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Igby vai à luta abusa das referências, mas confunde espectador e não convence
Não, foi a primeira coisa que escutei da boca de Claire Danes depois de quase nove anos de sua ausência em minha vida de cinéfilo e fã.
Fã mesmo. Em setembro de 1994, dividindo a grade de programação com sérias chatas como Party of five e Baywatch, apareceu algo original, inovador e com personagens que pareciam falar a minha língua: My so called life. Danes interpretava Angela Chase, uma colegial bonitinha, pós-grunge e cheia de amigos estranhos. Chase e a série flertavam mais com o lado negro da adolescência americana do que com carros velozes, cortes de cabelo e loiras em uniformes apertados.
A grande diferença entre My so called life e o resto de programas para adolescentes na TV é que a série parece ter sido escrita por alguém enquanto ainda vivia a adolescência e não por um adulto relatando como gostaria que tivesse sido. Na época, a personagem de Danes parecia ser a melhor amiga que alguém poderia ter.
Infelizmente, a série foi cancelada depois da primeira temporada. No entanto, Holywood percebeu a empatia de Danes com o público e logo arrumou papéis para a atriz, que participou de mais de uma dezena de filmes, entre eles, o blockbuster Romeu e Julieta. Não me dei ao trabalho de ver nenhum deles. Talvez por ter sentido que sua carreira seguia caminhos tortos, a atriz resolveu dar um pause de quase três anos para estudar e passar um tempo ao lado de seu namorado, o cantor indie australiano Ben Lee.
Em 2003, ela voltou a aparecer na minha frente (e não por causa de O exterminador do futuro 3). Foi em A estranha família de Igby, um drama cômico sobre um garoto de família rica que passa parte da infância vendo o pai ir à loucura, foge da escola militar e parte para Nova York em busca de diversão e um sentido em sua vida.
Mesmo tocando em questões sociais de impacto como adultério, consumo de drogas pesadas, problemas mentais e abuso de poder, o filme parece ter medo de levar esses temas à sério. A estranha família de Igby perde-se neste ponto, quando não sabe que característica assumir: o de comédia ou drama. A platéia também perde a referência e acaba numa posição muitas vezes desconfortável, sem saber se deve rir da tragédia ou chorar com as palhaçadas.
O diretor Wes Anderson, em Rushmore, segue um caminho parecido, mas seu excelente trabalho, com referências mais contundentes e personagens bem construídas, conseguem convencer o espectador.
Em Igby, nem os diálogos ajudam. São demasiadamente forçados, com frases prontas que apenas contribuem para a falta de realismo do filme.
Ok, tá legal. O filme não é inteiro ruim. Jeff Goldblum, como padastro, e Susan Sarandon, como a mãe de Iggy estão muito bem. E Claire Danes está ali no meio do jeitinho que eu gosto. Ela é Sookie, uma vegetariana bonitinha, capaz de enrolar cigarros de maconha perfeitamente e que, além de soltar um não em sua primeira cena, acaba tendo um caso amoroso com Igby (Kieran Culkin, irmão de Macaulay "Esqueceram de mim" Culkin).
Escrito e dirigido pelo novato Burr Steers, Igby vai à luta tenta ser uma mistura do bom filme Royal Tenenbauns, de Wes Anderson, com o clássico livro O apanhador no campo do centeio, de JD Sallinger, mas não chega nem perto.
Uma boa idéia mal executada.