota Estelar. O IMDB, banco de dados mais concorrido de Hollywood, não confirma a especulação, mas esta só faz crescer, sobretudo porque J. J. Abrams está de olho em talentos brasileiros há tempos. Em 2012, o diretor (e produtor do novo capítulo da franquia trekker) chamou Selton Mello para uma participação em Além da Escuridão (2013) para ser um integrante da Enterprise. Mas o ator mineiro não pôde aceitar por compromissos com direção. Agora, pode ser diferente.

Perdigotos de Angeli

Punk da periferia paulistana, fã de Ramones e Ratos de Porão, consagrado nas HQs desde os anos 1980 com seu brinco em formato de grampo, Bob Cuspe vai levar o olhar existencialista de seu criador, o cartunista Angeli, para as telonas, num formato stop-motion, em dos um dos mais esperados projetos de longa-metragem da atual safra da animação brasileira. Já em pré-produção, com direção do premiado Cesar Cabral (deTempestade), o filme, batizado provisoriamente de Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente, vai explorar o humor um ambiente futurista.Cabral mergulhou no universo do criador de Wood & Stock pela primeira vez em 2008, quando rodou o premiado curta documental Dossiê Rê Bordosa. Agora, em paralelo, ele finaliza para a TV a série Angeli The Killer, que também trabalha com o universo do cartunista, porém muito mais focado no trabalho feito por ele para a cultuada revista Chiclete com Banana, usando um formato de quadros cômicos mais próximos das tiras. Mas o longa do Bob seguirá outra toada, mais próxima dos nossos dias.

Se por um lado a série trabalha o universo do Angeli nos anos 1980, o longa busca um diálogo com a obra atual de Angeli. Colocamos o personagem Bob Cuspe, que é um personagem criado lá atrás, no inicio da carreira do cartunista, num futuro distópico, onde os poucos sobreviventes são os irmãos Kowalski, personagens mais recentes de Angeli. Há também mini-elton-johns mutantes, que se multiplicam loucamente a cada tentativa de extermínio por parte do Bob Cuspe”, adianta Cabral, que escreveu o roteiro a quatro mãos com Leandro Maciel, dispondo de um orçamento de R$ 4,6 milhões para tirar a animação do papel. “O desenrolar do filme nos conduz para um embate entre criador e criatura, onde não conseguimos discernir muito bem onde começa o autor e onde termina o personagem”.

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Segundo o cineasta, Angeli seria um cronista das nossas vicissitudes cotidianas.

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“Conversando com um entrevistado durante as pesquisas para o filme, ele comentou que Angeli é o Machado de Assis de nossos tempos, pela visão perspicaz que ele tem da nossa sociedade. Nos inúmeros personagens que ele retrata, nós nos reconhecemos de alguma maneira. Compartilho dessa opinião e é patente o peso de seus personagens e de suas charges”, diz Cabral. “Angeli mostra os absurdos da nossa sociedade, retrata nossos hábitos”.  

Imortalizado numa antologia da CIA das Letras de 2014, Bob Cuspe sintetiza uma espécie de ressaca moral e política de uma parte da intelectualidade brasileira que sonhava em forma de rock’n’roll. 

“Angeli criou Bob Cuspe no auge do punk brasileiro, em meados da década de 1980. Ele observou o movimento crescente nas ruas das grandes cidades e, por isso, Bob, foi por muito tempo, um ícone para quem fez parte desse universo”, diz Cabral. “Bob Cuspe representa a rebeldia adolescente e o espírito punk que se mantém vivo até hoje. É a atitude do ser “do contra”, de enfrentar o status estabelecido, que a juventude não perde, mas transforma em função da sua realidade”.

Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente é um dos 25 projetos de longas animados hoje em gestação no país: a maior quantidade de todos os nossos 99 anos de experiência no setor. A lista conta ainda com os esperados A Arca de Noé, de Sérgio Machado, Bizarros Peixes das Fossas Abissais, de Marão, e de Meu Amigãzão, de Andrés Lieban.

Tamanho não é documento para a paixão

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Coadjuvante no sucesso de bilheteria O Concurso (2013), Leonardo Reisaka Gigante Leo, pode provar uma vez mais da poção que converte boas ideias audiovisuais em blockbusters, mas agora como protagonista, em Altas Expectativas, uma comédia romântica fora das condições normais de temperatura e pressão do gênero. Sob a direção de Álvaro Campos e Pedro Antonio, também roteiristas, a produção - prevista para estrear ainda este ano - aborda o nanismo com delicadeza, ao narrar uma atração entre pessoas de estaturas diferentes. Na trama,Gigante Leo é Décio, um treinador de cavalos vitorioso que se apaixona por Lena, vivida por Camila Márdila, a atriz-revelação de Que Horas Ela Volta? (2015), premiada no Festival de Sundance ao lado de Regina Case no ano passado. No enredo, Lena é a dona de um pequeno café do Jockey Clube do Rio de Janeiro. Introspectiva, ela tem uma grande dificuldade de sorrir. E, para conquistá-la, Décio está disposto a tudo, inclusive a aprender a fazer comédia. Autor de HQs virtuais como A Corporação e também cineasta, Álvaro conversou com oOmelete sobre o projeto. 

