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Cineasta catalão Cesc Gay fala sobre os desafios de dirigir Ricardo Darín em Truman

Filme chega aos cinemas nacionais nesta quinta

11.04.2016, às 13H22.

Grande vencedor do prêmio Goya, o Oscar da Espanha, em 2016, a dramédia Truman, do cineasta catalão Cesc Gay, estreia no Brasil nesta quinta-feira, com a chancela de ter vendido cerca de 300 mil ingressos em seu país de origem, onde somou 3 milhões de euros nas bilheterias, disposta a repetir o feito por aqui, apoiada no carisma do astro Ricardo Darín. O mais popular ator da Argentina foi filmar em solo espanhol este conto de tintas agridoces sobre a finitude, no papel de Juliás, um ator fadado a morrer em decorrência de um câncer. Para tornar seus últimos dias de vida mais amenos, seu velho amigo Tomás (encarnado por Javier Câmara, de Fale com Ela) deixa sua rotina no Canadá para acertar velhas contas com Julián. Lá, os dois, na companhia do cão Truman e da sedutora Paula (Dolores Fonzi), vão embarcar numa jornada de afetos. Alguns dolorosos, outros hilários.

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A morte é o tema central deste filme e, por ser um assunto tabu, ela precisa ser vista sob um prisma capaz de equilibrar riso e pranto, repensando a cartilha do melodrama a partir da emoção da amizade”, diz Cesc Gay ao Omelete, em entrevista por telefone de Berlim, aonde prepara um novo (e ainda secreto) projeto. “Quando se percorre um caminho melodramático, você ganha de presente o exagero, pois, no folhetim, há um apelo para o excesso de tudo: a dor é enorme, o sofrimento é imenso. Essas emoções excessivas esbarram em um tom quase caricato e isso provoca riso. Se eu domino essa caricatura, consigo ampliar a graça”.

Encarado hoje como um dos diretores de maior prestígio da indústria espanhola, Cesc soma cerca de 18 anos de trabalho no cinema, como roteirista e realizador, em uma carreira que só despertou a atenção dos brasileiros em 2014, quando estreou por aqui a comédia em episódios O Que os Homens Falam. Ali, ele iniciou a parceria com Darín, injetando um pouco da comicidade argentina nas veias de Barcelona.  

Estes dois filmes são parentes, ainda que de forma indireta, pois ambos fazem uma crônica da condição masculina, vista sob ângulos distintas: o primeiro era irônico e bem mais amargo ao avaliar os valores da hombridade, enquanto Truman analisa os homens pela fragilidade”, compara o realizador de 49 anos, premiado em Cannes em 2000 com o prêmio da Juventude por Krámpack, filme comparado a Curtindo a Vida Adoidado (1986) em seu olhar sobre a rebeldia juvenil. “A história de Julian, seu cão e seus amigos que eu conto neste meu novo filme é uma reflexão sobre a arte da despedida. É um sobre as estratégias para tornar o fim de tudo mais ameno”.

Embora a descrição de Cesc soe melancólica, Truman virou um fenômeno popular na Europa por situações dignas de gargalhada protagonizadas por Darín, a quem o diretor compara com os gigantes do cinema.

“Sou um cineasta que tenta trabalhar com atores que despertam encanto. Se James Stewart ainda estivesse vivo, convidaria ele. Por sorte, hoje temos Darín, que tem esse balanço muito difícil de ser encontrado entre o humor e a tristeza. E nas filmagens de O Que os Homens Falam chegamos a uma forma de cumplicidade criativa rara”, diz Cesc, que vê a sombra da crise econômica obscurecer certos aspectos da saúde financeira da Espanha nas telas. “Nos anos 1980 e 90, quando Pedro Almodóvar se estabeleceu, vivemos um boom muito intenso de diretores surgindo e chamando a atenção do mundo. Esse crescimento se arrefeceu abalado sobretudo pelas disputas por fomentos à produção. Por isso, é difícil não sentir as consequências do mal-estar financeiro do país, mesmo em filmes de maior êxito. Mas seguimos tentando e filmando”.

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