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Crítica

Crítica: Um Segredo de Família

O Holocausto sob o ponto de vista de quem cresceu vitimado pela negação do horror

21.01.2010, às 17H00.
Atualizada em 12.11.2016, ÀS 09H04

François não se enquadra. Transcorre o verão de 1955 na França e o fato de todos ao redor, no clube, serem atléticos, belos e bronzeados, a começar por sua mãe, só ressalta a palidez do menino frágil de oito anos. Acuado, François começa a imaginar que tem um irmão - este sim à altura do desportista que o pai gostaria que François se tornasse.

Corta para 1962 e o menino, aos 15 de idade, descobre que seu irmão imaginário de infância não estava tão distante assim da realidade. E aí começa, de fato, a se mover a trama de mistério de Um Segredo de Família (Un Secret), quando François descobre que foi criado em meio a medos e mentiras alimentados pelos pais desde a Segunda Guerra Mundial.

um segredo de família

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Como o longa-metragem de Claude Miller (A Pequena Lili) se inspira em um relato autobiográfico, do escritor Philippe Grimbert, temos uma história que foge um pouco do receituário padrão dos filmes de Holocausto. Grimbert é o François real, e a sua infância solitária e marginalizada nos dá um ponto de vista privilegiado, pelos olhos críticos da criança, do espírito dos franceses durante e após o conflito.

Nos créditos iniciais surge o fatídico aviso, "baseado em fatos", mas a perspectiva de Grimbert, no fundo, é bastante pessoal - e passa pelo filtro do filho negligenciado carregada de ressentimentos, que ecoam a imagem comumente aceita, ainda que preconceituosa e enviesada, de que na França encarou-se os nazistas com fraqueza e, em alguns casos, com colaboracionismo.

Seria desleal descrever aqui o que acontece no longo flashback que leva a trama do filme de volta a 1936, quando os pais de François, judeus, são demarcados como gado pelos alemães que invadem a França. O que dá pra dizer é que Um Segredo de Família discute como ficam questões de honra, orgulho e auto-estima quando a situação - como aquela que fez muitos judeus fugirem das cidades e se esconderem no campo - diz que o mais racional é suprimir sua identidade diante do inimigo.

E não há imagem mais forte no filme, em termos de identidade, do que o corpo escultural da atriz Cécile De France, a intérprete da mãe de François, preparando-se para mergulhar na piscina daquele clube de verão de 1955. Ela está longe de representar o estereótipo da judia; pelo contrário, está mais para o ideal de beleza da eugenia nazista - o pai de François a chama de "campeã". Isso equivale, pelo olhar de Grimbert, a ser um colaboracionista?

A resposta está no futuro. Em uma das poucas cenas ambientadas nos dias de hoje, François, já adulto, vivido por Mathieu Amalric, trabalha como educador de jovens com problemas mentais - párias como ele um dia foi.

Um Segredo de Família parte da ideia, por mais discutível que seja, de que horrores como o Holocausto nascem da vergonha que muitos sentem de ser judeus. Não leva a extremos o tema da supressão da identidade como, por exemplo, A Espiã de Paul Verhoeven, mas tem uma coisa ou outra a dizer sobre isso.

Saiba onde o filme está passando

Nota do Crítico
Bom
Um Segredo em Família
Un Secret
Um Segredo em Família
Un Secret

Ano: 2007

País: França

Classificação: 16 anos

Duração: 105 min

Onde assistir:
Oferecido por

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