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Crítica

Corações Sujos | Crítica

Filme baseado no livro de Fernando Morais não escapa da sina das adaptações cheias de solenidade

16.08.2012, às 20H15.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H44

Começa com uma imagem-síntese o filme Corações Sujos, a adaptação ao cinema do livro de não-ficção de Fernando Morais. O fotógrafo Takahashi (Tsuyoshi Ihara) recebe em seu estúdio numa cidade do interior de São Paulo famílias de imigrantes japoneses, para tirar seus retratos. Cabe aos fotografados escolher o fundo: as palmeiras brasileiras ou o icônico Monte Fuji.

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Nessa decisão aparentemente prosaica está contido o drama de todo imigrante, abraçar uma nova cultura ou manter-se fiel à pátria natal. Em 1946, a colônia japonesa no Brasil passa por um momento que agrava esse dilema; o Japão acaba de perder a Segunda Guerra Mundial, mas os mais nacionalistas se recusam a acreditar nessa "mentira dos Aliados". Instintivamente, crer na rendição do imperador Hirohito significaria aceitar que a nova cultura é a única opção possível para os imigrantes.

No filme, Takahashi é um desses nacionalistas. Ele se torna um executor do Shindô Renmei, organização que assassina os de "coração sujo", como eles chamam os imigrantes que não acreditam na vitória do Japão. O filme do diretor Vicente Amorim parte do episódio real que abre o livro - a prisão de japoneses que ameaçavam matar o cabo do exército que ofendeu a bandeira do Japão - para ficcionalizar a história de Takahashi e mostrar como seu senso de honra se transforma em tragédia.

O ator Tsuyoshi Ihara, que esteve recentemente em 13 Assassinos, já fez no Ocidente um personagem desse tipo, um dos soldados enviados para o combate cego de Cartas de Iwo Jima. A ele se juntam em Corações Sujos outros atores conhecidos da TV e do cinema no Japão, como Eiji Okuda (que faz o comandante do Shindô Renmei). Amorim visivelmente procura fazer um filme fiel à cultura nipônica, com atores de lá e diálogos legendados, e a própria estética tenta se aproximar de um certo cinema japonês clássico, à la Kurosawa. É nessa aproximação, porém, que o diretor não se encontra.

A cena mais problemática, que resume um pouco os defeitos do filme, é o momento em que Takahashi fica frente a frente com o dono da cooperativa, um dos "corações sujos". A câmera mantém meia distância dos atores e fica ciscando ao redor deles, num jogo de pêndulo que se repete insistentemente, como se a cena fosse um disco riscado. Essa meia distância procura ter uma suposta austeridade (que seria uma marca japonesa), mas o fato é que manter distância, não se envolver demais, pode ser também uma forma de omissão. E uma marca do cinema japonês de fato, a economia de planos, certamente passou longe daqui.

Então Corações Sujos, que já tem uma propensão natural ao "cinema de qualidade" (adaptações de best-sellers e reconstituições históricas tendem a ser mais protocolares), deixa a impressão de ser um filme excessivamente solene. Os poucos riscos que Amorim aceita correr, os de fotografia (momentos desfocados como se estivessem sendo registrados com o tilt-shift do Instagram), não são riscos de fato, já que a indústria do cinema habitou-se a confundir fotografia "arrojada" com assinatura de autor.

Pelos seus filmes, particularmente desde o anterior Um Homem Bom, Amorim parece caminhar em direção a esse cinema de temas graves e estética "correta". No geral, porém, Corações Sujos fica refém dessa paralisia. Seus personagens parecem chocados o tempo inteiro, e o choque, que não necessariamente leva a uma reação, se estende ao filme em si.

Corações Sujos | Trailer

Corações Sujos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
Corações Sujos
Corações Sujos
Corações Sujos
Corações Sujos

Ano: 2011

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 107 min

Direção: Vicente Amorim

Elenco: Tsuyoshi Ihara, Takako Tokiwa, Eduardo Moscovis

Onde assistir:
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