De que forma Altas Expectativas pode subverter a lógica das histórias de amor? 

ÁLVARO CAMPOS - O que há de original no filme é a subversão do herói romântico pop. Damos protagonismo a um portador de necessidades especiais (Leonardo Reis sofre de nanismo) e contamos uma história de amor do ponto de vista único DELE. É uma comédia dramática, mas contamos essa história de forma simples: não buscamos fazer e não fizemos piadas de anão. Só mergulhamos de forma realista no cotidiano de um portador de nanismo para, com bom humor e sensibilidade, falar sobre como um portador de necessidades especiais vê o desejo e pode esperar ser desejado. Pra isso, meses antes das filmagens, fizemos um curta documental sobre o Leonardo - que serviu de pesquisa tanto pro texto quanto pra fotografia de Altas Expectativas - tendo total acesso aos amigos, familiares, colegas, namoradas etc. No final das contas, a lógica do filme se aproxima muito do gênero específico das histórias de amor improváveis, como Procura-se Amy,Um Lugar Chamado Notting Hill ou até Edward Mãos-de-Tesoura. É só a história um cara comum - apesar de suas características físicas marcantes - apaixonado por um uma mulher que julga ser muita areia pro seu caminhão. E quando essa mulher é a Camila Mardila, ganhadora do Sundance e eternizada pela Jéssica do Que Horas Ela Volta?, você não precisa medir 1,20 pra sentir o mesmo frio na barriga que ele e se identificar. 

De onde veio essa curiosidade pelo mundo anão e como pesquisou para isso?

ÁLVARO CAMPOS - Veio da admiração pessoal dos diretores pela persona real do comediante Gigante Leo, que ganhou fama no Porta dos Fundos, no Multishow, no Risadaria etc.  Leo é muito engraçado nos palcos. Mas o verdadeiro fenômeno é ver no dia a dia como ele usa suas piadas e seu bom humor para desarmar o olhar de quem não está acostumado a lidar com um portador de necessidades especiais e até para combater a idéia dos outros de que ele merece qualquer tipo de percepção diferenciada. Assim, ele consegue se incluir em qualquer grupo social, fazendo - na maioria ampla das vezes - tudo que qualquer pessoa dita “normal” pode fazer. Leo hoje é casado com uma bela mulher de 1,65m, é pós-graduado e ainda tem uma bem sucedida carreira como comediante.  

Thalita ao cubo e Latino ao meio

Uma das humoristas mais populares do país na atualidade, Thalita Carauta (de SOS – Mulheres ao Mar) vai dividir as telas com o cantorLatino na comédia Duas de Mimque marca a estreia da diretora de TV Cininha Di Paula (da série Pé na Cova) como cineasta. Na trama,Thalita é uma cozinheira que luta a duras penas para sustentar sua família. Mas sua rotina muda depois que ela se divide em duas pessoas. Só que seu duplo tem planos bastante egoístas.

Isto é Simonal

Retratada num cultuado documentário de 2009, a vida do cantor Wilson Simonal (1938-2000) vai virar longa-metragem de ficção, pelas mãos do diretor Leonardo Domingues, com Fabrício Boliveira, do blockbuster Faroeste Caboclo (2013), no papel principal. Isis Valverdetambém vai estar no elenco.

Meu Nome é João

Realizador do blockbuster Meu Nome Não é Johnny (2008), Mauro Lima começa a rodar neste sábado, dia 30, em São Paulo o longa-metragem João, um drama musical sobre a história do maestro João Carlos Martins, renomado internacionalmente como pianista, sendo um dos maiores intérpretes de Bach no planeta. Martins teve que se reinventar como músico, trocando o piano pela batuta, ao ser ver as voltas com uma lesão por esforço repetitivo. Nas telas, os atores Rodrigo Pandolfo e Alexandre Nero se revezam no papel principal. Ainda no elenco,Fernanda Nobre vive a primeira mulher de João, Alinne Moraes encarna Carmen Valio, a atual esposa do artista, e Caco Ciocler interpreta o pai do músico. Serão cinco semanas de filmagens, sob produção da LC Barreto, de sucessos como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976).

CURTA ESSA

Paixão do Circo, de Matheus Raitano: Espécie de templo sagrado das atividades circenses no Brasil, responsável pela formação de gerações de artistas de expressão internacional, a Escola Nacional do Circo, na Praça da Bandeira - RJ, é tema de um singelo doc investigativo de alunos da Academia Internacional do Cinema. Com fotografia de Monique Lima Ancelmo, o curta arrola depoimentos de mestres do picadeiro que compartilham seus conhecimentos com estudantes de diferentes pontos do Brasil. 

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