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Por que é hora de aposentar o biquíni da Princesa Leia

Como o fim da sexualização da personagem pode influenciar uma nova geração

08.11.2015, às 19H38.
Atualizada em 25.06.2019, ÀS 12H00

Quando Leia apareceu com seu biquíni dourado em O Retorno de Jedi (1983), a personagem trocou de status: de heroína passou a ser musa. Seu corpo delicado, antes escondido por longos trajes brancos, agora era cuidadosamente ornado por cobras entalhadas e tecidos leves.

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O visual foi criado por Aggie Guerard Rodgers e Nilo Rodis-Jamero, atendendo a um pedido que teria vindo da própria Carrie Fisher, que reclamara que o figurino da sua personagem não valorizava as suas formas. A base do design seriam as ilustrações de Frank Frazetta, artista conhecido justamente por valorizar o corpo feminino, e as capas de Earle K. Bergey para a Fantastic Story Magazine.

O biquíni, que aparece apenas no primeiro ato do Episódio VI, foi absorvido pela cultura pop, atravessando gerações de sonhos adolescentes, fantasias entre casais e cosplayers. Carrie Fisher, que já fazia parte do imaginário masculino, foi eternizada como sex symbol.

Rótulo esse que a atriz prontamente rejeitou em uma conversa recente com Daisy Ridley - a jovem protagonista de Star Wars: O Despertar da Força - para a revista Interview. “Não sou um símbolo sexual, essa é opinião dos outros. Não concordo com isso. Você deve lutar pelo seu figurino. Não seja uma escrava como eu fui. Continue lutando contra aquela roupa de escrava”, aconselhou a veterana. A repercussão da entrevista veio acompanhada da notícia de que a Disney estaria planejando aposentar do merchandising de Star Wars a Leia Escrava e seu biquíni fetiche (leia aqui), o que deixou alguns fãs indignados.

Mas por que é hora de aposentar o biquíni da Princesa Leia? As cenas em que o figurino diminuto aparece pertencem a um contexto, não são gratuitas, argumentam. De fato, não são. Depois de entrar no palácio de Jabba disfarçada como bounty hunter e libertar Han Solo, congelado em carbonita desde O Império Contra-Ataca, Leia é aprisionada e vestida (ou despida) para entreter o vilão. Algumas cenas antes, uma pobre alienígena exercia esse papel, mas acabara virando comida para o monstruoso Rancor.

O contexto existe e é essa justamente a razão para que essa imagem deixe de ser glamorizada. A Leia de biquíni é uma escrava, acorrentada para servir o grande Jabba. Não foi ela quem escolheu o seu figurino. Quando esse visual de humilhação é reproduzido como algo positivo, é como se o público ficasse do lado do vilão, concordando em acorrentar mulheres atrevidas. Logo, o problema não é traje em si, mas a forma como ele foi fixado na cultura pop.

A princesa que deve ficar no imaginário do público não deveria ser aquela que aparece subjugada, deitada na frente do Hutt, mas aquela que o estrangula com a própria corrente que a aprisionara. Prestes a apresentar Star Wars para um novo público, a Disney está certa em deixar o biquíni dourado no passado, dentro do contexto ao qual pertence. O legado da Princesa Leia não é a sua sensualidade imposta, mas a sua força, construída sem estereótipos em um universo antes considerado masculino. Com Rey, a personagem de Ridley em O Despertar da Força, a franquia tem a chance de influenciar toda uma geração de meninas, deixando claro que ficção científica e aventura não são “coisas de homem”. Então sim, “continue lutando contra aquela roupa de escrava”.

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