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Crítica

A Floresta Que se Move | Crítica

Uma releitura à brasileira de um clássico de Shakespeare

12.10.2015, às 16H30.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Versão brasileira e contemporânea de Macbeth, de Shakespeare, reescrita com todo o som e fúria de um thriller de suspense, A Floresta Que se Move transporta a discussão sobre desmesura (de cobiça, de sanidade) do texto do bardo para o universo do Brasil empresarial. A intriga que, no texto original, ambientava-se no cenário palaciano, com um general sanguinário ambicionando conquistar a coroa, passou aqui para a disputa pela presidência de um banco. A releitura feita pelo diretor Vinícius Coimbra, em um roteiro escrito a quatro mãos com Manuela Dias, foi tratar esse deslizamento no tempo e no espaço a partir de tintas policiais, com tensão crescente. Seu ritmo sinuoso gera envolvimento desde o início e mantém a temperatura em fervura.

Não há, no filme, experimentações ou inovações de linguagem. Mas seu classicismo é realizado com retidão. Atualizou-se o falar dos personagens para os nossos dias, mas alguns dos diálogos shakespearianos – os mais emblemáticos, sobretudo – foram preservados. As falas que permaneceram da peça original funcionam como uma especiaria de estranheza para temperar a narrativa, já apimentada pela sensualidade de uma Ana Paula Arósio na esfera do risco, como uma Lady Macbeth pós-moderna.

Frente às tradições do cinema brasileiro, o maior acerto de Manuela e Coimbra na redação de A Floresta Que se Move foi o microcosmo das corporações bancárias sem se ater a discussões sobre corrupção ou pactos políticos escusos. A economia é o foco  de interesse do cineasta: as práticas predatórias das leis de mercado são aplicadas aqui no âmbito da sobrevivência dos mais fortes. General Macbeth troca sua armadura e sua espada por um terno e uma gravata, na interpretação de Gabriel Braga Nunes.

Ele é Elias, alto executivo do maior banco privado do país que é promovido a vice-presidente por conta de uma troca de cadeiras na empresa. A promoção é motivo de alegria, mas não para sua mulher, Clara (Ana Paula), que deseja mais, convencendo o marido da hipótese de eliminar seu chefe, Heitor (vivido pelo lendário Nelson Xavier, sempre numa margem de excelência). Com a morte de Heitor, Elias assumiria o seu posto. É daí que uma ciranda de assassinatos é deflagrada, levando o filme a situações inusitadas, justificadas por uma centelha de loucura em Clara, indicada pela perda de um filho no passado.

Na direção, Coimbra sofistica o domínio cênico que adquiriu em seu longa anterior, o premiado A Hora e a Vez de Augusto Matraga (2001), e costura um arranjo narrativo de comunicação imediata com a plateia, a partir da chave da tensão. Há um tráfego entre o realismo e o plano da fabulação, expresso pelo emprego sazonal das falas de Macbeth, que soam exóticas, mas críveis. E é a partir delas que o longa alcança sua grande cena – uma das melhores de todo o Festival do Rio – na qual um porteiro bêbado e idoso destila sua ironia contra a riqueza. O porteiro é vivido por um mito da atuação no país, Emiliano Queiroz, cujo monólogo leva A Floresta Que se Move à sua potência máxima.

Nota do Crítico
Bom
A Floresta que se Move
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Classificação: 14 anos

Direção: Vinicius Coimbra

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