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DVD: <i>Coleção M. Night Shyamalan</i>

DVD: <i>Coleção M. Night Shyamalan</i>

18.12.2003, às 00H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 17H07
Coleção M. Night Shyamalan
4 ovos

Shyamalan

Aproveitando a proximidade do Natal, o Omelete sugere um presentão: A Coleção M. Night Shyamalan.

Com o lançamento da coleção dos três primeiros filmes de Manoj Nelliyattu Shyamalan fica fácil demonstrar que há um novo e inteligente autor em Hollywood. Há muito tempo, a indústria cinematográfica não dava tanta chance e liberdade de criação para um diretor, especialmente se considerarmos sua origem estrangeira, indiana.

A indústria do cinema não costuma ser generosa com forasteiros, mas o sucesso de seu primeiro filme, O sexto sentido (1999), deu-lhe munição para outras felizes experiências.

Em Corpo fechado (2000) Bruce Willis vive um super-herói de quadrinhos em carne e osso. Aliás, muita carne e muito osso, tanto por uma força descomunal como pela impossibilidade de sofrer lesões.

Único sobrevivente de um terrível acidente ferroviário, Bruce Willis constata aos poucos que tem poderes especiais. O absurdo inicial é neutralizado pela carpintaria do diretor que, com seu ritmo peculiar, lento e cuidadoso constrói uma atmosfera em que o sobrenatural aparentemente ridículo torna-se acreditável para o espectador. Mesmo aquele que não gosta de ficção.

Shyamalan é especialista em indicar a direção com sinais claros e convincentes. Em O sexto sentido, a maior surpresa para o espectador é se dar conta que o grande segredo do filme está todo o tempo sendo mostrado. Como não percebi isto antes?

Em Corpo fechado, ocorre o mesmo, embora com menor impacto. Talvez o mais interessante deste filme seja a seguinte questão ética: qual é o limite para um poder aparentemente sem fim? A solução do filme prega a moral vigente de respeito às leis. Não há a vingança com violência que está na grande maioria dos filmes de ação.

A capacidade artística do diretor é evidente em Sinais (2002). Mel Gibson é um pastor afastado da religião após a trágica morte de sua esposa. Shyamalan combina drama pessoal com invasão alienígena. Estranho, não?

Novamente, a questão do núcleo familiar está presente. Para o diretor, a solução está no afeto humano mais elementar: a dedicação à prole, especialmente crianças. Elas sempre estão presentes em seus filmes, guardam segredos, não se espantam com o sobrenatural e ensinam os adultos sem a mínima cerimônia.

Em O sexto sentido, uma criança paranormal conversa com mortos e sofre por seu isolamento, sua diferença com os outros. Em Corpo fechado, a descoberta de um pai super-herói não traz a excitação que esperamos. É um convite à cumplicidade, à tentativa de reconciliação de uma família esfacelada. Em Sinais, as crianças apaziguam e ensinam que alienígenas têm seus hábitos, o que pode dar uma pista para a neutralização do inimigo.

O ritmo de Shyamalan é sempre o mesmo: o de uma orquestra de câmara. Não há músicas grandiosas, os efeitos especiais são discretos, mesmo sempre mexendo com o sobrenatural. Atores de filmes de aventuras (Willis e Gibson) são convocados para representar, diferentemente do que o público espera deles.

A ação lenta e envolvente, de evidente manipulação é a prova que o sentido da vida é feito por sinais, exatamente o título do terceiro filme. Sinal, para a filosofia pode ser entendido como um representante de alguma coisa para alguém.

Nos três filmes, os sinais são costurados e exibidos de forma linear somente nas conclusões das tramas, mas o sentido fica claro para o espectador. Mais do que diversão, os filmes de Shyamalan demonstram como funciona o pensamento lógico; como nossas idéias são encadeadas a partir de uma impressão, a articulação com outras impressões e a comparação com o já sabido.

Na resolução de Sinais, a eliminação do alienígena inimigo é descoberta pelo encadeamento de frases que ficaram na memória de Gibson, solução simples de um conhecimento que já estava lá, mas não era percebido.

O choque de O sexto sentido dá-se para Bruce Willis, o protagonista, mas também para o espectador quando percebe que todo o segredo do filme já fora mostrado. Isto é exercício da lógica, daquela que serve para a comunicação entre as pessoas.

Shyamalan é pura e fina diversão, mas um exame mais cuidadoso pode revelar uma curiosa e inteligente profundidade. Colocou-se, desde o primeiro filme, como um diretor/autor a ser esperado, pelo prazer que nos proporciona de nos investigarmos. Arte é isto, venha em que forma for, deve trazer questões modificadoras... e quem saiu do cinema como entrou após um filme destes?

A caixa lançada pela Disney contém os três filmes acima conforme seus lançamentos anteriores em DVD no Brasil. Não há extras novos. Os três títulos são em widescreen anamórfico e som digital 5.1. Um dos maiores atrativos é o preço da caixa, menos do que o habitual de dois filmes.

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