Filmes

Entrevista

Animal Político | Aclamado no exterior, diretor brasileiro conta como foi dirigir uma vaca

Tião é conhecido por curtas como Muro e Sem Coração

30.01.2016, às 13H04.

Estrelado por uma atriz atípica - no caso, uma vaca – e concebido como uma espécie de reflexão sobre as estranhezas nossas diante da liturgia do dia a dia, Animal Político, primeiro longa-metragem do cineasta pernambucano Tião, chega à 19ª Mostra de Tiradentes, nos momentos finais do evento, com fôlego para vencer este que é um dos mais prestigiados festivais competitivos do cinema brasileiro. Em paralelo, a produção faz carreira no exterior, integrando a seção Futuro Brilhante do Festival de Roterdã (27 de janeiro a 7 de fevereiro), na Holanda, carregando para a Europa a ironia habitual do cinema de Penambuco. Conhecido anteriormente por curtas-metragens exibidos em Cannes, como Muro e Sem Coração (codirigido por Nara Normande), Tião narra aqui as peripécias de uma vaquinha que tenta se convencer de que é feliz, encarando as convenções sociais do Recife. Nesta entrevista ao Omelte, o diretor – favorito ao prêmio da seção Aurora de Tiradentes, que revelará seus ganhadores neste sábado - fala sobre a experiência de dirigir um astro bovino.  

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Qual é o simbolismo político por trás da vaca, sua protagonista, que vive dias de humanidade? 

A vaca é mais um elemento de estranheza, uma plataforma pra gente olhar pra situações comuns com um distanciamento quase que forçado. A personagem vive uma crise e tem algum problema em se relacionar com as outras pessoas. Então, sempre pareceu muito atrativo ver esse grande animal nessas situações e lugares. A expressão que as vacas carregam também serve bastante ao clima em que a personagem se encontra. 

Como foi “dirigir” o animal? É um mamífero digital? É uma vaca mesmo?

Sim, é uma vaca de verdade. Foi bem interessante. Era massa encontrar ela no início do dia. No cinema, cada filme que você faz, você aprende sobre novos universos. Era preciso muita paciência e aceitar a dinâmica da vaca, estar aberto ao imprevisível. Na maior parte das diárias, filmávamos no máximo 4 ou 5 planos em não mais que duas locações. Às vezes, demorávamos horas em um plano esperando que ela tivesse uma certa reação. Outras vezes, ela simplesmente fazia o que a gente queria de primeira. 

De que maneira o seu cinema, entre curtas e agora Animal Político, articula-se em diálogo com a recente profusão de ideias cinematográficas de seus contemporâneos de Recife?

Acredito que em Recife, independente de afinidades ou divergências estéticas, os filmes têm uma pegada autoral forte. Não acho que, fora isso, exista um traço comum ao cinema pernambucano. A variedade de propostas é muito grande e não parece haver uma linha. Eu me sinto obviamente muito conectado aos meus companheiros de produtora, Leonardo Lacca e Marcelo Lordello, com Nara Normande, com quem fiz meu último filme Sem Coração, e acho que há uma boa lista de pessoas com trabalhos fortes como Daniel Bandeira, Leonardo Sette, Marcelo Pedroso, Gabriel Mascaro, Kleber Mendonça Filho, Rodrigo Almeida. Mas analisar as articulações estéticas é sempre muito difícil de dentro.

Como você está idealizando a carreira do filme, a partir do exterior? Como fica a vida pós-Roterdã? Já tem data de estreia à vista?

Ainda estamos começando, inscrevendo o filme nos primeiros festivais. Depois de Roterdã, vamos passar o filme nos festivais que se interessarem e depois pensar o lançamento nas salas de exibição. Mas ainda não temos previsão.

Leia mais sobre a Mostra de Tiradentes

 

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