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O que esperar do cinema brasileiro em 2016

Comédias e filmes de arte continuam a movimentar o circuito

11.01.2016, às 11H04.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 13H01

A julgar pelo montante de quase 1,8 milhão de pagantes acumulado por Até Que a Sorte nos Separe 3 em cerca de 15 dias e pelo prognóstico de salas abarrotadas em torno de Vai Que Dá Certo 2, lançado na quinta, tudo indica que 2016 será, uma vez mais, um ano coroado pelas comédias para o cinema brasileiro. Porém, o cardápio do ano é amplo e variado, no circuitão comercial e na seara dos filmes de arte, e com a abertura do Mar Vermelho vindo aí, no dia 28 de janeiro, com a versão para as telonas da novela Os Dez Mandamentos, tudo pode desequilibrar as certezas em torno da produção nacional daqui até dezembro. E a diversidade impera, para embaralhar lugares comuns da nossa indústria, com direito até a vermos Ingrid Guimarães, a rainha do riso, fazendo drama em Tudo Bem Quando Acaba Bem, do aclamado José Eduardo Belmonte (de O Gorila), ao lado de Fábio Assunção, em cartaz até julho.

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O potencial campeão de bilheteria nacional do ano está indefinido, sobretudo neste momento em que Os Dez Mandamentos já totalizou 400 mil ingressos em pré-vendas, antes da estreia”, reflete o analista de mercado Paulo Sérgio Almeida, diretor do informe Filme B, responsável por apurar e estudar dados ligados à saúde financeira do cinema no Brasil. “Essa versão da novela bíblica pode explodir e talvez chegar a 3 milhões, mas essa explosão pode ter também fôlego curto fora da faixa do público religioso. Até o momento ainda são as comédias que mais se impõem defendendo a força do cinema brasileiro num ano de forte concorrência de potenciais sucessos estrangeiros voltados para o público adolescente, como o novo Capitão América e Batman Vs. Superman”.   

Se a força ainda está na gargalhada, novos golias da comicidade vão entrar no ringue como protagonistas neste ano em que vem aí Contrato Vitalício, o primeiro longa-metragem do coletivo Porta dos Fundos, com Gregório Duvivier e Fábio Porchat, que estreia em julho. Atores de grande popularidade na TV, que estavam na condição de coadjuvantes no cinema, agora vão para o posto de protagonista, como é o caso de Rodrigo Sant’anna, que, no dia 4 de fevereiro, vai colocar seu carisma à prova à frente de Um Suburbano Sortudo. Ele vive Edmilson, camelô que se descobre herdeiro de um império. Em maio, será a vez de Samantha Schmutz testar seu cacife popular em Tô Ryca!, onde terá que gastar uma fortuna em prazo recorde para ganhar uma bolada ainda maior. Por fim, em outubro, Tatá Werneck, que já mostrara a potência de seu rebolado em Loucas para Casar (2015), será a estrela titular de TOC.    

Mas o que não vai faltar é matéria de risada para o cinema brasileiro. Dira Paes tira sarro da corrupção em Mulheres no Poder, de Gustavo Acioli, que estreia em março. Em abril, Ingrid Guimarães, mesmo fazendo sério no filme de Belmonte, faz comédia, com toques de romance, com todo o seu cabedal de graça em Um Namorado para Minha Mulher, da campeã de bilheteria Julia Rezende (da franquia Meu Passado me Condena). Em maio, Maria Paula, parceira de Ingrid em dois De Pernas Pro Ar, faz um voo solo em Doidas e Santas, de Paulo Thiago, com base na grife Martha Medeiros de pensar a condição feminina. Para setembro, a diretora estreante Claudia Jouvin dá um toque de sci-fi ao filão humorístico com Um Homem Sópelo qual Mariana Ximenes foi eleita melhor atriz no último Festival de Gramado. Em novembro, Marcelo Adnet Eduardo Sterblitch se unem de novo para Penetras 2. E em dezembro o todo-poderoso de audiência Paulo Gustavo reaparece de vestidinho em Minha Mãe é Uma Peça 2Podem ser surpresas nesse campo da gargalhada O Último Virgem, de Rilson Baco e Felipe Bretas, apontado para fevereiro, e O Shaolin do Sertão, produção cearense de Halder Gomes, que dirigiu o fenômeno popular Cine Holliúdy em 2013. E ainda sem data, mas já em gestação, A Vida Sexual da Mulher Feia, com Otávio Muller de astro e Vicente Amorim de diretor, pode repetir no circuito as cifras astronômicas que angariou no teatro. Neste novo trabalho, sobre um fã de artes marciais no Ceará da década de 1980, tem até participação do trapalhão Dedé SantanaA estreia está prevista para novembro. No mês 11 também chega Malasartes e o Duelo com a Morte, de Paulo Morelli, com timbres de fantasia e uma pegada capaz de agradar crianças.

