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Cultura Pop no Brasil | Cauã Reymond em versão Mad Max e vampiros melancólicos prometem agitar a cena nacional

De quebra, tem beldade argentina, demônios avessos a bullying, Paulinho da Viola na telona e Babenco.Doc

26.11.2015, às 10H23.
Atualizada em 03.01.2017, ÀS 14H01

Soledad Villamil ao alcance do cinema nacional... e da torcida do Timão

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Musa do cinema argentino, celebrizada como a magistrada do oscarizado thriller O Segredo dos Seus Olhos (2009), a cantora e atriz Soledad Villamil vem ao Brasil em fevereiro para estrelar uma produção brasileira protagonizada e coproduzida pelo ator Edson CelulariTeu Mundo Não Cabe Nos Meus Olhos. A direção é do gaúcho Paulo Nascimento, do premiado A Oeste do Fim do Mundo (2013), também autor do roteiro, e as filmagens ocorrem entre São Paulo e Porto Alegre, tendo como foco a deficiência visual. Na trama, Vitório (papel de Celulari), cego de nascença, é casado com Clarice, personagem confiada a Soledad. Eles vivem em completa harmonia trabalhando na pizzaria Piccolo Mondo, herdada do pai de Vitório, no bairro paulistano do Bexiga. “É uma história sobre a necessidade de tolerância e de respeitar o desejo do outro mesmo que este seja não ver o mundo tal qual enxergamos”, explica Nascimento.

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De acordo com o cineasta, no enredo, Vitório é um descendente de italianos famoso por fazer a melhor pizza de seu bairro. Já Clarice, sua mulher, vem de uma família rica, de origem judaica, de Higienópolis.  Este casamento insólito aconteceu quando se conheceram em uma festa de Nossa Senhora Achiropita, há mais de vinte anos. Ela teve que abrir mão do conforto que a família lhe oferecia e hoje, além de trabalhar na pizzaria, complementa o orçamento dando aula em duas escolas. Completam este universo Alicia, a filha do casal, que só pensa em ir embora do Brasil, e o garçom Cleomar, braço direito de Vitório. Mas a rotina do pizzaiolo, movida por sua paixão doentia pelo Corinthians, pode mudar no ano em que o Timão vai participar da sua primeira final no mundial de clubes.

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É uma história universal e popular, que envolve uma paixão que se esvai pela falta de compreensão, uma amizade que transcende todas as barreiras e a paixão pelo futebol, a partir do Corinthians, no ano da conquista do seu título mundial”, diz Nascimento. “O filme promete trazer uma abordagem jamais feita no cinema brasileiro: a negação de um cego em ver o mundo que lhe obrigam a perceber. Sua negação é uma metáfora contundente sobre o mundo que vivemos”.

Nordeste em chamas

Um dos destaques da cultura pop brasileira na Comic Com Experience 2015, agendada de 3 a 6 de dezembro, em São Paulo, vai ser um painel voltado para a força do cinema de ação brasileiro, com foco em um dos lançamentos mais esperados para o início de 2016: o thriller Reza a Lenda, de Homero Olivetto, com Cauã Reymond de herói. O debate com a equipe do longa será no abre-alas do evento, no dia 3, às 14h30m, no auditório principal do São Paulo Expo. Na trama do projeto, que estreia no dia 21 de janeiro, com distribuição da Imagem Filmes, Cauã é Ara, o líder de um bando de motoqueiros do Nordeste que lutam para concretizar uma profecia em uma terra sem lei. O Omelete conversou de véspera com Homero para entender um pouco melhor do projeto que, apesar da pinta de Mad Max, exala brasilidade.

