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Gay Nerd | A turma LGBTI na música

Uma galera que você, caso já não esteja, deveria estar de olho

01.09.2015, às 18H39.

Hoje resolvi fazer algo de diferente. Resolvi sentar, pegar os fones de ouvido e falar da turma LGBTI que anda causando no mundo da música. Não a galera das antigas que construiu o cenário atual, mas a turma que está ganhando espaço e fazendo a música de hoje. A turma que merece a sua atenção e suporte, além de carinho. Dá um play e vem comigo.

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Para construir o cenário de aceitação musical existente, muitos artistas precisaram comer o pão que o diabo amassou. Há pouco tempo, para se destacar na indústria, principalmente a americana, era melhor que o artista mantivesse segredo sobre sua sexualidade, afinal quem queria atingir grandes massas precisava ser "neutro". Inúmeros artistas, entretanto, foram na contramão desta tendência e se tornaram maiores do que a indústria. Lendas como Elton John, Freddie Mercury e Ney Matogrosso estão ai para provar que ser diferente também funciona.

O mundo da música coleciona ícones LGBTI como Boy George, do Culture Club, que se apresentava todo maquiado, Village People, a famosa banda do YMCA, e Andy Bell, do Erasure (A Little Respect). Em terras tupiniquins, tivemos Cazuza, Renato Russo e Cássia Eller, assim como Adrianna Calcanhoto, Ana Carolina e Maria Gadú. E estou falando somente de artistas LGBTI que se tornaram ícones LGBTI. Madonna, Annie Lennox, Cher e Beyoncé, por exemplo, não serão exploradas neste texto por serem heterossexuais, mas possuem grande importância para o movimento.

O panorama da representação LGBTI no mundo da música será feito em outro texto mais amplo, contextualizado e dedicado somente a isso. Por agora, algo mais leve. O que posso adiantar é que, em comparação com outros nichos do entretenimento, o da música tem sido mais inclusivo ao dar mais espaço para a liberdade criativa e autoral. Quando o trabalho do artista é ele em si, suprimir a liberdade tem se provado o pior caminho. Portanto, é hora de darmos uma olhada na galere que merece protagonizar nossas playlists.

Sam Smith

O britânico de 23 aninhos é ganhador de quatro Grammys por seu álbum de estreia, In The Lonely Hour, e, para muitos, a versão masculina de Adele. Na minha opinião, o jovem é mais, pois, além de ter transformado uma decepção amorosa em rios de dinheiro, é abertamente gay, algo que colabora para a causa da representatividade. Musicalmente, o mocinho é dono de uma voz potente e capaz de emocionar nas horas mais solitárias. Para quem gosta de música eletrônica, o cantor também trabalhou com o duo de deep house Disclosure em "Lacth" e "Omen".

Melhores músicas: "I"m Not The Only One", "Stay With Me" e "Money On My Mind".

Sia

Sia é cantora, compositora e responsável por músicas que estouraram nas vozes de Rihanna, Beyoncé, Katy Perry e Christina Aguilera. Você já deve ter ouvido falar na artista pelo excêntrico hábito de cantar de costas, usando uma peruca, nas apresentações do seu álbum mais recente, 1000 Forms of Fear, e pela música "Chandelier" cujo clipe é protagonizado por uma menina bailarina frenética performática dançando como se não houvesse amanhã. A criadora de grandes hits merece nossa atenção por fazer música de qualidade e falar abertamente de sua sexualidade fluida. Se é bi ou intersexual? Não importa. O que vale é que ela é do time LGBTI e nos representa no mainstream.

Melhores músicas: "Chandelier", "Eye Of The Needle" e "Elastic Heart".  

Azealia Banks

Esta rapper novaiorquina bissexual é a personificação de polêmica. Azealia Banks é super ativa no Twitter e por lá entra em diversas brigas com artistas por questões feministas e por "brancos se apropriando da cultura negra". Não é por acaso que Iggy Azalea é a indesejada número 1 de Banks.

A briga mais recente envolve a polêmica entre Nicki Minaj e Taylor Swift a respeito da representatividade de mulheres negras em premiações. Além disso, Banks já atacou os gays pelos interesses machistas da "mídia gay branca".

Embora a polêmica ocupe a maior parte da carreira da artista, sua música é relevante e seus clipes provocam uma experiência ímpar e paralela ao ódio destilado em 140 caracteres. Ao estourar com a música "212", lá em 2011, Azealia demorou para lançar o álbum de estreia, Broke with Expensive Taste, por causa de adiamentos constantes da gravadora. Cansada da enrolação, e depois de belas brigas, Banks apresentou ao mundo, no ano passado e de forma independente, seu primeiro disco. A despeito das polêmicas, é uma pessoa talentosa cuja música merece atenção. É rap, é pop, é militância, é bapho, é um caldo bom. 

