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Doctor Who | Saiba o que rolou no evento que trouxe Peter Capaldi, Jenna Coleman e Steven Moffat ao Brasil

Os três apresentaram uma série cada vez mais comprometida com o futuro

19.08.2014, às 19H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H36

Na última segunda-feira, em pleno Rio de Janeiro, mais precisamente dentro do Copabacana Palace, uma cabine azul chegou fazendo um imenso barulho, cheia de luzes e sons. De dentro da TARDIS invisível, saíram os três maiores nomes da série Doctor Who que teriam, justamente no Rio, a última parada de uma turnê que quer divulgar a oitava temporada da série, mas que também quer providenciar a antecipação de um plano: convencer a audiência de que perder Matt Smith é ganhar Peter Capaldi.

Quando digo que não se trata apenas de uma divulgação, me refiro a exatamente isso. Mesmo antes de sua estreia, Doctor Who buscava a disseminação de um novo astro, uma nova esfera de empatia, uma aproximação quase íntima com os fãs que tornasse a transição dos protagonistas mais efetiva, menos ameaçadora. É claro que ainda que nada disso tivesse sido feito ao redor do mundo (durante 12 dias), o público da série estaria ali, assistindo. Mas diante dos resultados vistos a olho nu após a coletiva e exibição do episódio, fica muito evidente que essa turnê antecipa um estado de tranquilidade ainda mais intenso.

Doctor Who The World Tour 19Ago2014 04

Um "novo" Doctor

Quando foi anunciado que Capaldi seria o novo Doutor, uma das reações mais frequentes foi a que dizia respeito à idade do personagem. Estávamos saindo de uma versão jovem do personagem, que imprimia uma vivacidade específica, com Matt Smith sempre nos olhando marotamente, de baixo pra cima, com seu topete característico sombreando suas expressões. Estávamos saindo dele para um Doutor bem mais velho, o que poderia significar, em alguma instância, mudanças bem específicas na condução da série.

O que Steven Moffat veio dizer, basicamente, foi o oposto disso. Ao responder perguntas sobre o futuro de Doctor Who, ele foi bem enfático: "não vamos promover retrocessos, estamos pensando sempre no futuro, em novas perspectivas". Se a mudança no rosto do personagem deixa aberta a possibilidade de também rever a estrutura estilística do programa, no caso da era Peter Capaldi pode ser que isso nem de longe aconteça. Moffat respondeu a perguntas sobre as diretrizes da série a partir daqui, deixando bem claro que Doctor Who vai continuar buscando honrar a mitologia narrativa, mas sempre pensando em como manter dentro daquele universo uma evolução notória. Por isso a mudança no rosto do protagonista não é - como pensaram alguns dos jornalistas presentes - uma chance de retomar classicismos. Doctor Who, na estreia da oitava temporada, mostrou exatamente o contrário. Nunca se pensou tanto no futuro quanto agora.

Capaldi esteve extremamente disponível durante todo o decorrer do evento. Não é só uma questão de aceitar a nova faceta do personagem, mas também de aceitar o homem por trás dele. E o ator não se fez de rogado - como um declarado fã da série (desde seus tempos de criança lá nas "terras frias e escura da Escócia", quando um episódio sobre uma invasão de Daleks é sua lembrança mais forte), Capaldi conduziu suas declarações sobre o personagem tentando deixar muito claro o respeito que ele tem pelo que foi feito pelos que assumiram o papel antes dele. Depois das colocações de praxe sobre o quanto está admirado com a popularidade do programa, o astro começou a estabelecer que seu maior trabalho enquanto ator é adaptar-se ao Doutor de uma forma que torne sua interpretação parte de um processo gradativo, ininterrupto.

"Não gosto de usar a palavra 'mais' porque ela me afasta do que os outros fizeram". Essa foi uma das declarações mais efetivas dele durante a coletiva. Seu Doutor não poderia ser mais intenso, mais humano, mais esperto ou mais qualquer coisa. O plano é sempre tornar distinguível - ainda que com um toque pessoal - uma centelha do que o personagem sempre foi, mesmo que tenha tido tantos rostos diferentes. É claro que Capaldi tem sua própria visão do personagem, ele acha que sua encarnação é bastante passional, ávida, que reconhece os privilégios de ver a mágica através do mundo, ficando até aborrecido quando os que estão a sua volta não se sentem da mesma maneira. Mas, é claro, sempre mantendo próxima da superfície aquela dose discreta de melancolia, resultado de um passado de decisões que nem sempre foram fáceis de serem tomadas. Porém, ele fez questão de frisar que não se trata de buscar uma faceta sombria para o personagem, o que ficou bastante claro no episódio de estreia.

