Filmes

Entrevista

Fúria de Titãs: Omelete entrevista Sam Worthington e Mads Mikkelsen

Atores comentam como é trabalhar em blockbusters, o 3-D, seus personagens e o frescor dos saiotes gregos

19.05.2010, às 16H01.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 00H59

Sam Worthington esteve em dois dos grandes blocksbusters do ano passado, Avatar e Exterminador do Futuro. Em 2010, soma ao seu currículo de heróis relutantes o semideus Perseu em Fúria de Titãs. Conversamos com o ator, acompanhado do dinamarquês Mads Mikkelsen (007: Cassino Royale) - o guerreiro Draco -, em Londres, onde eles comentaram a experiência de atuar em uma produção blockbuster, as diferenças do 3-D convertido para o filmado, seus personagens e o frescor dos saiotes gregos. Confira!

A cada nova experiência fica mais fácil fazer filmes com efeitos especiais, ou cada um traz seus próprios desafios?

Fúria de Titãs

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Mads Mikkelsen como Draco

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Sam Worthington como Perseu

Sam Worthington: Acho que você respondeu sua própria pergunta. Não, olha, você aprende a lidar com os efeitos especiais na prática. Aprendi nesse filme e alguns outros. Os efeitos especiais agora são uma parte importante dos blockbusters, então representam mais uma ferramenta que temos que aprender para a nossa arte. Atuar é, basicamente, inserir verdade em circunstâncias imaginárias. Quando você trabalha em um filme de efeitos especiais, você precisa buscar a verdade absoluta em uma situação de imaginação absoluta. Então, se você tiver muitos detalhes, acho que consegue levar a cena mais facilmente. Então se é uma sequência com um escorpião, é bom ter um escorpião gigante de fibra de vidro usar de referência e bater nele. É bem difícil atuar com nada, só com uma bolinha de tênis pra fixar o olhar. Eu e Mads precisamos saber a velocidade da Medusa, saber a altura dela, onde ela vai estar. Quanto mais detalhes eles nos dão, mais fácil fica o nosso trabalho.

Mads Mikkelsen: Mas fica mais fácil porque muitos de nós nunca haviam tido essa experiência e ficamos lá no primeiro dia assistindo Sam surtar contra uma coisa que nem estava lá. Dava para perceber que você já tinha feito aquilo antes.

SW: E você tem que deixar a sua vaidade do lado de fora, porque você fica parecendo um idiota dando socos no ar, ou às vezes em um homem numa roupa verde. Então assim que os caras aprenderam isso, ficamos bem.

Vocês tiveram muito treinamento antes das filmagens? Treinamento de lutas com espadas e coisas do tipo?

MM: Nós já estávamos em boa forma quando chegamos, fazia parte do contrato estar preparado para as filmagens previamente. Mas quando as lutas de verdade começaram foi outra coisa. Começamos a ensaiar as coreografias uma semana antes, e íamos ensaiando e ensaiando nas pausas para almoço.

SW: É um conjunto de habilidades diferentes. O filme é muito divertido, essa é a intenção dele, não é para ser levado muito a sério. Mas você, como ator, precisa se levar a sério, aprender novas habilidades e se adaptar de acordo.

Não quero fazer uma pergunta óbvia e comparar com Avatar, em termos de grandeza de orçamento mas...

SW: Não dá para comparar. Avatar é seu próprio monstro.

Mas você acha que ele definiu um padrão?

SW: Avatar redefiniu o padrão para muitos filmes, pela maneira como foi recebido pelas plateias e nada chegará nem perto. Nada. Eu compararia este filme a um Exterminador do Futuro: A Salvação. Levou o mesmo tempo para filmar, 5 meses. Mesmo orçamento. E estamos abrindo a temporada de verão. É isso que esses filmes são: blockbusters, filmes pipoca. A garotada vai gostar, acho que vai despertar a criança dentro de cada adulto. E será muito divertido. Mas tentar comparar a Avatar é impossível, como comparar uma laranja e um pedaço de carne - os dois não são nem a mesma coisa!

Esse filme está virando um um game. Você gosta da ideia de estar em um jogo?

MM: Eu adoro estar num videogame! É só isso que meu filho faz o dia inteiro!

SW: Eu estou no jogo. Acho que posso jogar como eu mesmo. Ou você pode jogar como eu.

