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Batman 75 Anos | Criadores comentam clássicos e novos projetos na CCXP

O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller foi o referencial do painel com astros estrangeiros

05.12.2014, às 13H27.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Setenta e cinco anos depois de surgir na Detective Comics #27, Batman, um dos maiores ícones da cultura pop, foi tema central de uma discussão na CCXP - Comic Con Experience no primeiro dia da convenção, que continua até este domingo, dia 7.

Estavam lá para falar sobre o herói Rafael Albuquerque, Scott Snyder e Dave Johnson, que se envolveram em HQs recentes do herói, Rafael Grampá, que deslumbra os fãs a cada arte hiperdetalhista de Homem-Morcego, José Luis García-López, que faz Batman sorrir em pôsteres, cuecas, bolas de praia e boa parte do material licenciado da DC, e Klaus Janson, da renomada minissérie O Cavaleiro das Trevas.

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Em espírito, e espírito um pouco sacana, Frank Miller também estava lá como o nome mais citado pelos presentes de verdade - seja pela admiração deles por O Cavaleiro das Trevas ou pela relação pessoal com o autor.

O mediador Ivan Freitas da Costa iniciou os trabalhos perguntando sobre o primeiro contato de cada um com o Batman. Grampá: "Foi no Balão Mágico, no desenho do Superamigos. Ele era o mais legal dos Superamigos. Também lembro que eu tinha uma toalha do Batman. Também tinha a série de TV, bonequinho de plástico... naquela época [década de 80], ele já tava por tudo. E foi o primeiro personagem que eu desenhei, ainda moleque". Albuquerque, que tem idade próxima de Grampá, disse que teve uma experiência parecida: "Eu também lembro de ter toalha do Batman. E acho que o desenho era do García-López, que está aqui. Mas comecei a curtir mesmo o personagem nos filmes do Tim Burton".

"Minha cueca preferida era do Batman", disse Scott Snyder, atual roteirista da principal série do vigilante. "Mas, falando sério, tinha a série de TV. Meu pai adorava. Eu não sabia que era pra ser engraçada. Pra mim aquilo era alto drama." García-López: "Lembro de quando era criança, na Argentina, e de ver uns bonequinhos em preto e branco com ele". Klaus Janson: "Teve um Natal em que eu ganhei lençóis do Batman. E fiquei muito assustado com o cara vestido de morcego. Foi na época do seriado de TV".

Dave Johnson: "Quando eu tinha uns cinco ou seis anos a gente foi num lugar onde tinha um cara vestido de Batman, tipo Papai Noel. Eu sentei no colo dele pra tirar foto. Esses dias minha mãe finalmente achou essa foto... mas infelizmente jogou fora, sem querer".

Perguntados sobre a história preferida com Batman, metade dos convidados respondeu: O Cavaleiro das Trevas. Foi quando Frank Miller começou a se fazer presente. Grampá disse que estava emocionado de estar na presença de um dos autores da HQ, o arte-finalista Klaus Janson, e pediu uma salva de palmas. Snyder: "Ainda tenho as quatro edições originais na casa dos meus pais. Eu tinha uns 10 anos quando saiu. Mesmo que aquilo fosse a Gotham City do futuro, pra mim tinha muito a ver com a Nova York em que eu morava nos anos 80, e as coisas que metiam medo num garoto: gangues, violência, drogas, andar de metrô. Eu sei que era uma sátira, mas pra mim era muito real".

Janson disse que levaria para uma ilha deserta uma coleção do Batman por Neal Adams. Dave Johnson se disse apaixonado por uma pequena história de Steve Purcell, Mike Mignola e Kevin Nowlan, com destaque para o vilão Cara-de-Barro, que ele considera extremamente engraçada (no Brasil, ela saiu em Superman & Batman #32).

Sobre o projeto dos sonhos com Batman, Johnson brincou que queria fazer uma HQ da perspectiva do morcego que assustou o Bruce Wayne garoto. García-López queria uma história em que o Homem-Morcego pudesse sorrir mais. Grampá: "Eu curto muito o Robin, e queria fazer uma história com um paralelo: Bruce Wayne adolescente resolve ir atrás do assassino dos pais, aí vai num circo, se inspira nos acrobatas e sai pela noite vestido de... Robin. Aí ele leva pau da polícia, vai parar no Asilo Arkham...". Snyder: "Eu vou roubar essa ideia".

