Na tarde deste 7 de setembro, Gregório Graziosi, único diretor brasileiro a entrar na edição 2014 do prestigiado Festival de Toronto, apresentou seu filme Obra para a plateia canadense. A primeira exibição mundial do longa deu-se para uma sessão lotada, com direito a perguntas e respostas depois - e foram várias indagações da plateia, interessada no primeiro longa do cineasta.
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"É uma responsabilidade e uma honra representar o Brasil em um festival como o de Toronto", disse Graziosi ao Omelete minutos depois da première. "Foi uma enorme surpresa receber o convite para fazer a primeira exibição de Obra aqui. É um privilégio ser essa espécie de porta-bandeira aqui".
Para o diretor paulistano, fazer Obra foi uma questão de urgência. "Eu tinha que fazer esse filme. Ele tinha que ser o primeiro, pois eu queria muito falar da minha relação com São Paulo. Para mim, a cidade só pensa no cotidiano, no novo, não sabe lidar com o que veio antes", contou. No longa, um arquiteto precisa lidar com segredos de sua abastada família e sua herança ao descobrir um cemitério clandestino no terreno do novo empreendimento da construtora fundada pelo avô.
A cidade retratada por Obra, opressiva e claustrofóbica, é fruto da observação de anos do cineasta do espaço urbano. A mesma cidade em que surgiu seu amor pelo cinema. "Eu cresci em uma casa do lado da Cinemateca, na Vila Mariana. É engraçado! Abria a minha janela e tinha um prédio. Não via nada. Hoje mudei para um andar alto - e tenho aquela visão estranha, de todos os muros, que vemos no começo do filme", explicou. "Já o som que usamos no filme, aquela coisa constante, a ambiência emocional, meio de maquinário, um som de coisas em funcionamento o tempo todo, é algo que sinto todos os dias. Eu gosto de escrever em casa, não consigo na produtora. Mas aí chega a hora do rush, seis da tarde, e mesmo que eu não enxergue a avenida 23 de Maio de casa, ela entra na minha sala, sem convite, como um monstro invisível", comentou, revelando ainda que a inspiração para a sonosplastia veio parcialmente dos filmes de David Lynch.
"É um filme paulistano, mas com uma temática universal. É sobre moralidade. Qualquer um entende isso e consegue se relacionar com o tema", seguiu Graziosi, que contou com o apoio de seus colaboradores frequentes, equipe que conheceu na faculdade. "Um filme pessoal assim eu acho que só dá pra desenvolver cercado por pessoas em que você confia cegamente, meus amigos".
Para o futuro, Graziosi planeja uma adaptação em longa-metragem de um de seus curtas, Saltos. "Vou colocar como protagonista uma atleta que está perdendo a audição. Vai ser um desafio interessante", disse. "Uma das coisas que mais me ajudaram na transição dos curtas-metragens que fiz, que quase não tinham roteiro, para o longa foram os quadrinhos", revelou, dizendo que o Batman foi um exemplo de como desenvolver um personagem. "Eu admiro o trabalho de caras como Grant Morrison, que precisam trabalhar dentro de limitações [impostas pela editora] e conseguem deixar sua marca por anos depois. Gosto de ver como eles adicionam coisas aos personagens sem efetivamente mexer demais na mitologia, aproveitando o que já existe. Sem falar nas longas discussões que temos sobre o uso de luz em determinadas histórias, como o que David Mazzucchelli fez em Batman: Ano Um. Ah! Chega de falar de cinema! Vamos falar de quadrinhos agora!", brincou.
Obra seguirá agora o circuito de festivais, começando com o do Rio de Janeiro, no mês que vem.
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