De que maneira Reza a Lenda reinventa os padrões brasileiros de heroísmo? Por que é tão difícil termos heróis no cinema nacional?
HOMERO OLIVETTO -
 Nunca vi o Reza a Lenda como uma tentativa de reinvenção de nada. Sou cinéfilo, minha mitologia é pop, meus heróis vão desde meu avô sergipano até o Batman do Frank Miller. Foi justamente esta mistura que me motivou a fazer o filme: minha conexão com minhas origens, meu sangue nordestino, e minha paixão pela cultura pop. O mito do herói, desde os gregos até as HQs, sempre me fascinou muito também. Herói é bom pra dar exemplo, é o personagem que faz as escolhas mais duras pelo bem maior, que se sacrifica. Ter heróis na vida é muito bom. O mundo sem o Luke Skywalker não seria o mesmo. E ele, assim como a Elektra [a personagem grega e a ninja do Frank Miller], já pertencem à humanidade, não consigo classificá-los como estrangeiros em lugar nenhum. Reza a Lenda bebe na mesma fonte que Jasão e Os Argonautas, por exemplo, que é a mesma do Santo Graal, que por sua vez se comunica com o Super-Homem procurando um sentido na vida na Fortaleza da Solidão. Esta busca por um objeto mágico tem em todo lugar, principalmente em lugares aonde a natureza é mais severa, como no Sertão. Ara e seus companheiros vivem nessa dimensão, pelo bem maior, no sacrifício, buscando objetos mágicos e sentido na vida. São heróis clássicos.

Existe um parentesco no trailer de Reza a Lenda com a estética retrofuturista de Mad Max. Essa parentela se verifica na tela como?
OLIVETTO -
 Você não imagina a minha ansiedade pra que todos assistam logo o filme. O Reza a Lenda não se passa em nenhuma época definida, mas toda a vez que eu tive que localizar o filme, na hora de bater bola com a equipe e com o elenco, eu sempre imaginei uma estética absolutamente construída em tudo o que víamos e conhecíamos do Sertão moderno. Tudo o que tem no filme, sob o ponto de vista estético, está lá. Sob o ponto de vista dramático também. A questão da seca, da natureza opressora, não é uma discussão do futuro naquela região. Continua a ser uma questão muito presente, e agora inclusive no estado de São Paulo. O que fizemos foi olhar pra estas coisas, para o sertão que substituiu os cavalos e jegues pelas motos, usando uma lente pop, universal. Uma roupagem punk para o sertanejo forte.

Que filmes te serviram de referência?
OLIVETTO -
 As minhas referencias são muito ecléticas. Tem vários pedaços da minha memória cinematográfica e de leitor de quadrinhos espalhadas pelo filme. Tem o Mad Max de 1979, principalmente na sua decupagem de cenas de ação; tem Conan, o Bárbaro, pelo roteiro carregado de filosofia do Oliver Stone e pela força épica do personagem; e tem A Proposta, dirigido pelo John Hillcoat e com roteiro do Nick Cave, pela maquiagem e densidade dramática. Tem fragmentos de vários outros filmes, como Bullhead e Samsara. Dos quadrinhos, cito basicamente tudo do Frank Miller e do Alan Moore, por muitos motivos. E, claro, não poderia deixar de faltar o mestre Sergio Leone, nos momentos de duelo do filme. O que a gente fez foi misturar tudo isso com o sertão moderno que víamos lá pra criarmos esta fantasia violenta, com música eletrônica e ação.

Qual é o maior desafio técnico de realizar as cenas de ação e perseguição do seu filme? O quanto de efeito especial você utilizou?
OLIVETTO - Existe um risco inerente e um esforço físico e de concentração muito grandes na hora de filmar as cenas de ação, principalmente as com veículos e as de luta. Mas acho que o segredo pra que dê tudo certo e que imprima de um jeito bom na tela é a preparação. Preparação não só com os dublês ensaiando, mas com o diretor decupando as cenas obsessivamente, com a chancela do produtor e acompanhamento do fotógrafo e do assistente de direção. Nas cenas mais técnicas, depois de desenhá-las, nós fizemos pré-visualizações animadas, em 3D, pra entender a dinâmica das cenas e saber exatamente o que precisaríamos fazer e ter pra que elas funcionassem. Na pré-produção do filme, discutindo com equipe e os dublês, nós já sabíamos a lente que usaríamos pra cada plano, qual movimento a câmera teria, a velocidade exata que precisávamos pra passar a ideia de perigo e tensão das cenas. E, claro, sabíamos também o que seria real e o que iria pra pós. Somando tudo, desde os grandes eventos de ação até tirar um poste de um plano que não cabia lá, foram mais de 540 efeitos de pós. E está ficando incrível.

