Filmes

Entrevista

Omelete entrevista Tom DeSanto, o produtor de Transformers

Uma conversa com o produtor mais nerd de Hollywood

22.07.2007, às 00H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 21H03

Tom DeSanto é um nerd que deu certo em Hollywood. Dono de uma coleção de quase 40 mil gibis, ele produziu apenas cinco filmes em uma década, mas todos tiveram enorme impacto na comunidade dos fãs de quadrinhos, como X-Men, X-Men 2 e o mais recente, Transformers. Nesta entrevista ele comenta o início de carreira, o filme dos robôs da Hasbro, City of Heroes e mais... confira!

O filme está sendo muito bem aceito e você foi um dos primeiros a acreditar nele. Dá aquela sensação de "eu te disse"?

transformers

None

1

None

2

None

3

None

Tom DeSanto: Olha, no momento me sinto como a criança mais sortuda da loja de doces. Eu sou de Nova Jersey, não da Hollywood. Ou seja, vim do lugar mais distante possível de lá. E conseguir fazer esse filme, que é algo que eu queria ver desde que era um moleque... é sensacional. E quer saber? A realidade está sendo muito melhor do que qualquer um dos sonhos que tive com esse filmes quando tinha 14 ou 15 anos, nas aulas de geometria! Conseguimos uma equipe dos sonhos para a produção, Steven Spielberg, Michael Bay, Bob e Alex (Roberto Orci e Alex Kurtzman)... que conseguiram algo sensacional. Foi ótimo ver as pessoas saindo do cinema com sorrisos nos seus rostos. O filme é definitivamente uma homenagem aos clássicos oitentistas de Spielberg.

Sim, tem toda aquela ambientação suburbana...

Desde o começo a idéia era essa, trazer de volta aquele estilo de filme de ação, que te faz esquecer da vida durante umas duas horas e simplesmente se divertir. E Steven foi o cara que fez esse filme acontecer. Quando éramos só eu e Don Murphy andando por Hollywood com o projeto debaixo do braço só ouvimos respostas negativas. Incluindo a Paramount e a Dreamworks. Mas aí, algumas semanas depois de todo mundo ter recusado o filme, liguei pra Michael De Luca [presidente de produção da Dreamworks] pra insistir novamente. E ele me disse que simplesmente não entendia o conceito. E aí entendi que era um problema de idade. Quem tem mais de 38 anos não entende os Transformers. "Robôs gigantes? E você se importa com eles?". E aí eu disse a ele que perguntasse para todas as pessoas mais jovens da empresa o que eles achariam de um filme dos Transformers. Algumas horas depois ele me ligou de volta e disse "ok, me mande o projeto que vou passá-lo pro Steven". E eu "Steven... Spielberg?". Ehehehehe. Uma semana depois, era véspera de Natal e tive meu melhor presente de todos os tempos... Michael me ligou e disse que Steven queria fazer o filme.

A presença dele deve ter chacoalhado um pouco as coisas...

Sim, foi só ele subir a bordo que todo mundo começou a me ligar querendo participar. Ahahahahaha. Mas foi ótimo, porque voltamos à Paramount e eles aceitaram cuidar da distribuição, porque já tinham um relacionamento prévio com a DreamWorks.

Quando ele assumiu a produção executiva sugeriu algumas mudanças?

A idéia inicial desde o princípio era ter dois adolescentes no meio da guerra entre Autobots e Decepticons, e queríamos duas equipes antagonistas, algo bem dentro dos filmes de quadrinhos como X-Men, e lembrando Sete Homens e Um Destino - com a idéia de que os vilões são mais fortes e só uma união de forças pode vencê-los. Mas em determinado ponto começou uma conversa dentro do estúdio de restringir o número de robôs para um bom e um mau... aí fizemos uma reunião na Amblin (empresa de Spielberg) e ele entrou dizendo "sabe, não gosto dessa idéia de dois robôs. Penso nesse filme como Os Sete Samurais". Ou seja, ele não apenas entendeu completamente a nossa idéia como a melhorou, buscando referências ainda melhores, a versão de Kurosawa e não a refilmagem... a partir daí ficaram todos os robôs e pudemos desenvolvê-los com tranquilidade como líderes. Megatron como uma espécie de niilista, que vê a humanidade como insetos. E o Líder Optimus como uma forma de vida evoluída, capaz de se sacrificar pelos humanos, já que ele vê em nós algo que foi perdido em seu próprio planeta. É pra isso, enfim, que as pessoas vão ao cinema, para se importar com algum dos personagens. Claro, vêem os efeitos especiais, têm a diversão, mas no final é a empatia dos personagens que faz um filme funcionar ou não.

Um filme ou mais...

Sim, deixamos várias sementes para continuações e esperamos que dê tudo certo para que Transformers vire uma série. Mas acho que vai acontecer... os personagens são sensacionais e Shia [LaBeouf] foi incrível. Jogou o filme nas costas e o carregou. É quase como se no começo do filme ele pegasse a sua mão e falasse "ok, você está pronto? Lá vamos nós!"

Chega a ser difícil imaginar o filme sem ele. Quando ele subiu a bordo?

Nós fizemos a seleção de elenco de dentro pra fora. Primeiro os mais importantes e daí em diante. Então, ele foi o primeiro a ser contratado. Eu tinha visto o trabalho nele em The Guide to Recognize Your Saints e fiquei boquiaberto. Eu só lembrava dele de Mano a Mana, aquele programa de crianças. Shia tem uma energia única, uma vibração juvenil meio Tom Hanks, mas ao mesmo tempo um peso dos atores nova-iorquinos, tipo Al Pacino, DeNiro... e quer saber? Ele não brinca em serviço. Ele é brilhante e mal posso esperar para vê-lo em Indiana Jones, ao lado de Harrison Ford.

