Filmes

Entrevista

Meu Amigo Hindu | "Fiz o meu melhor", diz Hector Babenco sobre o filme autobiográfico

Cineasta abre a Mostra de Cinema de SP nesta quarta com o relato de sua luta contra um linfoma

19.10.2015, às 19H11.

Protagonizado pelo ator americano Willem Dafoe em solo paulista, mas todo falado em inglês, com sotaque autobiográfico, o drama Meu Amigo Hindu, dirigido pelo argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, abre com timbre existencialista a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nesta quarta-feira, no Auditório Ibirapuera.

None

Fruto de experiências pessoais do cineasta durante a luta contra um linfoma, o longa-metragem integra um pacote de 312 filmes, incluindo o ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes (Dheepan, O Refúgio, de Jacques Audiard) e o vencedor do Leão de Ouro de Veneza (Desde Allá, de Lorenzo Viegas). Nessa cartografia de diferentes estéticas mundiais, a produção pilotada por Babenco propõe uma reflexão sobre a sobrevivência (dos corpos, dos afetos) a partir do drama do diretor Diego (papel de Dafoe), que se vê às voltas com uma doença maligna.

"Foi fácil ver o Willem num papel próximo a mim, porque eu deixei de existir quando terminei o roteiro e comecei a filmar, deixando-o improvisar", diz Babenco ao Omelete. "Eu acredito no poder de invenção dos atores. Tudo o que eu faço é deixar que eles improvisem, criem, e depois eu recorto. Meu instrumento de trabalho é a tesoura. Com ela, eu recorto o que os atores me dão de melhor. Willem foi o ator que me disse 'sim' num momento em que todos os outros atores brasileiros a quem eu procurei para estrelar o filme não podiam fazer, por compromissos com novela ou peça. Em agosto do ano passado, ele me disse: 'Posso chegar no dia 23 de novembro e ficar até 15 de fevereiro'. Foi esse o prazo que eu tive. Foram menos de três meses para ensaiar e preparar tudo."

Indicado ao Oscar de melhor diretor em 1986 por O Beijo da Mulher-Aranha e realizador de fenômenos nacionais de bilheteria como Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) e Carandiru (2003), Babenco não filmava um longa desde 2007, quando lançou O Passado, estrelado pelo mexicano Gael García Bernal. Rodou apenas um curta: O Homem Que Roubou um Pato, para o longa em episódios Words With Gods (2014).

No seu regresso às telas, Babenco revê a relação que teve, durante o tratamento de seu linfoma nos EUA, com um garotinho de origem hindu. "Fazer um filme é sempre um processo penoso, até doloroso, pelo esforço físico exigido. Mas a euforia quase histérica de ter conseguido representar tudo o que estava escrito no roteiro a partir da minha visão pessoal é um prazer único. Eu queria morrer dirigindo uma cena", diz o cineasta.

Estão em cena nomes como Maria Fernanda Cândido, Guilherme Weber, Maitê Proença, Dan Stulbach e Reynaldo Gianecchini, que interpreta o médico responsável por ajudar Diego a superar sua moléstia. Já Selton Mello aparece em Meu Amigo Hindu como uma figura enigmática. Mulher do cineasta, a atriz Bárbara Paz registrou detalhes da experiência em um making of do longa, que também será exibido na Mostra. Ela prepara, em paralelo, um documentário sobre a trajetória do cineasta.

"O [diretor Francis Ford] Coppola uma vez me disse: 'Não importa quantos filmes a gente faz. O importante mesmo é ter feito algumas imagens em um filme que ficaram para sempre'. Fiz o meu melhor", diz Babenco, que lembra o amigo Leon Cakoff, o idealizador da Mostra, morto em 2011. "Não vejo a morte como a ausência definitiva de alguém. As coisas boas que ele deixou, ficaram. A morte não faz a roda do mundo girar."

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.