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Entrevista

Kumiko, a Caçadora de Tesouros | Diretor David Zellner fala sobre a lenda urbana de Fargo estrelada por Rinko Kikuchi

Filme será exibido pelo Sundance Channel no dia 24 de janeiro

13.01.2016, às 13H51.
Atualizada em 11.11.2016, ÀS 11H03

Não espere por permissão para começar a fazer cinema”, aconselha David Zellner, diretor do elogiado Kumiko, a Caçadora de Tesouros (2014). Natural de Austin, no Texas, Zellner percorre o circuito de festivais desde 1997, com filme de estreia Plastic Utopia, e ganhou destaque internacional com a história da japonesa solitária que vai para Fargo em busca do tesouro enterrado no filme dos irmãos Coen.

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Estrelado por Rinko Kikuchi (Círculo de Fogo), o longa tem como base a lenda urbana sobre Takako Konishi, que teria morrido congelada em Detroit Lakes, no estado de Minnesota, enquanto buscava o dinheiro escondido pelo personagem de Steve Buscemi (a brincadeira de Joel e Ethan Coen de dizer que Fargo era baseado em fatos levou outra centena de pessoas na mesma jornada). A verdade é que Konishi se suicidou com uma overdose de sedativos e álcool depois de ser abandonada pelo amante americano.  A história real, porém, pouco interessava David e seu irmão e corroteirista Nathan Zellner: “Era algo em que estávamos trabalhando há muito tempo. Acho que ouvimos a história pela primeira vez em 2001. E nos EUA, a informação a que tivemos acesso era mínima e basicamente dizia que uma mulher japonesa tinha ido para os EUA atrás da fortuna de Fargo. Isso nos deixou curiosos, querendo mais informações, e então começamos a construir essa história tendo como base a nossa curiosidade. Eventualmente mais detalhes surgiram, desmentindo a lenda urbana em relação à caça ao tesouro. Contudo, para nós esse era o elemento mais fascinante para a história e ao criar filme quisemos ser fiéis a lenda urbana, a essa busca fantástica”.

O resultado é um belo conto de fadas sobre solidão, construído com cuidado para não banalizar a cultura japonesa ou a ingenuidade de Kumiko. “Nós tentamos ser o mais precisos culturalmente ou pelo menos conscientes do nosso retrato da cultura  japonesa envolvendo essa mulher. Tínhamos uma equipe no Japão que nos guiou nesse sentido. Não queríamos parecer caucasianos sem noção se apropriando de outra cultura então tivemos muito cuidado com isso”, explica Zellner que, assim como os Coen, consegue dar senso de humor a sua história dramática: “Acho que há humor em tudo o que fazemos. É algo intuitivo, não é intencional. Nos diferentes estágios do filme, escrevendo, filmando, montando, as coisas acontecem, parecem naturais nas devidas circunstâncias e apenas abraçamos isso quando é apropriado. Tentamos encontrar um equilíbrio entre o humor e o patético, dependendo do que parece correto. O mais importante é que não queríamos fazer piada com Kumiko, há piadas, mas não piadas sobre ela. Queríamos que o público estivesse do lado dela”.

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Steve Buscemi enterrando o tesouro em Fargo

A história vai sendo delicadamente construída pela perspectiva da protagonista, o que gera diferentes interpretações sobre o seu destino: “Somos atraídos a fazer filmes que não digam a você o que pensar, que dão espaço para respirar e deixam você tirar o que quiser dele. O que é sempre mais interessante do que qualquer coisa que podemos falar. Viajamos com o filme pelo mundo e dependendo de onde mostramos as pessoas tem diferentes interpretações sobre o filme. Nós gostamos muito desse resultado”. Reforçando a aura de fantasia do filme estão os enquadramentos, que funcionam como ilustrações da história de Kumiko e foram pensados desde o roteiro: “Somos bastante visuais, então na etapa do script já pensamos a cena de uma forma específica. Não costumamos fazer como muita gente faz, filmar de diversos ângulos, diversas versões, para decidir depois. Nós sabemos o que queremos quando estamos escrevendo e temos ideias específicas de como será o enquadramento e como isso servirá ao filme. Dito isso, uma vez que estamos filmando, baseado nas condições climáticas ou nas atuações, na locação em si, nós adaptamos conforme a necessidade, somos flexíveis, mas temos essa fundação que nos serve como guia”.

Em uma era em que fazer cinema é cada vez mais fácil - como o caso de Sean Baker, que rodou Tangerine diretamente do seu iPhone 5s - Zellner, que também atua em seus filmes, destaca que a dificuldade agora está em ser visto: “Há mais ferramentas acessíveis, mas também muito mais filmes sendo feitos, lutando por atenção”. Daí a importância de festivais como Austin ou Sundance, no qual o diretor e seu irmão já exibiram cinco curtas e três longas-metragem. A recomendação de Zellner para os jovens cineastas, além de audácia, é personalidade: “Você tem todas as ferramentas aí para criar algo, mas não faça nada que não tenha a sua própria voz. As pessoas tentam muito copiar coisas que já são bem-sucedidas ao invés de abraçar aquilo que os torna únicos”.

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David Zellner como o policial que ajuda Kumiko
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Kumiko, a Caçadora de Tesouros será exibido dentro do 10 Days of Sundance do Sundance Channel, na programação que vai de 22 a 31 de janeiro, com exibições sempre às 23h.  Além do filme de Zellner (dia 24) serão exibidos Dreamcatcher (dia 31), The Wolfpack (dia 22), Dinosaur 13 (dia 23), Bob and the Trees (dia 29), Chorus (dia 25), The Strongest Man (dia 26), Cloro (dia 27), Gerry (dia 28) e The Off Hours (dia 30).

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