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Crítica

Deus da Carnificina | Crítica

Roman Polanski filma mais uma história de culpa e responsabilidade

07.06.2012, às 22H20.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H40

Pode ser só coincidência, mas os filmes de Roman Polanski que acompanham esses seus últimos anos de problemas com a justiça frequentemente lidam com situações de atribuir culpa e assumir responsabilidades. É assim em O Escritor Fantasma, parece ser também no futuro D (sobre o Caso Dreyfus, um clássico dos maus julgamentos) e certamente é assim em Deus da Carnificina.

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Baseado na peça Le Dieu du Carnage, de Yasmina Reza, o filme respeita o espaço teatral e se passa dentro de um apartamento. Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz) são os pais de um garoto que bateu no filho de Penelope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly). Os dois casais se encontram em uma tarde para conversar como adultos sobre o incidente, e com as horas que passam os ânimos se exaltam.

A divisão de personas é calculada para gerar um choque de classes. Michael e Penelope são o casal da velha esquerda liberal, humilde mas orgulhosa: ela é uma professora preocupada com as mazelas da África e ele vende material hidráulico e tem nos seus charutos e uísques um aparente hobby. Já Nancy e Alan representam o poder, casal do tipo que se casa mais de uma vez, ele um advogado e ela uma corretora, ambos atarantados demais com o trabalho para dar atenção um ao outro.

O filme começa e termina mostrando um plano aberto do parque onde os garotos se bateram, mas logo fica claro que a "praça pública" na verdade é a sala de estar do apartamento de Michael e Penelope, onde os casais se encontram. Polanski e seu departamento de arte visivelmente se dedicaram a torná-lo um espaço de acúmulo de personalidades, com pequenos objetos e arranjos específicos que dão à sala sua verossimilhança. Dá pra ver que moram ali duas pessoas com visões de mundo compatíveis mas não idênticas.

Esse espaço de civilidade - onde, em um plano de longa duração, Polanski mostra os quatro personagens se acomodando um por um, com reverência - se desfaz na cena do vômito. O desarranjo da ordem que havia ali é a senha para lavar a roupa suja dos casais. Ironicamente, no parque do lado de fora uma harmonia não-dita organiza as relações, embora não pareça.

A elegante câmera de Polanski perde o prumo perto do clímax (como quando imita sem jeito o movimento da embriaguez) e o overacting toma conta do elenco perto do final. A interpretação de Christoph Waltz é a que sobressai ao longo de Deus da Carnificina, e seu personagem, embora não seja o protagonista evidente, é quem mais se afeta. A subtrama dos remédios adulterados (que faz o celular do personagem tocar de tempos em tempos, um inteligente respiro na trama) é concluída com o advogado assumindo uma responsabilidade que ele passou negando o filme todo (ao dizer para uma pessoa não tomar os remédios que ele representa).

Deus da Carnificina é o tipo de material que muita gente, preocupada com o futuro-das-nossas-crianças, vai julgar indispensável por ser uma comédia que "faz rir e pensar". O fato é que a lição mais valiosa do filme não está na questão dos garotos, mas na postura do advogado nessa subtrama dos remédios - tanto que o filme só termina quando ela se resolve.

Nota do Crítico
Bom
Deus da Carnificina
Carnage
Deus da Carnificina
Carnage

Ano: 2011

País: França

Classificação: 12 anos

Duração: 80 min

Direção: Roman Polanski

Roteiro: Yasmina Reza

Elenco: Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz, John C. Reilly

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