MM: É uma oportunidade para que meu filho me veja de vez em quando, porque ele passa o dia todo naquele computador. [risos] Isso é ótimo, estar num videogame. Tudo faz parte da montanha russa. Nós não fizemos Taxi Driver. Fizemos um fantástico filme pipoca, então tudo que vier com o filme, videogames, bonecos... é tudo benvindo.

SW: Sabemos que o que estamos fazendo aqui não é uma aula de história. O filme tem um escorpião do tamanho de um caminhão de lixo e um cavalo que voa. É uma questão de entender o mundo em que estamos, nesse filme. Eu saio da cena do escorpião todo coberto de meleca. E isso para mim é o ponto alto do filme. Eu tenho um sobrinho de 9 anos, então eu queria fazer alguma coisa para ele, que ele possa achar legal e torcer pelo herói. Nós dois já tivemos essas oportunidades na carreira, em que fizemos filmes intimistas e dramáticos. Mas esse tipo de coisa aqui é o máximo, você se diverte muito fazendo.

Sam, qual seu deus grego favorito?

SW: Deus grego? Poseidon. Sou australiano, moro perto do mar.

Como é lutar vestindo sandálias e saias?

SW: Eu não tinha sandálias, eu usava tênis da Nike. Pintei uns dedos neles e não contei pros outros caras durante um mês. [risos] Aí eles ficavam admirados, tipo "Como ele está correndo tão rápido?". Aí eu disse: é porque eu estava usando Nike, não tinha pedras entrando nas minhas sandálias. Então eu fui desonesto. E o vestido é muito arejado e agradável.

Arejado?

SW: É. Bastante arejado. Até geladinho, em algumas manhãs. Mas, sabe, se você olhar os figurinos, nós temos tanquinhos definidos nas armaduras, parecemos super-heróis. O único motivo para um remake desses é se você for subir o nível um pouco. É isso que Louis queria fazer, ampliar um pouco esse mundo para que você abraçasse ele e soubesse logo que está entrando nessa viagem de 98 minutos.

Você ficou com sua espada?

SW: Se eu fiquei com a espada? Bom, eu tenho muitas espadas. A primeira era de bronze, eu não conseguia nem levantá-la. Era realmente pesada. Eu fiquei pensando "não posso pular por aí com esse negócio".

MM: Mas essa era insana, pesava uns 7 ou 8 quilos.

SW: Essa é a coisa. Não estávamos filmando um Fúria de Titãs de Ridley Scott, em que tudo tem que ser único. Eu tinha uma espada mais simples nessas cenas, era fácil pular. Mas não fiquei com as espadas. Eu nem sabia que podia. Os outros caras falaram que pegaram algumas lembranças.

Você gostou do resultado do 3-D?

SW: Eu acho que James Cameron é quem está mostrando o 3-D da maneira mais eficiente. O 3-D é uma ótima ferramenta para que você fique imerso num mundo. Para filmes como este, acho que é uma ótima ferramenta. Tira um pouco a tela da frente. De repente você esquece que está em um cinema escuro com estranhos. Você é transportado. E acho que isso é uma coisa boa para filmes como este.

Sim, mas Avatar foi filmado em 3-D e este foi convertido. Quando você assiste, você sente a diferença?

SW: Sim, eu acho que existe uma diferença. Eu sou uma cria de Jim Cameron. Tenho que apoiar meu chefe. Mas, sabe, o que Jim fez com essas câmeras é outra história. Ele desenhou as câmeras. E a ideia dele, inicialmente, era dizer: "Cineastas, não se assustem com o 3-D, ele pode te ajudar a contar uma história melhor. Vá ao estúdio e diga que você quer filmar em 3-D". Converter é uma decisão do estúdio. Mas existe uma diferença entre converter e filmar. Não acho que seja uma diferença ruim. São só maneiras diferentes de encarar o 3-D.

Mas Cameron não está se mostrando muito entusiasmado com isso.

SW: É, mas sabe, o chefe tem sua própria opinião sobre isso, ele está lutando pelo 3-D há tanto tempo. Ele não vê o 3-D como um truque, ele vê como... da mesma maneira que o Dolby Digital foi um avanço na experiência cinematográfica - ele acredita que o 3-D é isso. Então ele é um advogado muito forte do 3-D.

Qual é a sensação em trabalhar em um blockbuster como esse?

MM: É tudo tão grande que você não sabe quando estão filmando! Tem umas 500 pessoas no set quando você chega de manhã, nem dá pra cumprimentar todo mundo pela escala. Mas aí você chega e uns minutos depois forma-se um grupo pequeno em volta do diretor. Nos isolamos e começamos a nos concentrar no nosso trabalho.