O Bat-roteirista do momento disse que já está fazendo as histórias de seus sonhos. Agradeceu à DC por deixá-lo reescrever a origem do personagem, arrancar o rosto do Coringa e executar outras ideias, mas principalmente aos fãs que estavam lá por apoiar suas criações.

O assunto Cavaleiro das Trevas 3 foi inescapável. O projeto, que apareceu nas notícias esta semana e ainda não foi confirmado pela DC, envolveria Snyder, Miller e vários desenhistas. "Não posso falar se vai ou não vai acontecer", comentou Snyder. "Mas o que eu posso falar é que tive o prazer de conhecer o Frank e fazer amizade com ele. A gente foi jantar e eu cheguei lá achando que ele ia meter o dedo na minha cara: 'Você reescreveu Ano Um!' Mas ele colocou a mão no meu ombro e disse que 'finalmente alguém deu uma p*** de um corte de cabelo decente para Bruce Wayne. Ele, Neal Adams, Klaus Janson, Grant Morrison, todos que já trabalharam com o Batman têm sido muito receptivos comigo."

Perguntado por um fã, Janson também aproveitou para falar sobre Miller. Disse que os dois tinham muito contato quando trabalhavam em Demolidor, no início dos anos 80, e que o colega sempre foi generoso com ele. "Vejo Demolidor como a série e a época em que eu comecei a entender os quadrinhos como arte. Eu já tinha 10 anos de trabalho, 10 anos de coisas horríveis, e foi ali que eu comecei a crescer como artista. Na época do Cavaleiro das Trevas, Frank tinha se mudado para a Califórnia e a gente passou a ter menos contato pessoal. Mas quando se trabalha com alguém tão criativo, não tem como você não se sentir contagiado. Devo muito ao Frank."

Janson continuou falando sobre O Cavaleiro das Trevas após mais uma pergunta de fã: "Já discuti a série bastante com muita gente séria. E aparece muito essa ideia de que ela mudou os quadrinhos, mas não necessariamente pra melhor. Foi ela que levou a esses personagens sombrios, cínicos. Sempre senti um pouco de culpa porque existe uma certa verdade nessa ideia". O autor também comentou o aspecto político da história: "Não tenho vergonha de dizer que sou de esquerda e que não sou chegado na política Reagan [que a série criticava], por isso acho que a abordagem satírica foi apropriada. Mas também acho que há espaço na mídia para personagens idealistas, com esperança e ambição, que talvez sejam mais inocentes. Uma das coisas que eu mais gosto no Superman de Geoff Johns [que Janson arte-finaliza] é que há um personagem um pouco ingênuo. Eu gosto disso. Mas história boa é história boa e eu comeria vidro pra ter uma história boa onde eu pudesse fazer crítica política".

Tanto Snyder quanto Janson comentaram que as mudanças recentes na linha de Batman, e outras por vir nos EUA, são inacreditáveis. "Parece que eles não têm medo de nada e querem fazer coisas que surpreendam os leitores", disse Janson. "Tem grandes mudanças vindo por aí no verão", disse Snyder.

Um fã perguntou o que faz Batman perdurar depois de 75 anos. Snyder deu a melhor resposta: "No fim das contas, o que faz o Batman durar é que ele é um ser humano. Pra mim, a mensagem é inspiração. Quando era criança ele sofreu um dos maiores horrores possíveis, e ele nos diz que 'se eu posso superar essa tragédia e virar esse negócio impossível, ser o maior detetive, maior super inventor, maior super lutador, então você pode superar qualquer coisa e ser um super-herói'. Ele é a resistência, a revolta, você se defender do mundo".

Quanto a fazer mudanças no personagem depois de tanto tempo, sem agredir os fãs, Snyder também deu sua perspectiva: "Toda mudança que se faz no Batman provoca raiva e certo receio. Mas eu sei que eu amo o Batman e não faria algo de mal ao que é central no mito do personagem. Você só tem um chance de escrever o Batman - e não é pra mudar tudo, mas pra fazer aquilo de um jeito que seja inovador, pessoal. Tem que ser seu".

Dave Johnson: "Então vamos fazer ele virar negro e transsexual!".

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