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O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos | Crítica

Cego pela megalomania, Peter Jackson macula o universo de J.R.R. Tolkien no cinema

10.12.2014, às 20H19.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Se existia alguma dúvida do quão desnecessário era transformar O Hobbit em uma trilogia, ela some com A Batalha dos Cinco Exércitos. Em Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug havia uma série de exageros no roteiro, mas ainda se sobressaia a mensagem do primeiro livro da franquia de J.R.R. Tolkien. Aqui, o equilíbrio entre a história de Bilbo e Thorin e a do Um Anel não é alcançado. O último capítulo da Terra-média de Peter Jackson é grandiloquente e de produção impecável, mas não consegue disfarçar que nunca houve história para três filmes.

Decidir alterar a trama escrita por Tolkien há mais de 70 anos não é o problema. Mídias diferentes merecem tratamentos distintos e necessários. A primeira trilogia de Jackson é a prova cabal disso. O problema com a última parte dessa nova trinca é que não houve habilidade o suficiente para contar bem uma história que se tratava prioritariamente a descoberta de um mundo novo e o maravilhamento com toda e qualquer novidade. O Hobbit não é sobre uma guerra massiva. O Hobbit não é O Senhor dos Anéis.

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A relação primordial de todo o enredo está em Bilbo e Thorin. Quando o foco do filme é esse tudo funciona. A atuação da dupla é impecável, os diálogos fluem e até os exageros narrativos de Peter Jackson (câmeras lentas e close-ups) servem como ferramentas de impacto. Ao negligenciar a importância dos dois e incluir núcleos desinteressantes na trama, A Batalha dos Cinco Exércitos se torna o mais enfadonho capítulo da viagem pela Terra-média. Legolas, que é quase um protagonista, destila falas embaraçosas ao lado de Tauriel; uma dupla tão desinteressante quanto Alfrid, o comediante interpretado por Ryan Gage.

Existe uma constante preocupação em colocar Sauron como uma ameaça iminente, por isso toda a trama envolvendo Gandalf, Elrond, Galadriel, Saruman e Radagast. A tentativa foi bem sucedida nos primeiros capítulos da trilogia, onde existia uma sombra envolta de mistério. Era uma presença. Agora, o filme apela para ligações gratuitas, feitas apenas com o intuito de conectar O Hobbit a O Senhor dos Anéis. Uma perda de tempo, pois não há desenvolvimento de nenhum personagem ou da própria história principal, que é esquecida pelo roteiro a todo momento.

Com tantos remendos, resta à Batalha dos Cinco Exércitos um grande clipe de ação ininterrupta. Do confronto com Smaug à guerra em Erebor, Jackson exibe todo seu repertório de coreografias de lutas individuais e combate em grupo. O êxito é pontual. Funciona na união de elfos e anões, mas falha na disputa eterna entre Legolas e Bolg. Falta também a esse último capítulo uma sequência inesquecível comparável às cenas nas Minas de Moria (A Sociedade do Anel), no Abismo de Helm (As Duas Torres), na caverna dos goblins (Uma Jornada Inesperada) ou no riacho da Floresta das Trevas (A Desolação de Smaug). São 45 minutos de um confronto de pouco entusiasmo.

Não há como negar que o visual continua incrível, assim como a trilha sonora. De fato, Jackson conseguiu construir um universo transcendente. A Terra-média dos cinemas é um sonho transformado em realidade, não importa a qualidade das histórias que se encaixem ali. Quando Bilbo retorna ao Condado e o tema do local começa a tocar enquanto os hobbits conversam com seu sotaque característico, parece que a ordem foi restaurada - é como fosse possível apagar os acontecimentos passados. Cego pela doença dos roteiros e filmes extensos, porém, Peter Jackson maculou uma série que tinha poucos problemas. Agora é hora de humanos, orcs, elfos e hobbits descansarem em paz.

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