Mas nem só de rir vive o Brasil nas telas. Daqui a duas semanas, Cauã Reymond singra as telas numa motoca envenenada em Reza a Lendathriller de Homero Olivetto sobre a luta de uma gangue de rebeldes sobre duas rodas contra um latifundiário do mal. Também espera-se muita tensão de Em Nome da Lei, de Sérgio Rezende, com Mateus Solano como um juiz no combate aos corruptos. E já está em gestação, com produção da RT Features (de Frances Ha), Alemão 2, na esteira dos 975 mil pagantes de que o primeiro filme, de 2014, desfrutou. O Vale Tudo entra em cena com Mais Forte que o Mundo, de Affonso Poyart, trazendo José Loreto na pele do lutador José Aldo. Para além de ação, haverá thrillers psicológicos nas raias da psicose como Mate-me Por Favor, que rendeu o prêmio de melhor direção para Anita Rocha da Silveira no Festival do Rio, produções de horror como Aurorado já citado Belmonte, e 13 Histórias Estranhasde um coletivo de diretores. E há lugar até para um musical, Amor em Sampa, dirigido pelo ator Carlos Alberto Riccelli e seu filho, Kim, marcado para ser lançado em fevereiro. Há música também em março com Se a Vida Começasse Agora, com Caio Castro, e em maio, com Elisestrelado por Andréia Horta e Marisa Orth.

Música, dança e sensualidade se misturam no novo filme de um dos mais respeitados diretores do continente: Cacá Diegues. Com base na obra do poeta Jorge de Lima, ele faz de O Grande Circo Místico uma viagem sensorial pelo Tempo. O filme é tratado desde já, aqui dentro e no exterior, como um potencial braço brasileiro no 69º Festival de Cannes, em função do prestígio do diretor na França.

Dos veteranos, Cacá é um dos diretores com maior compromisso com o espectador e tem um histórico de sucessos para comprovar isso. E este novo filme tem muita elegância”, diz Paulo Sérgio Almeida.  

Ainda no terreno autoral de maior comunicabilidade popular, um mestre, Hector Babenco, volta às telas em março com o autobiográfico Meu Amigo Hinducujo papel central é do americano Willem Dafoe, de Platoon. No mesmo mês, o curitibano Marcos Jorge, de Estômago (2007), explora a vingança em Mundo Cão, tendo Adriana Esteves e Lázaro Ramos no elenco. Em maio conheceremos a versão de Toni Venturi para o conto A Igreja do Diabo, de Machado de Assis, batizado de A Comédia Divina e estrelado por Mônica Iozzi. Até maio, Neville D’Almeida exibe A Frente Fria Que a Chuva Traz, um favela movie existencial. Ruy Guerra volta ao telão até o segundo semestre com Quase Memória, pelo qual ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival do Rio. Eleito melhor filme no Festival de Brasília, em setembro, Big Jatode Cláudio Assis, estreia até julho. E há três filmes ainda sem data de diretores já respeitados: Redemoinho, de José Luiz VillamarimO Filme da Minha Vida, de Selton Mello; e Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, apontado pela revista Cahiers do Cinema como um dos títulos da América Latina mais esperados de 2016.

No dito circuitinho de arte, onde o diminutivo não se aplica ao apetite por novas narrativas, a primeira grande estreia nacional de 2016, já no dia 14 de janeiro, é Boi Neon, painel das novas identidades sexuais no Nordeste, a partir da rotina de um peão das vaquejadas com aspirações a estilista. Dirigida pelo pernambucano Gabriel Mascaro, a produção ganhou o Prêmio do Júri na mostra Horizontes do Festival de Veneza e foi eleito melhor filme no Festival do Rio. Também de Pernambuco, Animal Político, de Tião, faz sua estreia agora em janeiro na Mostra de Tiradentes (22 a 30/01) e depois segue para o Festival de Roterã, na Holanda. Cannes pode abrir vaga para o diretor Marco Dutra e seu Era El Cielo, com o argentino Leonardo Sbaraglia. Estima-se que também possa ir para lá Animal Cordial, de Gabriela Amaral Almeida, estrelado por Murilo Benício (Este também arrisca-se na praia dos autores ao dirigir O Beijo no Asfalto), Vazante, primeira direção solo de Daniela Thomas, parceira de Walter Salles em Terra Estrangeira (1995), O Primeiro Dia (1999) e Linha de Passe (2008). Ao longo do ano, há documentários muito esperados como Filme de Cinema e O Desmaio da Planície, ambos de Walter CarvalhoFuturo Junho, de Maria Augusta Ramos, o (desde já) polêmico Jardim das Aflições, de Josias Teófilo (sobre Olavo de Carvalho) e Curumimde Marcos Prado, sobre o brasileiro executado na Indonésia.

O Brasil está em campo, ou melhor, nas telas. Resta saber como o público vai reagir a ele.

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