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Festival de Cannes | Novo filme de Almodóvar, Julieta, arranca aplausos do público

Adriana Ugarte e Daniel Grao elevam a libido da Croisette e entram na briga pela Palma de Ouro

17.05.2016, às 10H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Metamelodrama, o termo cunhado em universidades de cinema para definir a "estética do exagero" do espanhol Pedro Almodóvar, ganhou ainda mais solidez depois da aplaudida passagem de seu novo longa-metragem, Julieta, pelo Festival de Cannes nesta terça, quando consagrou os musos da disputa pela Palma de Ouro. Loura, descabelada, de olhos gulosos e lábios carnudos, Adriana Ugarte empresta vida (e libido) à personagem título, cuja fome de amar é alimentada pelos beijos do pescador Xoan, barbudo, descamisado e suado, que fez do galã Daniel Grao o objeto de cobiça das mulheres na Croisette.

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"Queria fazer um filme mais contido, com base em textos da escritora canadense Alice Munro, de cuja prosa fui me afastando na escrita do meu roteiro. De início, pensei em filmar em inglês, em Nova York. Cheguei até a falar com uma atriz americana. Mas quando peguei a versão em língua inglesa do roteiro, fiquei inseguro. Afinal, não há nada mais distante de uma família americana do que uma família espanhola", disse Almodóvar em Cannes. "Não sou um adaptador fiel. Eu tiro um parágrafo como ponto de partida e preencho o resto com a minha imaginação".

Sem humor algum e sem bizarrices na linha do realismo fantástico ou do filão sci-fi vistas nos últimos trabalhos do diretor número 1 da Espanha, como Volver (2006) ou A Pele que Habito (2011), Julieta é apenas um painel dos acontecimentos da vida de uma professora de filosofia, ao longo de duas décadas e meia. Adriana vive a jovem Julieta e Emma Suárez (brilhante) assume a protagonista em sua idade adulta. No início, temos um clima de suspense, que logo se converte em um registro melodramático sobre a relação caudalosa de Julieta com Xoan e a cride que se instaura na relação entre ela e sua filha após uma tragédia. Mas nenhum dos contratempos ganham dimensão maior do que os dilemas internas de Julieta, expressando uma virada na obra do cineasta, agora menos interessados em viradas e mais preocupado com traumas psicológicos.

"De todas as mães que retratei, Julieta é a mais frágil e vulnerável. Dela eu crio uma história sobre resistências passivas à vida", diz Almodóvar.

Nenhum roteiro visto até hoje na competição pela Palma de Cannes em 2016 tem urdidura mais perfeita do que a de Julieta. Porém Paterson, de Jim Jarmusch, segue ocupando o posto de favorito no evento, que revela seus ganhadores no domingo.

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