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Festival de Cannes | Ovacionado com suspense erótico, Paul Verhoeven ataca filmes de super-heróis

"Perdemos a percepção da normalidade", lamenta o diretor de RoboCop

21.05.2016, às 10H52.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Embora tenha dirigido o RoboCop original, que injetou metal e ironia às narrativas de ação em 1987, o realizador holandês Paul Verhoeven perdeu seu encanto por heróis, sobretudo aqueles com superpoderes, a julgar pelo fogo que abriu contra o modismo de vigilantes mascarados na telona em sua passagem pelo Festival de Cannes, neste sábado. Cultuado por sucessos como Instinto Selvagem (1992), o septuagenário cineasta concorre à Palma de Ouro com o thriller perfumado a erotismo Elle, que foi ovacionado em sua projeção pelo ritmo envolvente de sua narrativa (generosa em sexo e sangue), pela profundidade de sua abordagem para a perversão e por uma ironia que arrancou gargalhadas da plateia.

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"Eu não acredito em redenção. Não creio que as pessoas evoluam. Até hoje, eu sigo fazendo certas coisas que irritam meus amigos porque o ser humano, a meu ver, é sempre o mesmo. E eu gosto de falar de pessoas, algo que anda se perdendo nas telas, sobretudo no cinema americano, onde os filmes de super-herói prevalecem. Com eles, nós estamos perdendo o contato com a normalidade. Devemos voltar a falar de pessoas normais, porque é nelas que está a riqueza", disse o diretor, que teve uma trajetória de prestígio na Holanda, com longas como Soldado Laranja (1977), antes de ser importado por Hollywood.

Lá, Verhoeven dirigiu fenômenos de bilheteria como a primeira versão de O Vingador do Futuro (1990), com Arnold Schwarzenegger. Mas sua carreira nos EUA passou por maus bocados depois que Showgirls (1995), seu projeto de estimação, naufragou nas bilheterias, sendo considerado um dos piores filmes de todos os tempos. Mas ele não esmoreceu e emplacou dois cults nos Estados Unidos, Tropas Estelares (1997) e O Homem Sem Sombra (2000), indo filmar A Espiã (2006) na Europa na sequência. Mas Elle, recebido com adjetivos como "genial" e "obra-prima" reciclou a força de seu assinatura autoral, que mesmo nos tempos mais difíceis, não deixou de ser interessante para Hollywood.

"Eu sempre recebo roteiros americanos, mas nada tem me interessado, porque parece um revival de tudo o que jâ fiz", diz Verhoeven, que filmou Elle na França, com a diva Isabelle Huppert numa trama baseada em Oh, romance premiado de Philippe Djian.

No longa, Huppert vive Michèle, dona de uma empresa desenvolvedora de videogames sangrentos e sexy. Sua rotina muda depois que sua casa é invadida por um sujeito de máscara que a estupra. A partir do incidente, todas as perversões de Michèle vêm à tona, sublimando uma tragédia de sua infância ligada a crimes cometidos por seu pai.

"Eu não apelo para teorias da Psicologia para explicar Michèle. O público é quem tem o direito de interpretá-la. Minha preocupação era encontrar um espaço para um olhar irônico", disse Verhoeven, forte candidato ao prêmio de direção neste domingo, quando serão conhecidos os ganhadores.

Esta noite, Cannes exibe, à meia-noite, o thriller Herança de Sangue, com Mel Gibson, fora de concurso.

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