Melhores músicas: "212", "Luxury" e "Liquorice".

Banda UÓ

Nascida em terras tupiniquins e adepta do ritmo eletrobrega, é formada pelo trio goiano David, Mateus e Mel, e ganhou destaque nos últimos anos por suas letras irreverentes e uma versão hipster/pop da música "Whip My Hair", de Willow Smith: "Shake de Amor". Hoje estão numa pegada mais pop, prestes a lançar um novo disco, Veneno, e merecem destaque porque, além de Mateus e David serem gays, Mel é uma mulher trans. O trio vive quebrando preconceitos na cena pop brasileira, afinal trabalham com um ritmo alvo de narizes torcidos, e chamam a atenção de produtores internacionais como Diplo.

Meu conselho é que você se livre de qualquer preconceito musical e se deixe levar pela batida e letras bem humoradas do grupo: "Eu disse que essa história tinha um final triste / Que na sessão da tarde eu nem era o príncipe / Eu fui só o jegue que você galopou." Se não gostar, pelo menos vai ter se divertido por alguns minutos. ;)

Melhores músicas: "Shake de Amor", "Gringo" e "Nega Samurai".

Scissor Sisters

Parou, viado! A banda das "irmãs tesoura", composta por três homens e uma mulher, todos LGBTI, é o equivalente pop/eletrônico da Banda UÓ em terras norte-americanas. Claro que o Scissor Sisters surgiu muito antes do trio goiano, mas seu trabalho, além de estar recheado de temas LGBTI, fala da cultura noturna e de temas mais ~pesados~ como sexo, tudo de forma criativa e bem humorada. Trechinho básico da música "Any Wich Way": "Take my anyway you like it / In front of the fireplace, in front of your yacht, in front of my parents, i don't give a damn baby, just take me".

"Let's Have A Kiki" é o grande hit do grupo, mas a versão da música do Pink Floyd, "Comfortably Numb", é um show à parte. É cor, é grito, é eletrônico e é diversão.

Melhores músicas: "Let's Have A Kiki", "Any Wich Way" e "Comfortably Numb".

Adam Lambert

A trajetória deste moço começou no American Idol e continuou com uma carreira promissora no pop. Sua primeira fase foi bem agressiva com maquiagem carregada e um figurino quase drag. Bem aquele tipo de artista que chega para causar, gritando, literalmente, e mostrando a que veio. Neste ano, em sua nova fase, agora mais sóbria, lançou The Original High, disco pautado por ritmo eletrônico que reflete o amadurecimento adquirido na turnê com o Queen.

Lambert é abertamente gay, defensor das causas LGBTI, e merece sua atenção por ser talentoso e dono de um agudo invejável.

Melhores músicas: "The Original High", "Ghost Town" e "If I Had You".

Adore Delano

O mundo das drags está cada vez mais popular desde que RuPaul e seu reality Rupaul's Drag Race ganharam o mundo. Adore é uma das célebres competidoras do programa e já participou, inclusive, do American Idol. Miss Delano merece destaque por cantar de verdade e esbanjar talento num contexto em que ser drag e lançar CD é modinha. Ela não é só mais uma.

As faixas de seu primeiro disco, Till Death Do Us Party, não vão reinventar o mundo da música e nem serão a melhor coisa que você já ouviu na vida, mas valem pelo trabalho cuidadoso. A moça tem carisma, é singular e merece abrir qualquer playlist de bateção de cabelo.

Melhores músicas: "DTF", "Speak My Sex" e "I Look Fuckin Cool".

Por fim, estes são os músicos LGBTI que considero mais relevantes no momento. Isso não quer dizer que não existam outros também muito importantes e com trabalhos excelentes. Para citar mais exemplos, temos The Young Professionals, Kazaky, Gossip e, claro, a clássica dupla Pet Shop Boys. E você, tem alguma recomendação para incrementar nossa aventura musical LGBTI? Deixe sua contribuição nos comentários e ouça a playlist abaixo, exclusiva para este texto. Um bayjo, um quayjo e até a próxima coluna! ;)

Adotamos a sigla LGBTI por ser a mais completa para se referir à diversidade de gênero e identidade sexual nos dias atuais. O T se refere a "TRANS" (travestis, transexuais e transgêneros) e o I a "Intersexual", pessoas com características de ambos os sexos e que podem se reconhecer como homem ou mulher, independente das características físicas. Esta definição é contribuição do leitor Vinícius.

*Gay Nerd é uma coluna quinzenal que mistura nerdices aos temas LGBTI


Isaque Criscuolo é editor do Imerso, nerd, adora um lipsync e acredita que menos é mais

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