Como Hugh Jackman superou Wolverine

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Como Hugh Jackman superou Wolverine

Com carreira versátil, ator não dependeu do mutante para continuar na lista A de Hollywood

12.10.2019, às 10H00.

Um atraso no cronograma de Missão: Impossível 2 definiu duas carreiras. A do escocês Dougray Scott, que se viu obrigado a abandonar o papel de Wolverine em X-Men para continuar como o vilão do filme com Tom Cruise, e a do australiano Hugh Jackman, que se tornou um dos astros mais conhecidos de Hollywood depois de assumir o papel do mutante no filme de Bryan Singer.

A vida de Scott passou a ser um eterno “e se”, enquanto Jackman virava sinônimo do carcaju no cinema, ao mesmo tempo em que mostrava versatilidade, fazendo comédias românticas (Alguém Como Você, Kate & Leopold), filmes de ação (A Senha: Swordfish, Van Helsing: O Caçador de Monstros), trabalhando com diretores renomados (Scoop: O Grande Furo, com Woody Allen;  Fonte da Vida, com Darren Aronofsky), atuando em suspenses (O Grande Truque, A Lista: Você Está Livre Hoje?, Os Suspeitos), épicos (Austrália), animações (Por Água Abaixo, Happy Feet, A Origem dos Guardiões), filmes para a família (Gigantes de Aço, Voando Alto, Peter Pan), dramas musicais (Os Miseráveis), entre outras produções.

Uma carreira que começou por acidente, muito antes dos contratempos alheios que abriram as portas dos EUA (e consequentemente do mundo). Prestes a se formar em Comunicação, Jackman se inscreveu em uma aula de atuação para ganhar créditos complementares. O palco, porém, virou uma nova casa e o futuro comunicador pegou o seu diploma e seguiu para o centro de atores de Sydney, passando em seguida para a Western Australian Academy of Performing Arts, na Universidade Edith Cowan.

Após estrelar o drama para a TV  Correlli (onde conheceu Deborra-Lee Furness, sua esposa de longa data), Jackman seguiu para o teatro, primeiro em montagens em Melbourne e Sydney, depois em Londres, onde ficou conhecido por sua atuação em Oklahoma!, de 1998. Mesmo quando assumiu as garras de Wolverine, aos 32 anos, o ator nunca deixou os palcos, mostrando seus dotes de showman nas apresentações dos prêmios Tony e do Oscar, levando um Tony para si mesmo em 2004, pelo seu trabalho no musical The Boy from Oz, sobre o compositor australiano Peter Allen.

O Wolverine

Se o 1,83m de Scott já estava muito além dos 1,60m do mutante dos quadrinhos, quando Jackman assumiu o papel, no alto do seu 1,90m, os fãs torceram o nariz. Singer buscou disfarçar a diferença de altura, filmando Jackman de ângulos diferentes, apenas da cintura para cima ou fazendo com que os outros atores usassem sapatos de plataforma. Um truque que logo foi abandonado, já que Jackman tomou o papel para si, fazendo com que até os fãs mais ressabiados reconhecessem a sua presença em cena (mesmo que continuassem reclamando que preferiam outro ator).

O mérito está no processo de criação do personagem.  Em suas participações no programa de TV do Actors Studio, Jackman revelou que usou as aulas de imitação de animais da escola de atuação para criar o seu Wolverine: “Fomos ao museu de ciências e eles tinham uma exposição sobre lobos, com um filme em 3D, e sentei lá e fiquei observando. Uma das coisas que me impressionou foi que os lobos sempre têm o nariz próximo ao solo, e olfato é um dos sentidos aguçados do Wolverine. É por isso que pareço estar sempre olhando pelas minhas sobrancelhas. Queria isso para Wolverine, a sensação de que ele está sempre atento (...). Ele é um cara que está olhando para você, mas está cheirando você e está ouvindo a tudo o que está acontecendo em volta dele. Então ele está sempre alerta”. No vídeo da primeira leitura do roteiro de X-Men (2000), Jackman, com a ajuda de Singer, tenta entender as nuances do personagem que mudaria a sua vida:

Depois de passar pelo mesmo personagem oito vezes - X-Men (2000), X-Men 2 (2003), X-Men: O Confronto Final (2006), X-Men Origens: Wolverine (2009), X-Men: Primeira Classe (2011), Wolverine: Imortal (2013), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014), X-Men: Apocalipse -, Jackman se despede do carcaju em Logan, terceiro filme solo do mutante. Com altos e baixos no papel, o ator fez a promessa de encerrar bem sua carreira de herói: "Sinto que estou me esforçando mais do que nunca. Acho que as apostas aumentam quando você anuncia antes da sua 'última temporada' que essa é a 'última temporada', você não quer que isso não seja o melhor...As pessoas me perguntam: 'Você vai conseguir deixar o personagem?' Para mim, a única forma disso acontecer é se você deixar seu sangue todos os dias no chão do estúdio".

O descanso do velho Logan

A carreira versátil construída por Jackman ao longo dos seus 15 anos como Wolverine mostra como o ator se tornou maior que o personagem que o levou ao estrelato. É o que provam uma indicação ao Oscar no currículo (por Os Miseráveis) e mais de US$ 6,7 bilhões acumulados em bilheteria mundial. Depois de Logan, se dedicou a produções grandiosas como O Rei do Show, um sucesso inesperado que acumulou US$ 434,99 milhões nas bilheterias e se tornou o álbum mais vendido de 2018, além de render uma turnê mundial em 2019 chamada The Man. The Music. The Show em que Jackman apresenta canções desse e de outros musicais. Ao mesmo tempo,  o ator vem trabalhando em produções menores mas consistentes, como O Favorito, de Jason Reitman, em que vive o ex-candidato à presidência dos EUA Gary Hart, e Bad Education, de Cory Finley, em que interpreta um educador envolvido em um escândalo de corrupção (filme que deve chegar ao Brasil pela HBO).

Seja no subestimado Peter Pan de Joe Wright, onde o ator usa toda a sua experiência teatral para criar um Barba Negra pomposo, que funciona perfeitamente dentro do universo grandiloquente do filme, seja no Logan de James Mangold, em que lava a alma de todas as críticas que recebeu como Wolverine, ou na breguice cativante de O Rei do Show, Hugh Jackman mostra a sensibilidade que garantiu que seu nome não fosse superado pelo o do seu personagem. Tudo somado a uma fama de bom moço, de quem tem o costume de ser extremamente simpático em entrevistas e afins, além de participar ativamente de diversas atividades filantrópicas.

A aposentadoria de Wolverine no cinema significou apenas um merecido descanso físico para o ator, abandonado de vez a obrigação de ganhar músculos a cada novo filme do mutante. Cumprindo a promessa de se dedicar a mais filmes que o façam "deixar o sangue no set", a carreira de Jackman ganhou uma perspectiva interessante, no alto dos seus 51 anos. Um recomeço que poucos atores podem celebrar.

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