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Crítica

Cinco Graças | Crítica

França tenta a sorte no Oscar com versão islâmica de As Virgens Suicidas

10.10.2015, às 11H10.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Filme inscrito no Oscar 2016 de filme estrangeiro pela França, embora se passe na Turquia, seja coproduzido pelo país, falado em turco e dirigido pela estreante turca Deniz Gamze Ergüven, Cinco Graças (Mustang, 2015) é como uma versão islâmica de As Virgens Suicidas (sem a parte do suicídio em massa...).

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A trama se passa numa vila do Norte do país, a centenas de quilômetros da cosmopolita Istambul, e segue cinco irmãs que acabaram de sair da escola e comemoram o início das férias ao lado dos meninos. Talvez comemorem com ânimo demais para os padrões locais, porque a avó e o tio das meninas, órfãs de pais, decidem que o melhor a fazer é mantê-las sob vigilância, aprendendo a ser uma dona de casa e uma boa esposa, até que os adultos encontrem maridos para as cinco.

Não é de espantar que a França tenha escolhido Cinco Graças para tentar um lugar no Oscar. A combinação do caráter obviamente progressista da história com os momentos de humor e catarse da libertária rebeldia juvenil forma um pacote irresistível para agradar o grande público. À falta de um roteiro mais complexo, que não fique só repetindo a mesma dinâmica de ação e reação, Ergüven se ampara no seu ótimo e fotogênico elenco jovem - puxado pela caçula, narradora do filme, Günes Sensoy, de 13 anos, que estreia no cinema depois de ter feito na TV turca a jovem Kösem Sultan, uma das mulheres mais poderosas da época do Império Otomano.

Nessa parceria entre a diretora e sua talentosa estrela-mirim, Cinco Graças trata com naturalidade de anseios juvenis num país que, embora enraizado em tradições religiosas, já vê suas gerações mais novas inseridas no mundo. Ou pelo menos é o que sugere esse filme que, oportunamente, faz de todas as cinco irmãs personagens de perfil contestador. Se uma delas tivesse, por exemplo, tendência a aderir aos costumes locais e ficar do lado dos mais velhos, isso causaria um ruído no discurso do filme que Ergüven não parece disposta ou capaz de lidar.

O resultado é um filme de exportação (o comentarista na TV deixa clara a ideologia fundamentalista, didatismo acessível a todo tipo de público) e feito para a torcida (a vilanização dos adultos e a ruptura final são facilitadas na cena da violência contra a segunda menina mais nova). Em Cinco Graças, no fim, a liberdade até parece fácil, e não implica concessões.

Nota do Crítico
Bom

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