Filmes

Notícia

A Ponte

Documentário tenta desvendar os suicídios no cartão-postal

23.08.2007, às 16H00.
Atualizada em 04.01.2017, ÀS 15H06

A Ponte (The Bridge, 2006) marca a estréia de Eric Steel como diretor de cinema. O documentário concentra-se na ponte Golden Gate, em San Francisco. Mas não pense que a narrativa é sobre o ponto turístico norte-americano. O filme mostra que este é o lugar do mundo com o maior índice de suicídios, idéia baseada em Jumpers, artigo escrito por Tad Friend e publicado na revista New Yorker em 2003.

Steel registrou diariamente em 2004 a rotina sinistra do cartão-postal. Além do movimento de carros, pedestres e turistas, ele flagrou mais de vinte suicídios! O filme mostra pessoas subindo no parapeito da ponte e se atirando. Além de documentar o ato, o diretor buscou depoimentos de familiares e amigos dos suicidas para tentar entender os motivos de tal atitude. O documentário é controverso e abriu as discussões sobre a colocação de grades anti-suicidas na ponte.

Parte da polêmica em relação ao projeto veio da forma como Steel o conduziu. Ao solicitar às autoridades permissão para filmar no local, não deixou claras as suas intenções e assim conseguiu a autorização necessária. Além disso, durante as entrevistas, o diretor não disse aos parentes dos suicidas que tinha imagens das pessoas se jogando da ponte.

Ética à parte, o problema do filme de Steel é a forma extremamente amadora e didática que ele retrata o assunto. São depoimentos e mais depoimentos dos familiares e amigos contando sobre as possíveis razões dos suicidas - e a lista é extensa: doenças mentais, depressão, esquizofrenia, entre outras enfermidades. É justamente aí que acontece o erro: ele se esqueceu de colocar profissionais e psicólogos que pudessem explicar o porquê do uso da ponte pelos suicidas. O filme não busca qualquer esclarecimento científico e essa carência de dados dá uma curiosidade mórbida ao filme. Parece um simples registro de pessoas se atirando. Nem o porquê dos suicidas escolherem se jogar no lado que fica para a cidade de San Francisco é elucidado. O que poderia ter sido um relato definitivo e interessante, se transforma num documentário oportunista.

Entre os testemunhos ele coloca imagens de carros e nuvens se movendo na ponte de forma rápida. Claramente dizendo que morrer é uma questão de tempo. Ao acelerar as cenas ele faz uma alusão que os suicidas apressam esse processo. As metáforas não param por ai. Segundo o próprio Steel, ao filmar a ponte envolta por nevoeiros a intenção é mostrar que a construção representa o caminho entre a vida e a morte.

Dados sobre a construção da ponte, seu tamanho e outras curiosidades que poderiam ajudar no entendimento também são ignorados, algo que contribuiria bastante para o interesse global do filme. Essas breves explicações ajudariam também quando Steel tenta desconstruir o cenário romântico que a ponte representa no imaginário do planeta.

Desde que a ponte foi inaugurada em 1937, mil e trezentas pessoas perderam suas vidas se atirando. Muitos corpos nunca foram encontrados. Foram levados para o Pacífico pelas correntezas. Esse número ainda pode ser maior, já que existem casos de possíveis suicidas desaparecidos. O pior que o número de mortos continuará aumentando e, se dependeremos do documentário de Eric Steel, nunca conheceremos a relação entre a ponte e essas pessoas desesperadas.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.