Qual é o peso de ter um galã do porte do Cauã na cabeça de um filme, hoje, no país?
OLIVETTO -
 Cauã não é a estrela que é à toa: ele é muito comprometido com o trabalho, com o ofício. É um cara solícito, atento, está sempre querendo aprender, evoluir. Ele é parceiro, ajuda a captar, a produzir, a lançar o filme. Este lado produtor do Cauã ajuda muito. E, o mais importante, como ator, ele tem uma alma inquieta, generosa, e isso imprime na tela, dá estofo. Ter um protagonista como o Cauã foi fundamental pra que o Reza a Lenda existisse como ele é hoje: um filme do qual me orgulho muito, independentemente de qualquer ambição comercial. E o Reza a Lenda tem a sorte de ter não só oCauã, mas um elenco muito forte. Sophie Charlotte faz uma Severina verdadeira, dramática, em um registro que ninguém nunca viu ela fazer. Humberto Martins faz um dos vilões mais cruéis que eu já vi, e o faz de uma maneira brilhante. Luisa Arraes deu uma força questionadora pra sua personagem, de uma maneira sutil, precisa. Jesuíta Barbosa fez um Pica-Pau atormentado, emocional. Julio Andrade é um camaleão, um monstro no papel de um bruxo tomado. E como se não bastasse, eu tive o privilegio de ter a Silvinha Buarque doando seu talento pra fazer a mulher do Humberto Martins. Foi um papel pontual no filme, mas de uma importância enorme pra construção do universo do Tenório. Eu destaquei aqui a parte do elenco mais conhecida do grande público, mas tem papéis muito importantes do filme, como o do Pai Nosso, feito pelo Nanego Lira, e o da Deinha, lindamente construída pela Zezita Matos, primeira dama do teatro paraibano. Tem a Cira, atuada com precisão cirúrgica pela Nataly Rocha, e o Zorro da Zorra, do Negueba, que tem uma presença forte na tela, estranha. Resumindo, a força do filme e do seu protagonista está também neste grupo. O Reza é um filme de ação com uma aposta muito grande nos seus personagens também.

 O Stephen King de Osasco

É raro a literatura de horror no Brasil mexer com os brios da indústria audiovisual, mas anda havendo uma movimentação em torno de Estrela da Manhã, romance zero km do paulista André Vianco, titular da marca de um milhão de exemplares vendidos numa obra devotada aos seres do além. O lançamento é só em 1º de dezembro, mas o livro já tem feito produtores de diferentes cantos do país salivarem com uma trama que exala potencial cinematográfico. Em vez de abordar o universo de vampiros, Vianco, o Stephen King de Osasco, agora fala sobre demônios e fantasmas. Na trama, um menino vítima de bullying escolar recorre a um aplicativo da internet que aluga espectros. Ele desperta um espírito com sede de matar e vai sentir as consequências de seus atos. "Estrela da Manhã discute assuntos antigos no terror. Assim como naquele maravilhoso filme sueco Deixe Ela Entrar, o meu protagonista sofre com uma valentão na escola e não tem apoio dentro de casa. Ele tem que achar o seu caminho para enfrentar os demônios e, no caso de Estrela da Manhã, demônio é a palavra certa”, diz Viancoautor de sucessos como Os Sete O Senhor da Chuva.

Já que o assunto é terror...

Especializado em filmes de pegada sci-fi como Síndrome de Pinocchio (2009), o diretor brasiliense Thiago Moyses está preparando um filme de vampiros a ser rodado em solo carioca em 2016: Hopekillers. A trama apresenta um submundo de sanguessugas com predileção pelas hemácias de pessoas sem esperanças. Mas um mensageiro do além chega para anunciar uma hecatombe vampírica em prol de uma evolução dos seres das trevas. O cineasta está fechando seu elenco.  

