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Crítica

Crimes Ocultos | Crítica

Suspense de serial killer em forma de filme de guerra não honra nenhum dos dois gêneros

20.05.2015, às 19H45.

O cinema de gênero, com seus limites mais ou menos definidos, desde sempre nos ajuda a estabelecer uma familiaridade com os filmes. Em Crimes Ocultos (Child 44, 2015), porém, um filme de Guerra Fria que se organiza como um suspense de serial killer, temos o pior lado do cinema de gênero: quando a segurança narrativa se presta a banalizar temas e situações.

O filme se baseia no primeiro livro, publicado em 2008, de uma trilogia estrelada por um oficial soviético que investiga homicídios na URSS de Stalin, nos primeiros anos do Pós-Guerra. Tom Hardy vive o oficial, Leo Demidov, que depois de carregar a bandeira vermelha na Segunda Guerra cai em desgraça quando sua esposa é suspeita de trair os ideais comunistas. A oportunidade de investigar uma série de assassinatos de crianças entre Moscou e Volsk pode lhe trazer alguma paz de espírito.

A premissa é interessante pelo contexto de castração que impõe à investigação. Para Stalin, "não há assassinos no Paraíso", e os infanticídios sempre são catalogados como acidentes pelas autoridades, e ao questionar esses registros oficiais Demidov flerta com a subversão. É uma ideia bastante interessante para um suspense claustrofóbico, em que todas as variantes conspiram contra o herói, mas esse potencial não se efetiva na tela.

O filme do diretor Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo), na verdade, sentimentaliza e transforma em clichês de thriller uma situação que, por sua natureza, é bem mais complexa. Há um mal maior a ser combatido (o que pode ser mais nefasto que matar crianças?) e isso relativiza não só os crimes de guerra mas também todas as pequenas áreas cinzas de comportamento e caráter que poderiam fazer de Demidov um personagem melhor e de Crimes Ocultos um filme (seja de guerra, de suspense policial ou ambos) minimamente interessante.

As relações do Estado com seus oficiais são simplificadas em nome de uma narrativa mais acessível (chega a ser risível a velocidade e a brutalidade com que se dá o alpinismo do vilão na hierarquia militar, em nome apenas de um impacto visual e do maniqueísmo) e, na hora de opor Demidov e o culpado pelos homicídios, Crimes Ocultos manda até o clássico "eu e você somos iguais" que os maníacos tipo Seven soltam para se equivaler dramaticamente aos heróis.

Dos lugares-comuns de filme policial a que Crimes Ocultos recorre sem muito filtro, o principal é a defesa do vigilantismo. Por que, em resumo, a adaptação parece dizer: tudo bem buscar a justiça com as próprias mãos, às margens da lei, desde que o vigilantismo não seja institucionalizado como eram as polícias secretas militares da União Soviética. O que vale em Crimes Ocultos, como no capitalismo, é consagrar a ordem do indivíduo.

Nota do Crítico
Ruim
Crimes Ocultos
Child 44
Crimes Ocultos
Child 44

Autor: Daniel Espinosa

Ano: 2015

País: República Tcheca/Romenia/EUA

Classificação: 16 anos

Duração: 137 minutos min

Direção: Daniel Espinosa

Roteiro: Richard Price

Elenco: Tom Hardy, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Gary Oldman, Charles Dance, Vincent Cassel, Noomi Rapace, Paddy Considine, Jason Clarke, Fares Fares, Xavier Atkins, Mark Lewis Jones, Karel Dobrey, Agnieszka Grochowska, Petr Vaněk, Jana Stryková

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