Filmes espíritas, cinebiografias musicais, comédias. O cinema brasileiro não teme as tendências. Deu certo, pode dar certa outra vez - é a regra da indústria cinematográfica, aqui e no mundo. Assim, Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008) deu origem a títulos como Nosso Lar (2010) e Chico Xavier (2010); Cazuza (2004) levou a 2 Filhos de Francisco (2005) e, mais recentemente, Tim Maia (2014); e Lisbela e o Prisioneiro (2003), Os Normais (2003) e Sexo, Amor e Traição (2004) deram início ao fenômeno das comédias nas bilheterias.
Seria Os Dez Mandamentos o princípio de um novo caminho para o cinema comercial nacional? O filme, afinal, estreou com aura de fenômeno: foram 2.082.433 ingressos vendidos até domingo e um faturamento de R$ 24,22 milhões (veja a Bilheteria Brasil), superando o recorde de Tropa de Elite 2 (2010) e suas 1.289.653 entradas no fim de semana de estreia. O longa também teve a mais ampla estreia de um filme brasileiro pós-Retomada, com 1,1 mil salas, superando a marca de Até que a Sorte nos Separe 3 que estreou em 823 telas.
Marcas que não foram conquistadas sem uma boa dose de polêmica. Salas completamente vendidas apareceram vazias no primeiro dia de exibição da adaptação da novela. A mídia questionou e a distribuidora classificou a situação como consequência de ações de caridade dos parceiros do filme (também conhecidos como a Igreja Universal do Reino de Deus). Os ingressos foram comprados por fiéis mais abastados e doados para outros mais carentes - no Recife, um único comprador adquiriu de uma vez 22 mil ingressos. As salas estariam vazias pois nem todos que ganharam ingresso compareceram.
No fim de semana esse público chegou a marcar presença, mas é a performance do filme nos próximos dias que deve assinalar uma possível tendência religiosa para o cinema brasileiro. O novo braço cinematográfico da Record certamente pretende investir em novas produções do gênero. Seu primeiro projeto será a adaptação da biografia O bispo – A história revelada de Edir Macedo, com roteiro e direção de Alexandre Avancini, da novela e do filme Os Dez Mandamentos. Além disso, longas estrangeiros focados nesse nicho já têm previsão de estreia por aqui: Ressurreição (17 de março), O Jovem Messias (24 de março) e Deus Não Está Morto 2 (7 de abril).
Outro teste será ver se as produções religiosas se sobressaem sem “ações de caridade”. A resposta, afinal, sempre vem do público, não importa o que diga a crítica (aliás, Os Dez Mandamentos não teve cabine para imprensa por "problemas de agenda"). Nos EUA, o gênero já encontrou seu espaço, com produções como Deus Não Está Morto fazendo mais de US$ 60 milhões em bilheteria (para um orçamento de US$ 2 milhões). É uma questão de demanda, não de milagre.
