Apesar de ter apresentado ao Festival de Cannes um dos rostos femininos mais bonitos – o da morena Sasha Lane - entre as belezas descobertas pelo evento até agora, American Honey, da diretora britânica Andrea Arnold, não escapou das vaias da critica depois de 2h42m de uma narrativa repetitiva, que nem o carisma de Shia LaBeouf foi capaz de salvar. Road movie em concurso pela Palma de Ouro, o longa-metragem é centrado no processo de imersão de uma jovem, a bagaceira Star (Sasha), na dita “América profunda”, cruzando o Oeste dos EUA com uma trupe de adolescentes tão beberrões quanto ela.
Shia é Jake, espécie de mentor dessa trupe, cujo ar de galã vai atrair Star para uma jornada traduzida nas telas como um mar de excessos que a diretora - consagrada na Croisette duas vezes com o Prêmio do Juri (por Red Road, em 2006, e por Fish Tank, em 2009) – não consegue frear. Muitas situações se repetem nas andanças de Star pelos Estados Unidos, diluindo a força da narrativa, que abusa do emprego da câmera na mão, na captação das imagens, para imprimir maior realismo ao enredo.
Cartaz de Americn Honey
A recepção indigesta para American Honey, à noite, contrastou com a acolhida calorosa, pela manhã, a The Handmaiden, novo longa-metragem do sul-coreano Park Chan-Wook, o mesmo do cult OldBoy (2004). Até agora, nenhum concorrente à Palma de Ouro foi mais aplaudido do que o thriller erótico sobre a paixão entre duas mulheres, de classes sociais distintas, na Coreia dos anos 1930, sob jugo japonês. A maestria do cineasta sobre os mandamentos mais obscuros da cartilha do suspense deixou a Croisette sem fôlego, com direito a cenas de erotismo lésbico das mais picantes.
Nas seções paralelas da Croisette, a Italia anda reinando soberana. Na Semana da Critica, o novissimo cinema italiano anunciou toda a sua potência lúdica com I Tempi Felice Verranno Presto, de Alessandro Comodin, sobre um povoado próximo de um lago marcado por uma fabula sobre lobos e moças bonitas. Já na Quinzena dos Realizadores, o experiente Paolo Virzi (de Capital Humano) reciclou sua própria estética e foi elogiado nas mais variadas línguas por La Pazza Gioia, sobre a amizade de duas internas de uma instituição manicomial. Causou comoção o desempenho das protagonistas: Micaela Ramazzotti e Valeria Bruni Tedeschi.
Neste domingo, Cannes sedia a première de Dois Caras Legais, de Shane Black, em projeção fora hors-concoursque promete movimentar o balneário.