Filmes

Entrevista

Macbeth - Ambição e Guerra | "Nossa adaptação é um faroeste", diz diretor do filme

Justin Kurzel e os protagonistas Michael Fassbender e Marion Cotillard falam sobre o longa em entrevista ao Omelete

21.12.2015, às 10H17.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 12H01

Cheios de som e de fúria nas locações de Assassin’s Creed, hoje em filmagem entre Malta e a Andaluzia, a atriz Marion Cotillard, o ator Michael Fassbender e o cineasta Justin Kurzel vão encher o Natal dos brasileiros de sangue com Macbeth - Ambição e Guerra, cuja estreia em solo nacional ficou agendada para 24 de dezembro, espirrando coágulos pela tela. O argumento é fiel ao da peça homônima de Shakespeare: líder militar, Macbeth (Fassbender) volta do combate e é convencido por sua mulher (Marion) de que o rei é um fraco e precisa ser morto para que os dois governem, o que deflagra uma conspiração política e, depois, um surto de culpa em ambos.

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A releitura do diretor australiano adapta a lírica do bardo inglês para a língua dos fãs de Game of Thrones com cenas de ação sem medo da brutalidade. Exibida pela primeira vez no Festival de Cannes, em maio, em concurso pela Palma de Ouro, esta produção estimada em cerca de US$ 20 milhões - rodada na Escócia e no interior da Inglaterra - cindiu opiniões entre os críticos e lançou na Croisette uma campanha para o Oscar, sobretudo nos quesitos figurino e direção de arte.

“No fundo o que a gente fez foi um faroeste: é o herói de guerra que volta abalado para sua terra e encontra um rearranjo político em uma terra onde tudo é rude e tudo é assombrado pela Morte”, disse Kurzel em resposta ao Omelete em Cannes. “Quis tirar a dimensão mágica, que a peça trazia com a figura de bruxas, e me concentrar mais na imensidão de um mundo inóspito, grande o suficiente para engolir as pessoas com seus perigos, como são os westerns. E, em todo bom western, há, em algum lugar, uma história de amor trágica. A relação de Macbeth e sua mulher é uma love story, mais do que uma história de manipulação. Há uma dança entre ele e ela”.

Já envolvido com X-Men: Apocalypse enquanto encerrava os trabalhos com Kurzel, em sets assolados pelo frio da Escócia, Fassbender encarou o papel de Macbeth como o de um soldado assolado por traumas de front.

“A História está cheia de figuras que lutaram para manter seus reinos de pé e fizeram dessa luta algo maior do que suas vidas íntimas. Macbeth é assim. Os compromissos com a guerra impediram que vivesse a felicidade do amor por sua mulher. Seu trabalho é a guerra e esta deixa traumas. Meu personagem, muito inspirado pela versão de Macbeth feita pelo diretor Akira Kurosawa (chamada Trono Manchado de Sangue, lançada em 1957), é um homem que volta da batalha cheio de traumas e encontra sua casa em luto, pelo fato de ele e Lady Macbeth terem perdido seu filho”, explica Fassbender, indicado ao Globo de Ouro de melhor ator de drama, na última quinta-feira, por Steve Jobs.

Escalada para dar vida a um dos papéis mais disputados da história do teatro, o de Lady Macbeth, uma encarnação viva da maldade, Marion enxergava sua personagem de uma forma mais amena. E Kurzel comprou sua perspectiva.

“No fundo, essa peça fala sobre a incapacidade que temos de lidar com nossos medos, seja o medo da perda de um filho, seja o medo de se ver sem lugar em um mundo que você ajudou a criar. E Lady Macbeth tem ambos os medos”, disse a atriz francesa, cujo maior temor era não conseguir dar conta da musicalidade do inglês de Shakespeare. “Meu idioma de berço é outro, mas o teatro fala uma língua comum que atores de qualquer nacionalidade podem dominar. O desafio era achar intimidade com o inglês antigo que os personagens falam na peça e encontrar na maneira de ela dialogar um intimismo. Não se esqueça de que estamos diante de um casal que sofreu a maior das perdas. E o luto fez com que eles erguessem entre si uma barreira. Muitos entendem este muro de proteção como sendo loucura. Mas Kurzel, Michael e eu o entendemos como uma manifestação da dor”.

Fora Kurosawa, outros grandes cineastas como Orson Welles e Roman Polanski filmaram Macbeth. Houve até uma recente versão brasileira da peça para o cinema nacional: A Floresta Que se Move, de Vinícius Coimbra, com Ana Paula Arósio e Gabriel Braga Nunes. Mas Kurzel, conhecido pelo thriller Snowtown (2011), não quis se fiar em referências dos mestres do passado.

“Macbeth é um blockbuster teatral: a cada dia, em algum lugar do planeta, alguém encena esse texto, mesmo que numa montagem escolar. Portanto, é uma trama que soa muito familiar a quem ouve e ou vê. Se eu fosse me ater às influências de quem já a adaptou antes, eu faria algo muito marcado pela tradição, algo com discurso de outro tempo do cinema. Minha tarefa, como diretor, era encontrar em Macbeth a minha própria voz, respeitando as palavras de Shakespeare para mostrar a fragilidade humana por baixo de uma disputa de poder”, explicou o cineasta, que se motivou a repetir a parceria com seus dois protagonistas em Assassin’s Creed pela alquimia de ambos e por buscarem algo em comum, que também está em Shakespeare.

O interesse que todos compartilham quem explica é Fassbender: “Queremos mostrar que heróis já não são mais figuras absolutas. Fazer filmes como Macbeth é uma forma de escutar o que existe de mais instintivo nos homens”.

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