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Crítica

Corações Famintos | Crítica

Drama italiano com Adam Driver trata a incomunicabilidade no casamento como caso de polícia

30.09.2014, às 11H56.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Casamentos andam em baixa na atual temporada, e inclusive viram caso de polícia em filmes como Garota Exemplar e também neste Corações Famintos (Hungry Hearts, 2014), que deu ao seu casal protagonista, Adam Driver e Alba Rohrwacher, os prêmios de melhor ator e melhor atriz no Festival de Veneza.

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Méritos à parte, não é difícil entender a necessidade de o festival premiar a produção local que se dispõe a fugir da mesmice atual do cinema italiano. Certamente não dá pra dizer que o longa de Saverio Costanzo, adaptado do romance Il Bambino Indaco, de Marco Franzoso, se conforma com o feijão-com-arroz dos dramas de crise matrimonial.

Em atuação competente, como de costume, Driver vive Jude, um novaiorquino de família imigrante que conhece a italiana Mina (Rohrwacher) durante uma viagem e a engravida nos primeiros meses de relacionamento. Ao se mudarem para Nova York, onde se casam, começam as diferenças: a vegana Mina quer criar o filho com os alimentos que ela planta, sem médicos, sem contato com a rua, protegido de tudo, e Jude pensa o oposto.

É curioso que Jude tenha falado em realidades alternativas quando conheceu Mina, porque a trama de Corações Famintos se desenrola como se estivéssemos presenciando uma versão teatralizada, paralela, de um casamento que passa pelos ajustes naturais a todo relacionamento: as concessões, as falhas de comunicação, as expectativas frustradas, a cumplicidade construída na tentativa-e-erro.

Na busca de uma voz própria, Corações Famintos adota essa postura tentativa-e-erro como estratégia. Ora flerta com o estilo John Cassavetes de registrar o caos conjugal na cidade, ora adere à claustrofobia dos suspense de apartamento de Roman Polanski, com direito a lente grande angular na sala de estar. Os erros são mais chamativos que os acertos, como a trilha sonora que torna Corações Famintos mais próximos dos terrores baratos, ou o simbolismo à beira da comédia involuntária (a sogra da vegetariana coleciona cabeças de animais empalhados, sério?).

Se há uma coisa de que Costanzo tem convicção - neste filme em que os personagens parecem ultrassensíveis mas estão cercados de niilismo - é que certos relacionamentos já começam fadados à ruína, como um casal que se vê preso num banheiro, num primeiro encontro, e não têm outra esperança a não ser torcer para ninguém se machucar ao sair.

Nota do Crítico
Bom

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