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Constantine | Crítica

<i>Constantine</i>

10.03.2005, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H17

Constantine
Constantine, 2005
EUA - 121 min.
Ação/Fantasia/Suspense

Direção: Francis Lawrence.
Roteiro: Kevin Brodbin e Frank Cappello, baseados nos quadrinhos de Jamie Delano e Garth Ennis.

Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Shia LaBeouf, Djimon Hounsou, Max Baker, Pruitt Taylor Vince, Gavin Rossdale, Tilda Swinton, Peter Stormare.

Antes de ser realizado, o primeiro filme de Harry Potter passou por uma polêmica entre os fãs. Os produtores queriam que o menino bruxo, um britânico, se transformasse em estadunidense e que a aventura, toda passada na Inglaterra, cruzasse o Atlântico até as terras ianques. Felizmente, a escritora Joanne Rowling bateu o pé e exigiu o direito de aprovação de todos os elementos da história com antecedência. Do contrário, o filme não poderia ser realizado. Assim, todos os fãs puderam respirar aliviados já que o Harry Potter que veriam nas telonas seria exatamente o mesmo das páginas dos livros.

John Constantine, também britânico, também bruxo, não teve a mesma sorte. Na adaptação para o cinema do cultuado gibi Hellblazer, parte da linha de quadrinhos adultos da DC/Vertigo, foi obrigado a perder o sotaque, os cabelos loiros e a deixar de viver na terra da Rainha. Mas a comparação entre os dois personagens pára por aqui. Diferente de Potter, os direitos autorais de Constantine não pertencem a um autor (apesar dele ter sido criado pelo genial inglês Alan Moore), mas sim a uma corporação. E você sabe o que dizem das corporações... elas precisam dar lucro. Dessa forma, para agradar o público norte-americano, todas as referências à terra natal de Constantine foram apagadas e ele tornou-se um cidadão dos Estados Unidos. A boa notícia é que ele certamente não vota em George W. Bush.

Apesar das mudanças estéticas, a alma cinza (tanto pela personalidade quanto pela fumaça de cigarro) de Constantine permanece intacta. O velho ocultista dos quadrinhos mantém seu charme, seu cinismo e o humor negro na versão hollywoodiana. O papel título caiu como uma luva para o "predestinado" Keanu Reeves (leia entrevista), que viu casados com perfeição seus talentos notoriamente limitados com a atitude blasé do personagem.

Na história das telas, Constantine é um exorcista veterano, que cruza as ruas de Los Angeles atrás de qualquer coisa que comprometa o equilíbrio das duas "superpotências originais", o Céu e o Inferno. Desde o início da humanidade, Deus e o Diabo mantêm um pacto: podem influenciar o livre-arbítrio das pessoas, tentando levar suas almas para um dos dois planos. Seus agentes são os mestiços, anjos e demônios que caminham pela Terra disfarçados como nós.

Logo em sua infância, Constantine descobriu ser um dos poucos humanos capazes de ver tais criaturas como elas realmente são. O peso cobrado por essa habilidade levou-o a tentar o suicídio quando jovem, o que selou suas chances de ir para o Céu quando morresse (lembre-se que o ato é um pecado mortal para os católicos). Desde então, ele dedicou sua vida à luta contra o demônio, como uma forma de comprar sua entrada no Paraíso, mas sempre deixando claro seu desprezo pelos dois lados da equilibrada equação.

As coisas começam a mudar quando uma série de eventos prenuncia que algo bastante estranho está ocorrendo nos círculos do inferno... obviamente, caberá ao anti-herói a missão de descobrir a razão desses eventos e impedi-los de acontecer. Mas seu tempo é escasso, pois além de tudo ele está com câncer de pulmão e não deve durar muito.

Nessa missão, o ocultista encontra diversos - e fantásticos - personagens coadjuvantes, como a detetive Angela Dodson, vivida com a enorme competência habitual por Rachel Weisz (O júri). Católica devota, ela tenta provar a todo custo que sua irmã gêmea não cometeu suicídio e sua investigação a leva até o lendário John Constantine e à sua realidade surrealista. Além de Weisz, Djimon Hounsou (Terra de sonhos) também faz um ótimo trabalho como o feiticeiro Papa Meia-Noite, dono de uma casa noturna que serve como território neutro para anjos e demônios. Em um papel menos empolgante, como o demônio Baltazar, há o vocalista da banda Bush, Gavin Rossdale, que até parece interessante, mas empalidece quando surge nas telas a fabulosa Tilda Swinton (Até o fim). Ela interpreta o andrógino anjo Gabriel de tal forma que o estilo do personagem deveria ser adotado também nos quadrinhos. Por último, há o versátil Peter Stormare (Minority Report) como Lúcifer, que divide o fantástico clímax - que contém as melhores cenas de toda a trama - com Keanu Reeves.

Tecnicamente, o filme também agrada. O talentoso diretor de videoclipes Francis Lawrence criou uma atmosfera que dificilmente poderia ser mais precisa, mesmo se o filme fosse passado no velho continente. Ele mantém a história sempre ancorada na realidade, até quando somos levados às profundezas do inferno, que surge como uma versão nuclear de nosso próprio plano. Há apenas alguns pequenos deslizes, como o excesso de computação gráfica numa briga contra um demônio feito de insetos e um ou dois sustos gratuitos.

Ao final da projeção, Constantine resulta competente e muito satisfatório, bastante superior à grande maioria dos suspenses de Hollywood surgidos nos últimos dois ou três anos. Os fãs mais ardorosos, claro, devem reclamar das mudanças, mas não dá para culpá-los. Será que o público reagiria tão mal assim se as características físicas do personagem fossem mantidas? Não me lembro de Harry Potter ter ido mal nas bilheterias...

Nota do Crítico
Ótimo
Constantine
Constantine
Constantine
Constantine

Ano: 2005

País: EUA, Alemanha

Classificação: 14 anos

Duração: 121 min

Direção: Francis Lawrence

Roteiro: Kevin Brodbin , Frank Cappello

Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Shia LaBeouf, Djimon Hounsou, Max Baker, Pruitt Taylor Vince, Gavin Rossdale, Tilda Swinton, Peter Stormare, José Zúñiga, Francis Guinan, Larry Cedar, April Grace

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