Filmes

Artigo

Peter Pan | O que esperar na nova versão do clássico

O Omelete visitou o set do filme em Londres e viu trechos ainda inéditos do longa de Joe Wright

28.09.2015, às 12H21.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 18H03

Estava acostumado com garotas apaixonadas em vestidos bonitos”, brinca Joe Wright sobre o desafio de Peter Pan, a nova versão do clássico de J. M. Barrie que a Warner Bros. leva aos cinemas na esperança de criar uma nova franquia. Mais conhecido pelas parcerias com Keira Knightley - Orgulho & Preconceito (2005), Desejo e Reparação (2007) e Anna Karenina (2012) -, o diretor tem como marca registrada o esmero visual, mesmo em trabalhos distantes do gênero “de época”, como O Solista (2009) e Hanna (2011). Em Peter Pan esse cuidado se mostra ainda maior, com Wright aliando efeitos práticos e computação gráfica para narrar o prelúdio imaginado pelo roteirista Jason Fuchs.

None

Barcos inteiros foram criados no Leavesden Studios (o mesmo de Harry Potter) e a floresta da Terra do Nunca foi erguida no RAF Cardington, hangar gigante da Força Aérea Britânica construído em 1915 e destinado à fabricação de zepelins. Usado por Christopher Nolan nas filmagens da trilogia Batman e de A Origem, o espaço amplo tem uma altura de cerca de oito andares, o que permite dar mais realismo aos cenários sobre fundo verde - quanto mais se pode construir no estúdio, menos é preciso recriar por computação gráfica e os atores não precisam trabalhar apenas com pontos de referência.

É uma ótima oportunidade para eu não me levar tão a sério”, conta Wright sobre a liberdade criativa trazida pela fantasia, “a ideia mais boba que tiver pode ser a ideia que acabamos filmando. É muito bom poder chegar e dizer 'e se os nativos, ao invés de morrer como humanos, explodissem como bolas de tinta?'. E aí falamos 'vamos lá' e temos bolas de tinta explodindo por todos os lados. Esse tipo de ideia você geralmente não tem oportunidade de ter em uma adaptação de Tolstói”.

Além de mortes coloridas, o filme traz um visual anacrônico para seus cenários e personagens, misturando diferentes referências. “Para mim toda a história vem da imaginação de Peter, ele cresce nessa Londres sombria entre as guerras e inventa esse mundo para si mesmo. Então tentei criar um mundo que uma criança poderia ter inventado. (...) É um mundo que está derretendo, na verdade. Grande parte do imaginário é muito simples, não queria fazer um filme cheio de parafernálias, mas bastante surreal. Imaginação para mim é unir elementos díspares. Então muito do que fizemos foi pegar esses elementos que Peter poderia ter visto e juntá-los, esperamos, da forma certa”, explica o diretor, cuja formação teatral fica evidente na composição de cada cena.

Essa amálgama de Peter Pan aparece nos nativos, combinando todos os tipos de etnias; nos piratas, que seguem um visual “bucaneiro hipster”; na trilha sonora, com Nirvana e Ramones; e nas cores, passando do monocromático ao “technicolor”. Tudo para contar a história de um garoto dos anos 1940 que vive dias tediosos em um orfanato londrino até ser sequestrado por um navio voador.

None

No palco de Joe Wright

Entre cenários grandiosos e figurantes minuciosamente maquiados, Wright precisava dos atores certos para criar o seu espetáculo. A começar pelo protagonista, escolhido entre milhares de candidatos pelo mundo. “Essa foi uma parte da produção que nos deixou com medo”, conta a produtora Sarah Schechter, “pensávamos: ‘Meu Deus, não podemos fazer isso se não acharmos a criança certa’. E quando nós Achamos Levi Miller foi um grande alívio”.

None

Ele tem essa simpatia, essa verdade, e antes de tudo, é muito talentoso, não é iludido, não é uma criança que tenda se conformar, é uma alma independente, única”, explica Wright sobre a preferência pelo ator australiano, que começou a carreira acidentalmente aos cinco anos durante uma apresentação de dança da irmã. Hoje, aos 12, Miller é a soma do profissionalismo de um adulto com a emoção sincera de uma criança: “Estávamos jantando e o telefone da minha mãe tocou. Ela atendeu e estava falando com Joe. Ele pediu para falar comigo e quando ouvi que tinha conseguido o papel comecei a chorar”.

O adversário da vez de Peter Pan não é Capitão Gancho, mas um pálido Barba Negra, vivido por Hugh Jackman. Com um visual de conquistador espanhol, o tom caricato dado pelo ator ao personagem parece se encaixar perfeitamente ao universo criado por Wright. O mesmo vale para Gancho de Garrett Hedlund, mostrado no filme como mocinho, antes de ganhar o comando de um navio ou de ter sua mão consumida por um crocodilo, e para Princesa Tigrinho de Rooney Mara, a líder dos nativos, tão letal quanto colorida. Amanda Seyfried (a mãe de Peter) e Cara Delevingne (que incorpora todas as sereias) completam o elenco, reunido para ser tão belo quanto os cenários assinados por Aline Bonetto (designer de produção francesa, indicada ao Oscar por O Fabuloso Destino de Amélie Poulain).

O que esperar do espetáculo

Wright se interessou pelo roteiro de Fuchs depois que seu filho nasceu: “Queria fazer um filme para ele. As sombras no teto estavam o assustando muito e eu queria fazer algo que refletisse esses terrores noturnos e mostrasse que com vontade, bravura e humor ele poderia superá-los, como Peter fez. É isso basicamente. Uma lição que eu mesmo ainda estou tentando aprender”.

Essa inspiração aparece no cuidado da produção, que promete ser completamente diferente de qualquer outra adaptação da obra de Barrie. A comparação com a peça original ou com outras versões para o cinema, porém, pode ser um problema, já que o Peter do novo filme ainda precisa percorrer a sua jornada do herói para se tornar o personagem conhecido pelo público. Visto como um conto independente, porém, o longa tem potencial para conquistar as bilheterias com o seu acertado uso do 3D, suas cores e seu ritmo acelerado.

O palco armado por Wright tem um elenco disposto a acreditar na fantasia que está encenando, com um Hugh Jackman inspirado a aproveitar cada segundo em cena. A produção imponente, com seus cenários práticos aliados a meses de pós-produção, relembram uma Hollywood pomposa, pronta para impressionar. Essa boa vontade, contudo, precisa se manter durante os 111 minutos do longa para que o novo Peter Pan consiga levar o público a um novo mundo, com a mesma intensidade que Wendy e seus irmãos descobriram a Terra do Nunca.

Peter Pan estreia em 8 de outubro no Brasil.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.