Fale um pouco sobre a masturbação. Ahahaha.

Bom, homens pensam o tempo todo nisso. Ahahahahaha.

Falando sério, aquela cena é toda improvisada. Os atores começaram seguindo o roteiro, que era meio bobo, totalmente estadunidense em relação ao sexo. A mãe dizia "Eu achei que ele estivesse se mas..." e ela mesma se cortava. E aí Michael Bay soltou as amarras deles e foi mágico. À noite, quando vi os copiões nem acreditei. Era engraçadíssimo. O estúdio ficou meio preocupado com a insinuação sexual, mas acabou aceitando porque a cena é tão leve, tão sincera e bem-humorada.

O que está acontecendo no momento com City of Heroes?

A nossa estratégia com City of Heroes é a mesma que empregamos em Transformers. Desenvolvemos o projeto e vamos apresentá-lo aos estúdios em julho. É uma aventura enorme, épica, cuja melhor descrição é os "X-Men em Independence Day". Sou um fanboy assumido. X-Men, Galactica, Transformers... todos os bonequinhos da minha estante estão se tornando reais.

Eu não tenho nenhuma intenção de crescer. Sou meio Peter Pan. Você devia ver meu escritório, parece uma loja de brinquedos. Os "adultos" que entram lá acham estranho, não entendem nada. Quando entram crianças lá... ficam "aaaaaaaah". Olha, tenho muito orgulho desses filmes. Tenho 35 mil gibis em casa. Bom, metade está na casa do meu pai. E vira e mexe minha mãe me liga: "eles ainda estão aqui..."

Minha mãe faz a mesma coisa.

Ahahahaha, você me entende. Quando eu era moleque corria de volta pra casa depois da educação física e ia jogar Dungeons & Dragons. Aquela mesma imaginação, brincar de RPG, ainda é importante pra mim hoje. Sabe, acho que nós temos a mania de arruinar os sonhos das crianças em determinado momento. "Pare de sonhar acordado!", mas sonhar acordado é ótimo!

Ok, pra quem ganha a vida fazendo isso é legal sim...

Ah, mas eu comecei minha vida profissional como caixa de supermercado. Trabalhei lá durante 8 anos e um dia me chamaram pra ser gerente de uma loja no Texas. Era uma grana boa. Mas fui pra casa e no outro dia pedi demissão. Poucas semanas depois estava morando em Los Angeles. Los Angeles pra quem é de Nova Jersey é tipo Oz, e quando fui pra lá caí na real. O meu primeiro ano foi dificílimo, quase voltei pra casa. Mas arrumei um emprego na NBC e as coisas foram se acertando.

Você tem hoje uma bela reputação como alguém que pega esses projetos desacreditados e os transforma em projetos lucrativos...

Poisé. É interessante que, com X-Men, por exemplo, a Marvel estava à beira da falência. Batman & Robin havia saído há poucas semanas e o gênero de super-heróis estava totalmente em colapso. Ninguém queria fazer filmes com eles. E eu andando por Hollywood tentando vender a idéia de um cara com garras, uma mulher que controla o clima... mas o filme acabou saindo e foi um sucesso. Você pode até pensar que isso muda as coisas pra mim, mas dá meio na mesma. Quando comecei a levar o projeto de Battlestar Galactica por aí foi a mesma coisa. Ninguém queria saber. E Transformers idem...

Quando eu tenho que escrever sobre algo que é importante pra mim, muitas vezes travo - ou levo o triplo de tempo. Como você encara esses desafios? Pegar esses produtos que você ama e levá-los a um novo patamar?

É uma questão de análise imparcial. Quando começo a pensar em alguma nova produção, primeiro revejo tudo o que já existe desse universo. Todos os desenhos animados, releio os gibis, vejo os filmes... e tenho que ser meio duro - "isso é bom, isso não é". Esse exercício dá um bom ponto de partida. Depois, é necessário tentar entender porque certas coisas funcionam tão bem e outras não... captar a essência da franquia e manter-se fiel a ela. Ao mesmo tempo, sem amarrar demais a criação, para que os cineastas não fiquem totalmente presos, sem espaço para sua própria visão. Sabe, às vezes, quando Hollywood consegue os direitos para essas franquias, entrega os projetos a pessoas que não conhecem esses universos e jamais serão capazes de entender a mágica que há neles. É importante que todos que trabalham nesses projetos façam esse exercício. O resultado dificilmente dá errado. Pra mim, sempre sai melhor do que imaginei.

É importante ter fãs, então. E os fãs de fora da indústria?

Eles são muito importantes e é preciso ouvi-los, saber o que eles têm a dizer. Eles são apaixonados por esses universos, lembram-se de coisas que ninguém mais lembra, e só se preocupam com o bem da franquia. Tudo o que eles querem é que você não destrua aquela série. Nós sempre discutimos em reuniões algumas das reações online.

E a Hasbro, apoiou bastante o filme?

Eles nos lembravam constantemente da importância da série pra eles, mas foram muito flexíveis. Deram toda a liberdade para que fizéssemos o filme que queríamos fazer. Não se preocuparam com nenhuma das mudanças, como alterar Bumblebee de um Fusca para um Camaro. O importante pra eles era que a personalidade dele continuasse a mesma da mitologia estabelecida.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.