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Crítica

A Vida Privada dos Hipopótamos | Crítica

Um personagem à procura de um filme

06.05.2015, às 15H11.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

"Estamos só aqui esperando", diz a operadora de câmera para a criança que atravessa a calçada e, curiosa, não entende o que uma equipe de filmagem estaria fazendo, parada, numa rua calma de subúrbio americano. É assim que os diretores de A Vida Privada dos Hipopótamos (2014) se comportam em boa parte do documentário: à espera de que, dali, um filme se manifeste.

O projeto nasceu da ideia de documentar a história de estrangeiros que estão em cárcere no Brasil. Os diretores Maíra Bühler e Matias Mariani chegam a Christopher Kirk, americano que cumpre pena em São Paulo. O crime é revelado só no final, para efeito de suspense. Kirk é o típico nerd programador, que nunca teve muita sorte com as mulheres, e é por causa de uma delas que sua história terminou num presídio brasileiro.

a vida privada dos hipopótamos

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Não só essa criação do suspense (presente também no mistério em torno da imagem da mulher) e a revelação final, mas também a divisão do filme em capítulos e a escolha dramática da trilha sonora tentam dar a A Vida Privada dos Hipopótamos um sentido de narrativa que o documentário não consegue sustentar o tempo inteiro. Bühler e Mariani juntam imagens de arquivos do computador de Kirk, diálogos de Messenger, vídeos do Youtube, tentam cobrir como podem uma história que tem, no relato em primeira pessoa de Kirk, sua única fonte real de validação.

É a palavra do preso que vale, enfim. O que salva a pele dos diretores aqui é que Christopher Kirk, ao contrário de detentos envergonhados ou nerds introspectivos, é um personagem ávido por criar sua própria mitologia, como um jogador de RPG que teve a oportunidade de trazer a fantasia para a realidade, e não a desperdiçou. Desde a explicação do porquê dos hipopótamos até o desfecho da trama, à moda Keyser Söze (personagem de Os Suspeitos com quem Kirk tem insuspeita semelhança física), tudo neste filme se rende à história ditada por seu personagem.

Nada, portanto, faz mais sentido em A Vida Privada dos Hipopótamos do que assistirmos, perto do fim, a um vídeo gravado pelo próprio Kirk e publicado em seu canal do Youtube. É quando o personagem de fato assume o controle da imagem, como uma recompensa pela história de vida que acabou de entregar, à distância.

Nota do Crítico
Regular
A Vida Privada Dos Hipopótamos (2014)
A Vida Privada Dos Hipopótamos
A Vida Privada Dos Hipopótamos (2014)
A Vida Privada Dos Hipopótamos

Ano: 2014

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 91 min

Direção: Matias Mariani

Onde assistir:
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