SW: Um filme não muda só por causa do tamanho do orçamento. Em todos é a mesma coisa, você tem os mesmos desafios. Não importa se é um filme australiano de U$ 4 milhões, um filme dinamarquês de U$ 10 milhões ou um filme americano de U$ 170 milhões. Isso não muda o que nós fazemos. São pessoas tentando se abrir e se encontrar umas com as outras. É conexão.

MM: Mas você se sente a diferente agora.

SW: É, quando está vendendo o filme.

MM: Na Dinamarca seria só isso. Essa entrevista seria toda a imprensa que eu teria que fazer por lá. E estamos fazendo isso aqui umas 20 vezes por dia. É entra e sai. Então existe uma diferença enorme no tamanho do filme, mas você não sente isso enquanto está trabalhando.

Você desenvolveu uma história de plano de fundo para seu personagem?

SW: Eu e Mads fizemos bastante. Sabíamos onde queríamos chegar.

MM: Bom, a história passada dele está no filme, então nós sabemos sobre a relação dele com a família por causa da trama.

SW: E eu sempre disse que queria que o Perseu fosse um adolescente problemático. Ele perde sua família adotiva e está reclamando e não ouve ninguém - ele é um adolescente. E ele cresce, ao longo do filme, e encontra uma outra família. E começa a ouví-los. E acho que todos nós podemos nos identificar com isso. Todos já fomos adolescentes. Quando você olha por essa perspectiva, então Mads pode se basear nisso e criar o personagem dele. E também isso dá à um garoto de 15 anos um herói com quem ele pode se identificar. Não alguém distante, mas alguém como ele, que está passando pelos mesmos problemas.

MM: Essa relação específica já está presente no começo. No original, Perseu aceita muito rapidamente que é um deus com uma missão. Então isso significa não havia drama entre os deuses. Na nossa versão, rapidamente tivemos a ideia de que meu personagem, Draco, odiaria os deuses, mas Perseu é um deus, e eu estou tentando fazê-lo aceitar isso pelo bem da missão, mesmo não gostando. E ele não quer me ouvir. Então é assim que as cenas ficam preenchidas com um pouco mais de tensão. Foi uma escolha sensata para Perseu abraçar sua divindade bem mais tarde.

SW: E eu não acho que essa não é uma mensagem legal para passar para um garoto de 9 anos, que você só pode fazer as coisas se você é um deus!

MM: Exato.

SW: Essa não é uma boa mensagem para nenhum de nós. É melhor dizer: olhe para dentro, busque o que está em você e aí poderá encotrar o sucesso na vida.

Em que situação você gostaria de ser um deus?

SW: Nenhuma.

Nem para ajudar alguém ou...

SW: Não, porque eu acho que deveríamos estar fazendo isso como homens. Você não precisa ser um deus para ajudar alguém. Se alguém cair, ajude-o a levantar. Esse para mim é o verdadeiro herói. O herói não é alguém que consegue lutar contra o Kraken. O herói é alguém que tem uma fé tão forte dentro de si, que acredita que pode ajudar o próximo. Eu não acho que você precisa ser um deus - se colocar nesse tipo de pedestal é ridículo. Se você olhar a angústia do Perseu... eu perguntei para Louis, o que faz um deus ser um deus? E ele disse que um deus é super-rápido, é mais forte. Para mim é uma qualidade destrutiva, é o poder de criar e destruir em um instante. E se você tiver esse tipo de poder dentro de você, seria uma grande responsabilidade, especialmente para um adolescente. Então ele tenta suprimir isso e descobrir um lado melhor de si mesmo.

Você se inspirou em algum outro épico para criar seu personagem?

SW: Não, não, eu queria fazer minha própria versão dele. Olha, eu já assisti esses filmes e eu amo esses filmes, mas eu queria que Perseu tivesse um pouco mais de brilho. Como eu disse, tenho um sobrinho de 9 anos e eu queria que ele viesse, olhasse e dissesse: é legal! E pegasse uma espada para ajudar o próximo. Mas eu assisti, sim, esses filmes para tentar entender também o que eu gostaria de fazer diferente.

Fúria de Titãs estreia em 2-D e 3-D no Brasil em 21 de maio.

Acesse o Especial Fúria de Titãs do Omelete, com entrevistas, críticas e galerias.

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