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A Visita | Crítica

M. Night Shyamalan adere ao found footage sem abrir mão de seu olhar

26.11.2015, às 15H56.

Está muito claro o que A Visita (The Visit) pode fazer pela carreira de M. Night Shyamalan, cineasta que nunca deixou de imprimir seu traço nos filmes que dirige, mas já não desfruta do sucesso de seus primeiros suspenses. Ao se unir com o produtor de Atividade Paranormal, Jason Blum, e aderir aos terrores de found footage e baixo orçamento, Shyamalan pode fazer as pazes com o público num subgênero de apelo fácil e regras bem definidas.

A questão mais interessante é a oposta: o que Shyamalan pode fazer pelo found footage?

A trama faz uma releitura de João e Maria em tom de farsa. Dois irmãos decidem passar uns dias numa fazenda na Pensilvânia com os avós que eles nunca conheceram, para dar à sua mãe divorciada um tempo sozinha com o novo namorado. Enquanto viajam, a irmã mais velha, com aspirações a cineasta, convence o caçula a participar de um documentário sobre a família - parte do seu plano para reconciliar a mãe com os avós.

Na teoria, Shyamalan parece incompatível com o found footage: sua câmera no suspense sempre está interessada no extracampo, na sugestão do terror, nos sustos que aparecem pelas bordas do enquadramento, enquanto a estética amadora das filmagens encontradas raramente se dá ao luxo dessa mise-en-scéne sofisticada: o found footage se interessa pelo que se manifesta à sua frente, pelo point-and-shoot, e não necessariamente pelo mistério. Cada vez mais, os filmes de vigilância constante que vieram depois de Atividade Paranormal, como Amizade Desfeita, prescindem do ponto de vista do observador, e para Shyamalan esse ponto de vista sempre foi essencial.

O que ele faz em A Visita, então, é de fato tornar a câmera um personagem. Porque o found footage é um subgênero de apelo fácil, sim, mas já esgotado pelo uso constante e sem critério do estilo documental, em que os personagens justificam a presença da câmera de início, mas logo parecem esquecer de que estão diante dela. Já os dois protagonistas de A Visita - que aliás foram muito bem escolhidos e entendem bem o teor cômico que Shyamalan impõe a esse seu "terrir" - nunca se esquecem da presença da câmera. Nunca deixam de atuar.

O resultado é menos um terror feito para preencher a cota de Halloween entre as estreias hollywoodianas e mais um experimento de metalinguagem. Se A Visita toma a forma de uma farsa, é porque não parece haver outra maneira de fazer um filme "sério" (o documentário da menina, cheio de planos rebuscados, ensaiados) dentro de um filme "não-sério" (o terror que brinca com nossos sadismos) sem lidar com a comicidade dessa situação.

Acaba que Shyamalan faz um dos seus filmes mais descompromissados e divertidos, na medida para um público de multiplex, ao mesmo tempo em que seus apologistas encontrarão, com certa razão, muitas formas de interpretar A Visita como um filme-ensaio sobre o olhar no cinema contemporâneo. Faz tempo que o diretor não atendia a essas duas expectativas de forma tão satisfatória.

Nota do Crítico
Bom
A Visita (2015)
The Visit
A Visita (2015)
The Visit

Ano: 2014

País: Estados Unidos

Duração: 94 minutos min

Direção: M. Night Shyamalan

Roteiro: M. Night Shyamalan

Elenco: Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Kathryn Hahn, Benjamin Kanes, Deanna Dunagan, Peter McRobbie, Erica Lynne Marszalek, Dave Jia, John Buscemi, Jon Douglas Rainey, Sajida De Leon, Shelby Lackman, Brian Gildea, Shawn Gonzalez, Richard Barlow

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