Cada um dos presentes tinha direito a fazer uma pergunta e, na minha vez, eu perguntei à Jenna Coleman se a mudança de Doutor tinha mudado a abordagem dela, enquanto atriz, na composição de Clara. Ela confirmou que sim, com bastante ênfase, dizendo que essa versão bastante passional do personagem tornava a transição ainda mais intensa para Clara, que isso a fez precisar lidar com um novo caos, uma mudança na dinâmica das coisas e que isso é ótimo para ela. O que não sabemos é se isso será suficiente para manter Coleman no elenco por mais tempo. Indagada sobre os boatos de que esse seria seu último ano, ela respondeu: "se vocês querem saber o que vai acontecer em Doctor Who, assistam a Doctor Who. Não acreditem no que leem por aí". Capaldi ainda aproveitou para invocar Arquivo X e completou: "não confie em ninguém".

Antes de terminar a coletiva, Moffat falou mais um pouco sobre como é escrever duas das séries de maior sucesso do Reino Unido (ele também é o showrunner de Sherlock) e que acompanha o trabalho dos atores que já passaram pelo programa. O mais curioso é que todo o aspecto lúdico da série acaba resvalando em tudo o que diz respeito a ela. No palco, Capaldi e Moffat falavam sobre como era curioso serem fãs do programa e, em algum momento da vida, acabarem fazendo parte dele, enquanto na plateia os sérios jornalistas que faziam perguntas práticas, esperavam ansiosos pelo momento de ficaram frente a frente com aqueles que não eram só a pauta de uma matéria, mas também eram representações de uma imensa paixão. Capaldi deu autógrafos personalizados para quem quis ter um, tirou fotos e distribuiu simpatia. O reinado de um novo Doutor começara da forma mais eficiente possível.

Doctor Who The World Tour 19Ago2014 02

A estreia de uma nova era

Ainda na coletiva, todos os presente precisaram assinar um termo de responsabilidade para a não divulgação de qualquer informação acerca do episódio que veríamos a seguir. Na exibição para os fãs cada jornalista tinha em seu assento um lembrete de que era proibido gravar ou divulgar qualquer detalhe.

Sendo assim, pouco poderei dizer sobre o que vi e, de certa forma, diante do resultado final, o sentimento é o de querer mesmo preservar a surpresa e a emoção, que serão, posso garantir, muito especiais para todos os fãs que não puderam assistir a esse episódio antecipadamente. Na conversa com os fãs, Moffat inclusive pediu a eles que não contassem a ninguém o que tinham visto. Por mais ingênuo que possa parecer, a impressionante rede de divulgação de spoilers calou-se para a grande surpresa do episódio, garantindo o efeito pretendido quando ela salta da tela direto no nosso emocional.

Posso dizer que foi uma estreia segura. Apesar de estarmos num universo em que lidamos com apego e desapego o tempo todo, esse foi um episódio conduzido de forma eloquente, manipulando a favor de si mesmo tudo aquilo que poderia ser problemático para os fãs. Ou seja, a idade avançada do novo Doutor, por exemplo, foi um dos alvos do roteiro o tempo todo. Com muito humor, a história foi tentando suavizar o caos em que se transformou a relação entre Clara e o protagonista e buscou fazer o espectador se compadecer daquilo que magoa aqueles que não são vistos pelo que são. Essa foi toda a abordagem do episódio: será mesmo que um rosto diferente impediria Clara de ver o verdadeiro homem por trás dele?

Sem dúvida o efeito pretendido foi conquistado. Ao entrar no palco para conversar com os fãs, Capaldi já era parte de uma rede de paixões incrível. A turnê de Doctor Who já tinha cumprido seu papel. Que venha o oitavo ano, enfim.

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