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Pegue um elástico de dinheiro. Segure-a com os dedos polegar e indicador da mesma mão. Tire o indicador. Agora estique-o de novo, usando polegar e dedo médio. Solte o último. Agora usando polegar e anelar. Depois com polegar e mindinho. E com as duas mãos...
É assim que funciona qualquer filme em que o básico é fazer reviravolta sobre reviravolta, justamente o que acontece em Violação de conduta (Basic, 2003). Pode não ser o maior expoente desse subgênero do suspense - Garotas selvagens ficou conhecido pela dinâmica, e mais recentemente Identidade abusa no mesmo sentido -, mas segue aquele roteiro que você já conhece: a história está funcionando de forma linear e, de repente, pá!, tudo que você viu até agora era encenação. Logo depois, pá!, na verdade, a outra personagem já sabia disso, e pá!, aquele ali estava vendo tudo desde o início, pá!, ele é um traidor, pá!, você não é meu pai, pá!...
O encadeamento-clichê é medianamente bem disfarçado pelo diretor John McTiernan (Duro de matar, Caçada ao Outubro Vermelho, Rollerball), mas jogando pra um lado que tem fascinado Hollywood: as rachaduras no sistema militar norte-americano. Quer exemplos? Regras do jogo, Caçado, Crimes em primeiro grau, A filha do general, Questão de honra e vários outros. Num império em decadência, é preciso ficar muito preocupado com sua defesa, não é?
Seis soldados das Forças Especiais, liderados pelo renomado sargento Nathan West (Samuel Jackson - leia entrevista com ele aqui), desaparecem durante um treinamento nas selvas do Panamá. Dois deles são encontrados horas depois - todos os outros estão mortos. Cada um deles tinha motivo para matar o sargento West - o típico sargento durão e abusivo do exército. Então, é só descobrir, entre os sobreviventes, quem foi o assassino e o que aconteceu com os demais.
A capitã Julia Osborne (Connie Nielsen) é encarregada da investigação, mas o comandante da base decide convidar um velho amigo com mais experiência: Hardy (John Travolta), ex-agente do DEA. Os dois trabalham juntos relutantemente, mas aos poucos começam a desvendar o mistério por trás das mortes, juntando pedaços em cada depoimento. O problema é que o quebra-cabeça tem peças falsas, pois é impossível acreditar nas diferentes versões dos sobreviventes. E a trilha que conseguem montar parece levar a muito mais sujeira, envolvendo toda a base militar americana no Panamá.
As versões vão se sobrepondo, novas revelações são feitas, e, quando você acha que está perto do final, ainda acontecem mais e mais reviravoltas... Esse momento equivale a colocar o elástico de dinheiro entre os dois pulsos e puxar. Ela se parte e a gente entende que, apesar da grande demonstração de inteligência em montar um filme reviravoltoso sem deixar furos (e será que não deixaram?), chega um ponto em que a fórmula cansa, torna-se repetitiva demais e estoura. Não vou dizer que o fim é previsível, mas chegar lá já não traz nenhuma surpresa. Todo mundo já se cansou de revelações.
Um destaque importante: Connie Nielsen. Ela já fez de tudo: desde aqueles filmes em que nem precisava fazer expressões (Gladiador, O advogado do Diabo, Caçado) até outros em que ela mostra como é ótima atriz (Três é demais, Missão Marte, Retratos de uma obsessão). Em Violação de Conduta, ela faz bom serviço num papel ruim. Cruze os dedos pra que Demonlover, uma de suas últimas películas, e das boas, chegue logo às telas brasileiras.
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