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Ícone do cinema cult, Hal Hartley encerra sua trilogia com Ned Rifle

Diretor começou série em 1997

08.10.2015, às 11H58.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 16H01

Mito do cinema independente americano, consagrado nos anos 1990 por filmes cults como Confiança (1990) e Amateu(1994), o diretor nova-iorquino Hal Hartley chegou nesta terça-feira ao Brasil, onde virou a estrela internacional mais luminosa na lista de convidados estrangeiros do Festival do Rio 2015. Aos 55 anos, o cineasta exibe nesta quarta-feira no Estação Net Botafogo seu mais recente longa-metragem: Ned Rifle, tomo final de uma trilogia formada por As Confissões de Henry Fool (1997) e Fay Grim (2006).

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“Hoje, nos Estados Unidos, há uma infinidade de filmes sendo feitos, facilitados pelas novas ferramentas digitais, e, a maioria deles não consegue ser lançada em circuito”, diz Hartley ao Omelete. “O cinema mudou hoje para plataformas móveis, como celulares por exemplo. E isso mudou também as formas de financiamento. Tem gente nos EUA hoje que consegue levantar até US$ 5 milhões usando as ferramentas de crowdfunding. Fiz Ned Rifle com US$ 390 mil que levantei via Kickstarter, por financiamento coletivo. É o caminho para um cineasta alternativo, que faz filmes do seu jeito, com a sua própria forma de ver a arte, sem se submeter a regras da indústria.

Laureado com o prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim, em fevereiro, Ned Rifle segue os passos do personagem do título, um jovem de 18 anos (vivido por Liam Aiken) cujo objetivo é matar seu pai, Henry (Thomas Jay Ryan). Esse parricídio é uma forma de Ned lavar com sangue a honra de sua mãe, Fay, interpretada por Parker Posey, de O Homem IrracionalMas seus planos de vingança são atravessados por um encontro (quase amoroso) com Susan (Aubrey Plaza), uma predadora profissional.

“Eu venho tentando, ao longo de três décadas de carreira, expressar o modo de ser, de falar e de sentir da classe operária americana. Sei que esse termo, “classe operária”, soa defasado, ligado ao ranço econômico do passado, mas ele define bem uma classe média baixa que depende unicamente de seu trabalho para viver. A partir da observação de seus costumes, ei crio histórias capazes de quebrar com as expectativas pré-estabelecidas em torno de gêneros cinematográficos como espionagem, sci-fi ou mesmo o thriller. É o caso de Ned Rifle, que se expressa por diálogos bem-humorados, reflexivos”, diz Hartley.  

Na década de 1990, ele fez parte da novíssima onda de diretores que renovaram o cinema americano de baixo orçamento, ao lado de cineastas autorais como Todd Haynes (Não Estou Lá)Paul Thomas Anderson (Boogie Nights), Wes Anderson (Três É Demais) e Todd Solondz (Felicidade). Hoje, Hartley diz que as condições de financiamento que fomentaram os primeiros sucessos dessa turma desapareceram e, em seu lugar, a televisão, com a chamada Era de Ouro dos seriados, virou o novo canteiro da invenção.

“Antes, nos anos 1990, distribuidoras europeias investiam pesado em filmes independentes em busca de uma nova alternativa para seu público, oferecendo a suas plateias um cinema de prestígio intelectual. Mas o dinheiro da Europa, que vinha de uma relação de suporte cultural do governo escasseou”, conta Hartley. “Com essa mudança, eu hoje tenho desenvolvido mais projetos para a TV, onde existe demanda por criatividade. Pela dificuldade que foi levantar Ned Rifle, ele talvez seja meu último longa-metragem para o cinema. Quem sabe?”.   

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