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Crítica

Crítica: Alô, Alô Terezinha!

Documentário mantém o espírito anárquico do Abelardo Barbosa, o Chacrinha

24.10.2009, às 20H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 00H04

Há algumas semanas um vídeo do sumido cantor Biafra cantando "voar voar, subir subir" e sendo atingido por um parapente surgiu na Internet e foi até parar no show da Ellen De Generes. A cena era parte de uma entrevista com o cantor para o documentário Alô, Alô Terezinha! (2008). Em um documentário "normal", tamanha pataquada ficaria de fora no corte final para não queimar o filme do entrevistado. Mas Alô, Alô Terezinha tem pouco de normal.

O diretor e roteirista Nelson Hoineff prefere levar o espectador ao riso, algo condizente ao espírito anárquico do Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que reinou na TV brasileira pelas décadas de 70 e 80, em canais como Tupi, Bandeirantes e Globo. Sem seguir roteiros, ele levava os diretores e produtores à loucura quebrando protocolos, dançando encoxado nas chacretes e buzinando com empolgação os desafinados calouros que pousavam na frente do seu microfone.

Alô, alô Terezinha

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Alô, alô Terezinha

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Alô, alô Terezinha

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Um dos aspirantes a cantor que ganhou o troféu abacaxi que simbolizava o fracasso é Almir dos Santos, prontamente rebatizado de Almir Fonfom. Em um dos primeiros depoimentos do filme, ele diz sem medo que chorava ao ver o programa e que não saía mais de casa depois de ter levado a buzinada em rede nacional. E vai além. Chama Roberto Carlos de "um bosta" antes de começar a mostrar para as câmeras (e microfones) de Hoineff todo o seu "talento".

E como vergonha-alheia pouca é bobagem, o filme tem ainda calouro pedindo palmas a maneta, gagos fazendo duetos e entrevistados desavergonhadamente declamando a uma chacrete juras de amor, falando sobre a paudurecência e contando como se desnutriu vendo a musa do passado dançando na frente das câmeras.

Se você se sentiu de qualquer forma ofendido pelo parágrafo acima, desencane, procure um outro filme para ver. O intuito aqui é mostrar a necessidade das pessoas de aparecer e o deslumbramento que o sucesso pode trazer. Ex-dançarinas do programa se revezam na tela falando que a pegação era generalizada, que havia consumo de drogas e até mesmo programas sendo feitos com direito a cheques em branco circulando.

Tem também o lado sério, de artistas como Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo, Fábio Jr. falando da importância do Velho Guerreiro e como participar do seu programa levava as músicas direto para as paradas das rádio e inflava a agenda de qualquer músico. Os astros parecem não se importar (ou não entender) o mico que é ficar de pé cantando à capela sucessos do passado. Me lembrou muito as entrevistas do Brüno, o personagem do jornalista austrícia criado por Sacha Baron Cohen e consegue com que seus entrevistados conversem com ele nas mais bizarras posições como se aquilo fosse normal.

O lado mais trash (sim, sempre dá para piorar) vem quando Nelson Ned distribui patadas no diretor, Baby Consuelo dá um sermão evangélico pelo celular, um fã beija a bunda da Rita Cadillac e a Índia Potira se despe das roupas e qualquer noção dançando pelada na fonte de sua cidade. Fica difícil superar isso.

E vem então o grande deslize do filme, quando a câmera fica ligada e os entrevistados começam a chorar para as lentes, numa tentativa de emocionar o público à marra. Fábio Jr. se empolga e manda um "Tiamu" seguido do "'Brigaduu". E daí vem a pitoresca cena do Russo (o homem mais feio do Brasil) lembrando do Chacrinha e depois andando ladeira acima enquanto os créditos rolam. Uma desafinada digna de levar uma buzinada. Não fosse isso, o filme iria direto para o trono.

Nota do Crítico
Ótimo
Alô, Alô Terezinha!
Alô, Alô Terezinha!
Alô, Alô Terezinha!
Alô, Alô Terezinha!

Ano: 2008

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Direção: Nelson Hoineff

Roteiro: Nelson Hoineff

Onde assistir:
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