Conhecida como a roteirista dos filmes de seu marido, Jared Hess, como Napoleon Dynamite e Nacho Libre, Jerusha Hess faz sua estreia como diretora em Austenland. Embora alguns traços de estilo sejam inequívocos (enquadramento tableau, câmera lenta, tratar os personagens com um misto de ridículo e empatia), neste filme Jerusha se aproxima mais das convenções do cinema de gênero do que seus trabalhos anteriores davam a supor.
austenland
austenland
O filme é uma adaptação do romance homônimo de Shannon Hale. Na trama, Jane Hayes (Keri Russell) tem 32 anos e ainda espera o príncipe encantado. Como ela é obcecada pela escritora Jane Austen, seu príncipe encantado é bem específico: Mr. Darcy, o ícone do amor romântico de Orgulho e Preconceito. Com suas economias, Jane compra um pacote de férias para Austenland, uma propriedade no interior da Inglaterra onde atores profissionais estrelam situações austenianas: caçam faisões, comandam bailes e, claro, "apaixonam-se" pelas donzelas turistas.
Como Jane comprou o pacote mais barato, ela é relegada aos aposentos mais afastados do casarão, e logo se aproxima de Martin (Bret McKenzie), o responsável pelo estábulo - tipo humilde que toca saxofone e escuta hits cafonas de rádio (a antiga Jerusha em ação...) e desdenha o tal teatrinho. Aos poucos Jane atrai a atenção de Mr. Henry (J.J. Field), porém, o "Mr. Darcy" da mansão, e o triângulo se estabelece entre a americana, o cara pobre e sincero e o tipo aristocrático e convencido.
Por conta da premissa, Austenland vai mais longe do que O Diário de Bridget Jones na brincadeira metalinguística com o clássico impasse austeniano. Se Renée Zellweger era a própria narradora do triângulo de Bridget Jones (ter a consciência da sua condição é o que dava o tom de metalinguagem), Keri Russell tem em Austenland não só a consciência de sua condição mas a consciência da própria fórmula: ela sabe que terá que escolher entre um homem ou outro porque, afinal, esse é o script que lhe cabe na viagem.
A Jerusha Hess não interesse levar essa ideia ao limite, a um labirinto à la Charlie Kaufman de simulacros e representações. A diretora e seu ótimo elenco coadjuvante na verdade parecem se divertir mais ao imitar as afetações britânicas, fazendo algumas graças com o gênero (claro que tem cena de aeroporto), sem transformar Austenland numa experiência cabeçuda.
Na verdade, embora o filme todo transpire vocação hipster - fica piscando, invisível, sobre a cabeça dos personagens o neon "consumo irônico" - a Senhora Hess parece mais disposta aqui a se aproximar do cinema comercial, com suas fórmulas e suas soluções pré-aprovadas, do que se poderia imaginar.
Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013
Ano: 2013
País: Reino Unido, EUA
Classificação: 14 anos
Duração: 97 min
Direção: Jerusha Hess
Elenco: Keri Russell, J. J. Feild, Bret McKenzie, Jennifer Coolidge, James Callis, Georgia King, Rupert Vansittart, Ricky Whittle, Jane Seymour, Ayda Field, Ruben Crow, Demetri Goritsas, Parker Sawyers, Sarah Niles, Annie Gould, Tracy Higgins, Goldy Greaves, Bernadette Chapman, Julie Newman, Alison Carpenter, Brenda Storer, Caroline Bond, Hema Bedre, Joanna Abbot, Sandra Morgan, Suzanne Downes, Richard Reid, Austin Wilks, Alan Calton, Tom Whitecross, Jadran Malkovich, Gideon Jensen, Andrew Samuels, Dino Georgiades, Erica Elmer, Fabian Bourgoin Heskia, Gunalp Kocak, Lee Craven, Mazlum Kortas, Ryan Bohan, Samantha-Jane Hunt, Yiannis Morgan, Jonathan Whittaker