The Tomorrow People e The 100 | Da Frigideira

Da literatura infanto-juvenil para o cinema, as ficções científicas teen agora passam para a televisão. O canal CW mostrou aqui na Comic-Con 2013 dois pilotos de séries que almejam ser o novo Jogos Vorazes: The Tomorrow People e The 100.

The Tomorrow People

Produzido por Greg Berlanti (Lanterna Verde) e Danny Cannon (Nikita), Tomorrow People segue um grupo de jovens com uma condição genética única, capazes de se teletransportar, comunicar-se via telepatia e mover coisas com a mente. A premissa não poderia ser mais genérica: esses jovens "do amanhã" creem ser o próximo passo na escala evolutiva e por isso são caçados por uma agência obscura, liderada por Mark Pellegrino (o Jacob de Lost).

Com exceção de uma virada ao final do episódio - que deve dar o tom de jogo duplo da série - nada no piloto indica que Tomorrow People terá uma personalidade própria. A série deve seguir à risca a fórmula estabelecida no canal: muda o cenário mas ficam as intrigas familiares e amorosas. O protagonista terá que escolher entre a garota confidente do colégio e a bela parceira de clandestinidade (vivida por Peyton List, de Mad Men), o tio vilanesco provavelmente vai se envolver com a mãe do herói etc. E os momentos de efeitos visuais (os "hadoukens" de telecinese e os bullet times) não têm impacto suficiente para atrair uma audiência masculina à série.

O mais interessante do piloto de Tomorrow People é a leitura cientológica que a série permite. A auto-ajuda ("acredite em você mesmo"), a crença no pós-morte ("não existe terra prometida", diz o vilão aos jovens) e o discurso contra a farmacologia ("remédios só servem para bloquear o potencial da sua mente") e a psiquiatria (fica óbvio que o herói "doente" vai jogar seus remédios na privada) são típicos da Cientologia. Se bobear, Robbie Amell foi escolhido protagonista por parecer um Tom Cruise jovem.

The Tomorrow People estreia no CW em 9 de outubro, nos EUA.

The 100

Das várias séries do CW feitas sob medida para a geração dos Millennials - os jovens dos anos 2000, cheios de potencial, que se paralisam sob a sombra das realizações de seus pais - nenhuma é mais literal do que The 100, o que faz dessa série um potencial guilty pleasure ou pelo menos um produto para consumo irônico descompromissado.

É literal porque, na trama, os adultos de fato deixam para os seus filhos a responsabilidade de herdar o mundo. Num futuro distópico, em que a Terra foi dizimada por uma hecatombe nuclear, a humanidade vive numa estação espacial que enfrenta escassez de recursos. A única chance de sobreviver é mandar os jovens condenados - qualquer delito pequeno é passível de prisão na estação - de volta para a Terra, para ver se a radiação baixou o suficiente para todos retornarem ao planeta.

Os 100 do título são os tais jovens condenados, mas seguimos no piloto só a meia-dúzia de estereótipos padrão: a donzela líder, o bully, o revoltado, o nerd, a gostosa e o obrigatório sidekick de minoria étnica. Quando chegam à Terra e se dividem entre grupos rivais - os rebeldes que querem uma nova ordem mundial e os obedientes à estação - a questão é menos como sobreviver e mais como lidar com as expectativas dos adultos. "Lá em cima eles são fazendeiros, médicos, engenheiros!", defende-se o jovem caxias quando os rebeldes decidem que não precisam mais dos adultos.

O elenco adulto junta nomes conhecidos da TV para dar um lastro à série - como Henry Ian Cusick, o Desmond de Lost, no interessante papel do líder draconiano da estação -, o que acaba ressaltando como os adolescentes são mirins. O efeito cômico é imediato, como deu para ver com o público durante a exibição aqui em San Diego. Imagine Girls como um sci-fi trash da produtora Asylum, uma mistura de drama millennial com efeitos baratos de computação gráfica, e já dá pra entender o tipo de potencial que a série de Jason Rothenberg (esta é a primeira criação do produtor para a TV) pode ter.

The 100 estreia no midseason da temporada 2013-2014, provavelmente no início do ano que vem.