Em entrevistas, Travis Cluff conta como decidiu com sua esposa que investiria em cinema para tentar pagar suas dívidas, como conheceu Chris Lofing num ginásio em Los Angeles e achou que o estudante de cinema de 19 anos tinha, na verdade, 12 ou 13, e como os dois fizeram com 250 dólares e um cadafalso de madeira reutilizada o trailer de um filme que se tornaria A Forca (The Gallows, 2015).
São os fatores e os lances de acaso da típica história do horror de baixíssimo orçamento que faz brilhar os olhos dos executivos de Hollywood. (Comprado por Jason Blum, produtor de Atividade Paranormal, e bancado pela Warner Bros., o projeto no fim teria custado um total de 100 mil dólares para virar longa-metragem.) Na tela, A Forca tem alguns elementos que de fato sugerem um olhar e uma sensibilidade de cineasta novo - cujo amadorismo ainda não se contaminou pelas expectativas da indústria - mas com eles vêm também os erros de principiante.
A trama se passa na cidade natal de Lofing, Beatrice, no Nebraska, 20 anos depois de uma tragédia acontecida na montagem teatral da peça "The Gallows" num colégio de ensino médio, quando um dos alunos-atores acidentalmente se enforcou no cadafalso do título. Agora o trauma coletivo volta para assombrar um grupo de quatro jovens: a CDF que se dedica à nova montagem da peça como se fosse ganhar um Oscar, o atleta apaixonado que não leva jeito para o teatro mas quer impressionar a CDF, o amigo odioso do atleta que quer sabotar a peça e registrar tudo com sua câmera portátil, e finalmente a namorada do amigo, que entra aqui pela sádica cota das loiras fotogênicas que sempre estão entre as primeiras vítimas da chacina.
Cluff e Lofing cumprem a obrigação da estética de filmagem encontrada com altos e baixos. Toda a primeira metade de A Forca é muito boa; estabelece os personagens principais e seus conflitos de modo natural, sem a pressa dos sustos fáceis, e chega a lembrar filmes como Clube dos Cinco com seu retrato da escola como um ambiente de claustro, onde diferenças de personalidade se acertam numa história de formação para a vida adulta.
Embora "amadora", a câmera na mão do diretor de fotografia Edd Lukas sabe se ater aos detalhes e "estetizá-los", quando necessário. O plano em que a loira se filma em selfie é ótimo, por sua mistura de inocência, beleza e mau agouro; o close-up nela, longo e lento, também funciona para nos desacelerar do treme-treme do found footage pela escola, e é inevitável enxergar ali uma espécie de despedida. No geral há em A Forca um tom de elegia que funciona independente dos sustos, um registro da morte de algo que ainda não ganhou nome ou corpo, e que pode simplesmente ser a juventude.
No seu clímax, A Forca não perde sua sensibilidade para o close-up, e não há horror mais eficiente e econômico do que o do choro que precede a morte. É na hora da catarse, porém, que Cluff e Lofing demonstram suas limitações, com soluções fáceis de efeitos visuais e timing desencontrado de terror que minam toda a boa expectativa criada na primeira metade do filme. Dá para antecipar os sustos em uns bons segundos, pela forma como a luz muda ou a câmera se posiciona, e a coreografia esquemática do elenco, que entra em alguns espaços como se trocasse de corredores em uma daquelas Noites do Terror de parque-de-diversão, tira muito da naturalidade inicial.
Ainda que perca seu vigor aos poucos, A Forca não deixa de ser uma estreia promissora, para um longa rodado em duas semanas, sob orçamento limitadíssimo. Por alguns instantes Travis Cluff e Chris Lofing oxigenam a rigidez do found footage, e são nomes a acompanhar.
Ano: 2015
País: EUA
Classificação: 14 anos
Direção: Chris Lofing, Travis Cluff
Roteiro: Chris Lofing, Travis Cluff
Elenco: Cassidy Gifford, Reese Mishler, Pfeifer Brown, Ryan Shoos
