Filmes

Entrevista

A Esperança é a Última Que Morre | Uma nova vida para a neochanchada brasileira?

Uma sátira dos meandros do jornalismo refogada com o tempero cômico de Dani Calabresa

05.09.2015, às 10H52.

Afinada com uma linhagem crítica de filmes sobre as mazelas diárias do jornalismo, como O Quarto Poder (1997) e A Montanha dos Sete Abutres (1951), a comédia A Esperança é a Última Que Morre chegou aos cinemas nesta quinta-feira com fôlego para dar uma nova (e mais irônica) trilha para a neochanchada brasileira: a trilha da sátira social. Com direção de Calvito Leal, a produção – que vem chamando a atenção dos críticos por seu requinte visual na fotografia e nos cenografia – elege Dani Calabresa como protagonista de uma trama cheia de farpas acerca das artimanhas da imprensa para manipular a opinião pública. Na tela, a comediante vira Hortência, uma repórter de TV com ambições de ser uma jornalista de prestígio nacional, mas que não vai além de uma série de coberturas sobre banalidades do dia a dia, ligadas a biscoitos e exotismos culinários afins. Mas ao ser destronada de uma vaga para âncora por uma colega trapaceira, Vanessa (interpretada por Katiuscia Canoro, do programa Zorra Total), Hortência arma um plano para se destacar na frente das câmeras. Ela inventa um falso psicopata que comete assassinatos em série. Para simular os crimes, que envolvem ditados populares, ela conta com dois amigos que trabalham no Instituto Médico Legal: Ramon (Rodrigo Sant’Anna) e Eric (papel de Danton Mello, que rouba o filme com tiradas impagáveis).

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Na história de Hortência buscamos debater, de maneira bem-humorada,  a questão da ética, discutindo até onde alguém está disposto a ir para realizar seus sonhos”, diz Calvito Leal. “Vemos diariamente nossa confiança sendo traída por profissionais que rompem as barreiras éticas para seu próprio benefício. Isso acontece em várias profissões, mas é particularmente prejudicial quando acontece na política, na saúde e, infelizmente, no jornalismo também. Quando o espetáculo é mais importante do que os fatos, nós somos manipulados. Criamos na fictícia cidade de Nova Brasilia um pequeno universo para debater essa questão”.

Estreante no comando de longas-metragens de ficção, apesar de registrar uma vasta quilometragem na assistência de direção e no timão de documentários, Calvito foi um dos cineastas que pilotaram o sucesso Simonal – Ninguém Sabe o Duro Que Dei, de 2009. Parte das estratégias narrativas para criar as situações cômicas de A Esperança É a Última Que Morre veio de seu domínio da linguagem documental mesclado a referências de humor na teledramaturgia.  “Aprendi muito sobre narrativa assistindo e fazendo documentários. Entretanto, no caso de A Esperança..., as minhas maiores fontes de estudos foram projetos que usam a linguagem documental aliada a um ritmo frenético para fazer humor, entre elas, séries como Arrested Development, uma das minhas favoritas”, diz Calvito, que teve entre seus parceiros de script um dos maiores teóricos de análise de dramaturgia do Brasil: José Carvalho, professor de roteiro e autor da trama de filmes recentes como Meus Dois Amores (2015).

No momento em que a comédia se mantém como o veio mais rentável do cinema brasileiro, mesmo sendo alvos de ataques de críticos e acadêmicos em torno da repetição de fórmulas do gênero, A Esperança é a Última Que Morre arranca elogios para o desempenho de Dani Calabresa, em seu primeiro trabalho como protagonista na telona. “O fato de a Dani ter feito parte de programas jornalísticos como o Furo MTV e o CQC contribuiu positivamente para a construção da personagem Hortência.
Começamos a trabalhar juntos antes mesmo do primeiro tratamento do roteiro. Foram doze versões!
”, diz Calvito. “Ela colaborou no texto, na personalidade de Hortência e até na caracterização da personagem. A Dani é uma grande parceira”.

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