Búzios em fervura máxima

De sexta a domingo, o litoral do Rio de Janeiro vai ser incendiado por um dos eventos cruciais para o mercado exibidor nacional. É o Festival de Búzios, em sua 21ª edição. Serão exibidas pepitas, entre elas:

  • Três Lembranças da Minha Juventude, de Arnaud Desplechin
  • Labirinto de Mentiras, de Giulio Ricciarelli;  
  • Anomalisa, genial animação de bonecos de Charlie Kaufman, ganhadora do Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza;
  • Mar Me Quer, produção brasileira inédita de Isabella Nicolas;
  • Nahid, de Ida Panahandeh, ganhador do Prêmio do Futuro na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2015;
  • Pegando Fogo, de John Wells, com Bradley Cooper, encarado como pedida possível para o Oscar 2015.

Parte das projeções aproveita as instalações do Grand Cine Bardot.

Três vezes Murilo

Considerado um dos papas da excelência visual na fotografia brasileira, Murilo Salles vai lançar três longas de uma só vez na semana que vem. Estreiam no dia 3 os documentários Aprendi a Jogar com VocêPassarinho Lá de Nova York e a ficção O Fim e os Meios, um thriller político ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival do Rio 2014, com Pedro Brício na pele de um assessor de marketing às voltas com os meandros do Poder.

Afinando a viola

Diretor do drama Tudo o Que Deus Criou (2012), o cineasta paraibano André da Costa Pinto está preparando um longa documental sobre o cantor e compositor Paulinho da Viola. O filme garimpou raridades como imagens em super-8 feitas pelo músico.

Rocha na História

Celebrizado há uma década com Rocha Que Voa (2002), o diretor Eryk Rocha está finalizando Cinema Novo, um filme-ensaio em longa metragem sobre o movimento que renovou a forma de filmar no Brasil dos anos 1960. Entre os diretores-chave dessa corrente destacam-se Joaquim Pedro de Andrade,Leon Hirszman e Glauber Rocha, pai de Eryk. “É um filme sobre a aventura da criação, feito através do olhar e da reflexão dos diretores-autores que inauguraram um novo cinema no Brasil”, diz Eryk.

Bárbara por trás das câmeras

Destaque no elenco da novela A Regra do Jogo, da Rede Globo, a atriz gaúcha Bárbara Paz vai estrear na direção de longas-metragens com Corredor Polonês, documentário sobre o cineasta argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, com quem ela é casada. Responsável por sucessos de bilheteria como Carandiru (2003) e Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1976), Babenco foi um dos únicos realizadores da América Latina a ter sido indicado ao Oscar de melhor diretor - por O Beijo da Mulher Aranha, em 1986. Seu último trabalho, Meu Amigo Hindu, com Willem Dafoe, abriu a Mostra de São Paulo, no fim de outubro. Corredor... é um ensaio sobre as memórias do cineasta, com licença poética e visual em P&B. Bárbara vai incorporar na montagem imagens registradas por um velho amigo de Babenco: o também diretor Jorge Bodanzkyconsagrado por Iracema, Uma Transa Amazônica(1975).

E por falar de Jorge...

Bodanzky está retomando um projeto do passado: um longa-metragem sobre a compositora Chiquinha Gonzaga, que será feito com bailarinos do Grupo Corpo em seqüências coreográficas.   

CURTA ESSA

Elisa & Joana, de Evaldo Mocarzel e Lauro Escorel: Inédito em festivais, esperado para o primeiro semestre, esta produção documental de 15 minutos une esforços de um dos mais prolíficos diretores do país (Mocarzel, premiado por Do Luto à Luta) com um dos fotógrafos de maior requinte do Brasil nas telas (Lauro, de A Suprema Felicidade). Os dois têm filhas com necessidades especiais. Este filme narra a amizade que brota entre as duas. “A Elisa, filha do Lauro tem uma síndrome rara e a Joana, minha filha, tem Síndrome de Down”, diz Mocarzel. “Fizemos um fim de semana de filmagem e o doc é o resultado desse encontro cinematográfico conduzido com muito afeto”.

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Confira os destaques desta última semana

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