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Crítica

Joe | Crítica

Nicolas Cage não se encaixa no filme da volta ao naturalismo de David Gordon Green

03.10.2013, às 14H25.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Depois de dirigir Segurando as Pontas e mais duas comédias, o diretor David Gordon Green retorna em Joe aos temas e cenários do seu começo de carreira, quando despontou no cinema independente como um dos muitos seguidores de Terrence Malick. Joe lembra bastante Contra Corrente (2004), o terceiro longa de Green; ambos tratam, em forma de fábula do Bem contra o Mal, de famílias não tradicionais que se formam sob as urgências da natureza.

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A diferença é que Joe tem Nicolas Cage como protagonista, e apesar de todos os elogios à atuação do ator festivais afora (suspeito que muitos frequentadores de festivais não assistam a filmes de Nicolas Cage com regularidade para saber comparar), a figura do astro se torna um fardo em Joe, um filme cujo sucesso depende de comprarmos, ou não, sua proposta naturalista.

De barba comprida e fazendo sua melhor imitação de Clint Eastwood, Cage interpreta o Joe do título, capataz das 8h às 16h de um grupo de trabalhadores no campo. O serviço envolve machucar a machadadas, com uma mistura de veneno, árvores condenadas que serão substituídas futuramente por pinheiros mais robustos. Quando compreendemos o drama do coprotagonista, o adolescente Gary (Tye Sheridan, ator promissor), que procura emprego no grupo e vê em Joe uma figura paterna muito melhor do que seu pai viciado e violento, a metáfora central fica evidente: trocar árvores fracas, fundações fracas, famílias fracas, por outras mais fortes.

E a "família" de Joe, formada de negros e prostitutas, é obviamente mais interessante do que a dos caipiras alcoólatras que infestam Austin, a cidade do Texas cujos arredores serviram de cenário para Joe. Para funcionar, o filme de Green depende não só da sua proposta naturalista, mas de que acreditemos, só de olhar na cara das pessoas, que elas realmente vivem naquele fim de mundo. É por isso que o grande trunfo de casting é Gary Poulter, um sem-teto que vivia pelas ruas de Austin e foi chamado a fazer um teste de elenco, para o papel do pai de Gary. Poulter, que nunca atuou e lidava com abusos de substâncias desde a adolescência, voltou para as ruas e morreu dois meses depois das filmagens.

Em entrevistas, Green diz que escolheu Poulter justamente pela carga que o homem trazia ao rosto. Como as árvores marcadas na lâmina, a cara do sem-teto inequivocamente sintetiza a sua história. O diretor tenta reproduzir esse acúmulo epidérmico de experiências em alguns dos atores profissionais do elenco - a cicatriz do vilão, a barba de Cage - mas é óbvio que o resultado nunca seria o mesmo.

Então é triste constatar que talvez Joe fosse um filme melhor se não fosse Nicolas Cage no papel principal, um ator que carrega no rosto um histórico, sim, mas de um camaleonismo quase esotérico - característica que atrapalha na hora de compor um personagem como Joe, cuja tragédia pessoal está associada justamente à sua incapacidade de ser outra pessoa senão ele mesmo.

Acompanhe as nossas críticas do Festival do Rio 2013

Nota do Crítico
Regular
Joe
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Joe
Joe

Ano: 2013

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 117 min

Direção: David Gordon Green

Elenco: Nicolas Cage, Tye Sheridan, Ronnie Gene Blevins, Sue Rock, Heather Kafka, Robert Johnson, Gary Poulter, Adriene Mishler, Brenda Isaacs Booth, Aaron Spivey-Sorrells, Dana Freitag, Anna Niemtschk

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